ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Regina Sousa diz que TCU deu parecer político
Senadora do PT do Piauí cobra postura semelhante do Tribunal de Contas da União em relação às contas de outros presidentes da República
(Brasília-DF, 16/10/2015) Em entrevista a Política Real, a senadora Regina Sousa (PT-PI), afirma que existe oportunismo nas dificuldades que a presidenta Dilma Rousseff está enfrentando em seu governo. Acredita que os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) agiram de forma política na rejeição das contas do governo de 2014, por causa de irregularidades como as “pedaladas fiscais”, a “maquiagem” das contas públicas. Ex-secretária de Administração do Piauí, de 2003 a 2011, ela ocupou a vaga de senadora como suplente do atual governador do estado, Wellington Dias (PT), em janeiro deste ano.
No caso das “pedaladas”, ela relembra sua condição de funcionária do Banco do Brasil e pergunta por que nenhum outro presidente teve contas rejeitadas se a prática vem desde os anos 80, pelo menos. Por isso, a senadora argumenta que até aceitaria essa rejeição de agora se os casos anteriores também fossem investigados e recebessem pareceres semelhantes do TCU.
Resultado da eleição
Sobre impeachment, Regina Sousa afirma não ter dúvida de que se trata de um golpe que a oposição está querendo aplicar em Dilma Rousseff. Ela argumenta, como seus colegas petistas, que oposicionistas não se conformaram com o resultado da eleição no ano passado. E, por isso, estão ansiosos para tirar Dilma Rousseff da Presidência da República.
“Porque esses erros que eles apontam da Dilma, acontecem desde... Até falei, sou do Banco do Brasil. Sou funcionária. No meu tempo de sindicalista nos anos 80, a gente já denunciava o famoso saque a descoberto que o governo fazia. Mesmo que a conta não tivesse fundo, a chamada conta única, ele tinha poder para meter a mão e usar e usar para pagar coisas. Inclusive, aconteceram alguns escândalos na época”, afirma.
"Todo mundo é político"
“Então, por que só agora julgar? Então é política. Lá, todo mundo é político, todo mundo tem partido, todo mundo saiu de mandato. Muitos daqui, da Câmara. Então, eles escolheram a presidenta num momento de fragilidade pra isso. Porque precisaria ter julgado todos os outros. Se viesse e fizesse o julgamento de todos, chegasse nela, a gente aceitaria que não era política”, questiona.
Sobre a possibilidade de o Congresso Nacional rejeitar o parecer do TCU, Regina Sousa não arrisca uma previsão. Ela alega que a presidenta Dilma Rousseff está com popularidade em baixa e que também por não ter sido eleita junto com maioria parlamentar, poderá correr o risco de ter o parecer do tribunal aprovado pelo Poder Legislativo.
Oportunistas
“A gente sabe que algumas pessoas aproveitam as oportunidades para expressar suas reais intenções, suas reais convicções”, acusa, referindo-se especialmente às oposições. Há movimento golpista? Ela não vacila em responder que sim: “No momento em que você quer derrubar uma presidenta eleita legitimamente pelo voto popular, sem ela ter cometido crime, sem ela ter aprovado nenhum ato desonesto, sem ter feito nenhum ato desonesto, isso é golpe, né?”
Regina Sousa entende que a crise política está “inflando” a crise econômica, e que também é resultado da falta de maioria parlamentar de Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Sobre o escândalo da Petrobras, ela responde que a corrupção é cultural no país e que qualquer prefeitura não resistiria a uma investigação. Acha ainda que no caso da CPI do Carf (Conselhos Administrativos de Recursos Fiscais) só não há um escândalo ainda maior porque “não apareceu um petista lá”.
Honestidade de Dilma
A senadora defende a honestidade da presidenta Dilma Rousseff e garante que a Região Nordeste melhorou muito com os governos petistas. Cita como exemplo seu estado, o Piauí. Mas ressalva que neste momento, os recursos não estão indo para nenhuma região por causa da crise econômica que o país atravessa.
Leia a íntegra da entrevista
Por que a senhora diz que o Tribunal de Contas da União (TCU) age de forma política?
Porque esses erros que eles apontam da Dilma, acontecem desde... Até falei, sou do Banco do Brasil. Sou funcionária. No meu tempo de sindicalista nos anos 80, a gente já denunciava o famoso saque a descoberto que o governo fazia. Mesmo que a conta não tivesse fundo, a chamada conta única, ele tinha poder para meter a mão e usar e usar para pagar coisas. Inclusive, aconteceram alguns escândalos na época.
Então, por que só agora julgar? Então é política. Lá, todo mundo é político, todo mundo tem partido, todo mundo saiu de mandato. Muitos daqui, da Câmara. Então, eles escolheram a presidenta num momento de fragilidade pra isso. Porque precisaria ter julgado todos os outros. Se viesse e fizesse o julgamento de todos, chegasse nela, a gente aceitaria que não era política.
A senhora que o Congresso Nacional votará contra o parecer do TCU?
Olha, não dá pra gente dizer assim com certeza. Até por conta do momento. Se ela (Dilma Rousseff) com a popularidade em alta, certamente não. Ela está com a popularidade em baixa. A gente sabe que algumas pessoas aproveitam as oportunidades para expressar suas reais intenções, suas reais convicções. Então, pode ser que rejeite. Mas vai trabalhar para que não seja rejeitado.
Muitos governistas, especialmente parlamentares do PT, têm dito que existe um movimento golpista contra Dilma Rousseff. A senhora também acredita que haja um movimento com essa intenção de dar um golpe?
Olha, no momento em que você quer derrubar uma presidenta eleita legitimamente pelo voto popular, sem ela ter cometido crime, sem ela ter aprovado nenhum ato desonesto, sem ter feito nenhum ato desonesto, isso é golpe, né? Acho que a pessoa tem de esperar 2018 para disputar legitimamente a eleição. Então, se tivesse uma razão, de ela ter cometido atos de improbidade. A gente até aceitaria.
Mas ela é uma mulher honesta, até que se prove o contrário. Até hoje ninguém conseguiu provar nada contra a ela porque, quem tem a história que ela tem, certamente não fez nenhuma coisa malfeita como ela gosta de dizer. Então, é golpe por isso, né? É você querer antecipar um processo que só vai acontecer em 2018.
A que a senhora atribui essa dificuldade que o governo está enfrentando? Todo dia aparece uma confusão nova aqui, especialmente com o Congresso Nacional.
Olha, o que eu já disse. Primeiro assim, houve todo um... desde há dez anos que se abriu a perspectiva de se apurar as coisas neste país. Este país já teve muitos escândalos. Muita gente aqui que fala, enche o peito, já foi cassado, inclusive, como governador. Gente aqui que há foi presa por fraude em licitação. Tem muita gente aí.
Então... Só que naquele tempo não se apuravam as coisas. Tem processos aí rolando aos montes. Agora, de dez anos pra cá, se abriu esse espaço de liberdade para os órgãos de fiscalização de controle agirem. Então, a Polícia Federal é muito livre para fazer tudo. Então, é aquilo que eu digo. Como minha mãe gosta de dizer: “quem caça, acha”. Então, tem sempre algum lugar que...
Esses escândalos da Petrobras é porque foi só a Petrobras. Agora vai numa prefeitura que você vai encontrar as mesmas coisas. Obras superfaturadas... Isso é cultural neste país. E precisa realmente dar uma mexida. Eu espero que o resultado de tudo isso seja essa mexida nos hábitos político-administrativos. Mas não é uma coisa da Petrobras.
Agora, como o momento é de disputa, de muita disputa, aí se só se levanta isso. O próprio senador Ataídes (Oliveira, do PSDB do Tocantins), presidente da CPI do Carf, ele diz que a Lava Jato é fichinha na frente do Carf, na sonegação, dos sonegadores da Operação Zelotes.
Só que, eu perguntei inclusive no meu discurso, tem alguém preso? Teve uma delação premiada? Não. Ainda não acharam um petista lá.
A senhora acha que se aparecer um petista vão investigar?
Aí, vão investigar a fundo. Aí, vai alguma coisa acontecer.
E essa crise econômica e política, senadora, vem de onde?
A Dilma foi eleita com minoria. Tudo mundo sabe disso. Ela não foi eleita com maioria de parlamentares. Então, quem não faz maioria no parlamento, já começa devendo, já começa fragilizado. Então, isso vem desde o final da eleição. Aí, teve a crise do petróleo, a crise da energia. Isso contribuiu pra inflamar a população. E a oposição, oportunisticamente, se aproveita disso.
Questão regional. O Nordeste está melhor com o PT?
Tá, sim. Muito. O Nordeste foi a região que mais cresceu no país e mudou completamente muita coisa. O Nordeste é outro hoje. Agora, está sofrendo as mesmas coisas que estamos sofrendo agora. E a crise a política, essa coisa que não anda, que não se vota as coisas. Então, essa crise é que infla a crise econômica. A crise econômica existe. Mas ela poderia ser menor se não tivesse essa disputa política ferrenha que nós temos aqui.
Ouvir senadores de oposição dizendo que não vai nada para o Nordeste...
Mas tem. O Nordeste... Quer dizer, agora não está indo nada pra ninguém. Mas antes já foi muito. Eu fui gestora de Estado no governo de 2003 a 2010, e agente fez muita coisa. O Piauí saiu... Deixou de ser o patinho feio, por exemplo.
A senhora acha que essa crise vai até quando? A senhora antevê uma saída?
É. A gente precisa... É aquela tal história. Tem de discutir muito. Porque a política econômica... Eu na minha opinião, acho equivocada algumas coisas. Alguns equívocos lá na equipe econômica que precisa acertar.
(Valdeci Rodrigues, especial para Política Real. Edição de Valdeci Rodrigues)