Dilma impõe recuos históricos
Tanto esforço na forma não tem correspondente com o conteúdo. Se o Governo terminasse hoje, mas, em tese, só finaliza em 31 de dezembro de 2018, poderíamos fazer uma grande contabilidade negativa
(Brasília-DF) Ninguém sabe qual o futuro do segundo governo da Presidenta Dilma. Quem fizer apostas neste sentido é, no mínimo, um imprevidente. Se é verdade o que dizem as próximas pesquisas a serem divulgadas existe um misto de decepção e raiva com o atual momento do Governo Federal e com sua gestão nacional. Isto se projeta para a figura da Presidenta apesar dela ter perseguido nos últimos meses a imagem da elegância, do bom humor e do rigor estético.
Tanto esforço na forma não tem correspondente com o conteúdo. Se o Governo terminasse hoje, mas, em tese, só finaliza em 31 de dezembro de 2018, poderíamos fazer uma grande contabilidade negativa. Dois pontos que chamam atenção são a perda da força da cultura social democrata no País e o enfraquecimento das políticas de gênero.
Num País que tanto precisa da presença do Estado fica cada dia mais evidente, ao observarmos os humores da sociedade, como as pessoas estão propensas à questão meritória, tipicamente liberal. Pessoas que receberam apoio de políticas públicas de inclusão como o Pronatec ou do Fies não reconhecem isso como fundamental. Eles vêm a questão meritória como mais importante. Isto é muito estranho.
O Brasil é comandado por uma mulher de perfil forte porém o País está na lanterna da representação feminina no Parlamento. Numa lista de 188 países, o Brasil ocupa a posição 156. O reflexo deste cenário é uma dificuldade de aprovar propostas que representem avanços em direitos sociais, como o que garante a equiparação salarial independente de gênero. Não é bom esquecer que a Presidenta é uma invenção política, não tem percurso parlamentar.
A previsão oficial de retração do PIB em 2015 é de 2,77% - em 12 meses foram desativados mais de 985 mil vagas. O cenário é muito ruim. Isto tem implicação imediata tanto sobre o modelo de Estado que precisamos ou como na questão de gênero. Fiz questão de abordar essas sonoras dificuldades do Governo Dilma, pois vão além de questões imediatas como as que estão na ordem do dia como o fim do Governo: Lula será ou não viável em 2018(?); a Lava Jato vai mudar a cara do Brasil((?); o PMDB manda ou não manda no Brasil(?); o PT vai ser esmagado(?); a oposição vai se achar em meio ao fiasco petista(?).
O Brasil está preparado para um governo liberal? O Brasil está convencido de que as mulheres não devem ter mais oportunidades como as que foram dadas para Dilma Rousseff? O inusitado, de fato, é uma virada liberal clássica. Não parece que os brasileiros estejam à busca do neoliberalismo e suas perfumarias. Isso passou. Nem entre os norte-americanos isto tem mais receptividade. O fracasso de mulheres na vida pública como de Maria Luiza Fontenele, no comando de Fortaleza(CE), e de Luiza Erundina em São Paulo(CE) impuseram um gap de 15 anos para se voltar a apostar em mulheres em postos chave no Executivo. Mesmo que leve até o final seu Governo, Dilma certamente entrará para a história como a gestora que comandou o pior momento de crescimento econômico após a Nova República.
Como abordamos no início, o Governo ainda não terminou, apesar do momento muito difícil. Crer numa reviravolta é cada vez menos crível, face ao perfil de gestão política e econômica da Presidenta. É lamentável mas, de cara, podemos dizer que a onda liberal e as perdas nas oportunidades de gênero já podem ser contabilizadas!
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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