31 de julho de 2025
OPINIÃO

A saída orçamentária da crise

Objetivamente, o mais grave disso tudo é a discussão sobre a meta fiscal de 2015. Quem acompanha o jogo político em Brasília, sabe que Dilma Rousseff, mesmo desarticulada e com algum fôlego face as fraquezas de Cunha, tem algum poder de articulação no Sen

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(Brasília-DF)  O final de novembro foi muito duro para os destinos dos projetos de centro esquerda na América Latina.

A derrota de Daniel Scioli, candidato do Kirchnerismo, para o oposicionista Maurício Macri na Argentina, que já assume no próximo dia 10 de dezembro, obrigando ações imediatas e tomadas de posição severas; o assassinato, no palanque, do secretário-geral do principal partido de oposição na Venezuela, Acción Democratica, que expôs a fragilidade da democracia naquele País sob o comando de Nicolas Maduro; a prisão do líder do governo da Presidente Dilma no Senado, senador Delcídio Amaral(PT-MS), e do banqueiro que mais cresceu nos anos do PT no poder, André Esteves, do BTG Pactual, deixou a todos perplexos.

É verdade que a América Latina tem outros governos de centro-esquerda - Tabaré Vasquez, no Uruguai, Michelle Bachelet, no Chile, e Evo Moralles, na Bolívia. No geral, não estão mal. É verdade que  há, tanto no Uruguai como no Chile, projetos que não são considerados populistas tradicionais, clássicos.  Na Bolívia, Moralles vem tendo êxito contando com políticas populistas que devem se esgotar em breve, mas não se esgotaram.

A crise brasileira – ética, econômica e política - vem sendo comandada pelos movimentos vindos da Justiça. A semana que passou estava programada para ser a mais difícil vivida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha(PMDB-RJ), que perde apoio a cada momento frente a sua exposição ética, com mentiras e enfrentamentos. Para sua (breve)felicidade, Cunha começou a semana vendo prenso o senhor José Carlos Bumlai, no âmbito da  21ª fase da Operação Lava Jato, apelidada de “Passe Livre”. Após isso, a Polícia Federal, dentro da Lava Jato, prendeu, como já dissemos, o senador Delcídio Amaral e o banqueiro André Esteves. Cunha mais uma vez escapa de sua cronologia da agonia.  Câmara e Senado Federal ficaram paralisados.

Objetivamente, o mais grave disso tudo é a discussão sobre a meta fiscal de 2015. Quem acompanha o jogo político em Brasília, sabe que Dilma Rousseff, mesmo desarticulada e com algum fôlego face as fraquezas de Cunha, tem algum poder de articulação no Senado, que comanda as sessões do Congresso Nacional.  Com a saída de Delcídio, o Governo fica sem chão para articular nada nas duas Casas.  Antes de viajar para a Capital da França, Paris, por conta da Conferência sobre o Clima(COP21), Dilma Rousseff baixou decreto suspendendo o Orçamento 2015 em R$ 10 bilhões.

No Brasil, estamos acostumados a ver o Orçamento Federal como algo mítico. A famigerada palavra “contingenciamento” provavelmente só existe, entre os grandes países do G 20, por aqui.  Ficamos acostumados pelos anos de inflação. Os jovens que estudam a economia do passado e a de hoje devem ficar impressionados como tudo funcionava(?!). 

Independente de sermos por uma Estado mais forte, ou mais fraco, não resta dúvida que a questão orçamentária talvez seja o grande pacto social que se deve ter após as conquistas contra a desigualdade dos últimos anos.  Fala-se muito que o maior problema da democracia brasileira seja a corrupção, que o diga a recente pesquisa Datafolha, porém se tivermos um orçamento comprometido com o que foi pactuado poderemos ter menos margem para o jeitinho. O mau jeitinho brasileiro.

Boa semana a todos.

Por Genésio Araújo Jr, jornalista