A democracia é tão cruel quanto a autocracia
Os fundadores e mantenedores dos principais partidos políticos, que hoje parecem em frangalhos, são fiadores dessas conquistas. As manifestações de sexta-feira,13, e desse domingo, 15, só foram possíveis por conta das conquistas daqueles venturosos.
(Brasília-DF) Nesse domingo, 15 de março, completou-se 30 anos da posse da Nova República e o fim efetivo dos governos militares no Brasil. Estamos vivendo desde então o mais longo período democrático neste país desde quando a República Federativa Brasileira foi montada ao final do Século 19. Temos o que comemorar?! Claro que sim!
Os fundadores e mantenedores dos principais partidos políticos, que hoje parecem em frangalhos, são fiadores dessas conquistas. As manifestações de sexta-feira,13, e desse domingo, 15, só foram possíveis por conta das conquistas daqueles venturosos. Tanto PMDB, PT e o posterior PSDB. O PT não quis legitimar o processo pelo voto indireto que elegeu Tancredo Neves, mas apesar da questão objetiva ajudou, especialmente no Diretas Já, à chegada daquele momento. Hoje, os que se colocaram contrários aos eventos anti-governistas, precisamente contra a Presidenta Dilma desse domingo, são companheiros de quem deseja o retorno dos militares ao poder. É um grupo menor, mas apoiados pelos que desejavam o impedimento da Presidenta, eles acabam ganhando uma maior dimensão. A falta de cultura política se dá pelas dificuldades dos partidos políticos que foram os fundadores da Nova República.
Diz-se que neste período de 30 anos vivemos três momentos históricos. O retorno democrático, a estabilidade econômica e as conquistas sociais. Vivemos, atualmente, uma grave crise política turbinada pela crise econômica e pela grande incapacidade presidencial para gerar um conserto político mínimo. Os três principais momentos desse percurso de 30 anos foram pontificados por políticos-políticos(Sarney, Collor, Itamar e Lula), um político-sociólogo(FHC) e uma burocrata-economista(Dilma Rousseff).
A grave crise político-econômica que estamos vivendo e que fez com que se colocasse dúvidas sobre nossas conquistas democráticas se deram no momento em que deveríamos nos consagrar com uma alternativa hegeliana, onde, em nome das regra do jogo, aproveitando o percurso feito, aperfeiçoando a democracia e o capital em meio a meritocracia poderíamos avançar numa proposta social democrata - seria a burocracia hegeliana a nos legar.
Muitos vão dizer que a Presidenta Dilma Rousseff não é a referência hegeliana um dia imaginada por FHC e, na prática, montada por Lula no seu pacto de plutocratas e populacho, que tanto ciúme causou no sociólogo-presidente. Dilma vem insistindo nos seus erros, não nos deixando calar frente a tamanhos despautérios. A incapacidade da Presidenta para fazer política é uma demonstração clara de que a política é necessária e fundamental e que não basta uma bela história de vida e conquistas herdadas.
A tese de que a meritocracia é fundamental para o exercício da vida pública, um dia imaginado por Platão, sob a ótima do avanço do ser humano, tem seus limites neste Século 21. Tem gente que insiste em revogar a lei da gravidade em nome do que considera possível. A democracia quando nos pune parece mais cruel que nas autocracias.
Foi Genésio Araújo Jr, jornalista
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