ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Estádios do Nordeste custaram R$ 2 bilhões
Deputado Domingos Dutra questiona a utilidade dos quatro depois do mundial. Deputado Fernando Ferro defende os investimentos argumentando que o Brasil precisa modificar "a geografia" dos esportes
(Brasília-DF, 14/06/2014) Os quatro estádios do Nordeste que receberão 21 jogos das 64 partidas da Copa do Mundo de futebol tiveram um total de R$ 2,065 bilhões em aportes. E o valor aplicado é motivo de preocupação para o deputado Domingos Dutra (SDD-MA) quanto à utilidade dos novos estádios após a realização do mundial. Já o deputado Fernando Ferro (PT-PE) entende que o dinheiro usado na construção das arenas ajudará na diminuição das desigualdades regionais.
A maior parte dos recursos utilizada para erguer as quatro arenas nordestinas, R$ 1,322 bilhão, foi disponibilizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio de empréstimos aos governos estaduais. O restante, R$ 742,8 milhões, foi investido com recursos próprios dos governos da Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Os R$ 2,065 bilhões representam algo em torno de 25% do total investido (R$ 8 bilhões) na construção das 12 novas arenas para sediar, pela segunda vez em 64 anos, o torneio da Fifa no país.
Elevação dos custos
“O Brasil lutou para sediar a Copa depois de 64 anos. Foi vencedor. Portanto, tinha que ter uma estrutura para poder fazer esta Copa, principalmente, 64 anos depois. Os estádios são fundamentais, porque sem estádios não se faz a Copa. O que se questiona e tem sido motivo de protesto são os custos. Porque o Congresso flexibilizou toda a legislação de licitação para facilitar a construção. Mas mesmo com esta flexibilização há atraso em quase todas as obras. E a partir desta flexibilização, há suspeita de que houve uma elevação muito grande dos custos. Este é um ponto que a sociedade brasileira questiona”, diz Domingos Dutra.
Outras finalidades
“O segundo ponto é a utilidade que vai se dar a toda esta infraestrutura para a Copa, depois que a Copa passar. E aí, como eu não tenho conhecimento, mas eu acho que o Nordeste, com exceção da Bahia e de Pernambuco que já têm um futebol mais adiantado, nos outros dois lugares, no Ceará e no Rio Grande do Norte, não há estrutura do futebol para ocupar só com jogos a estrutura do estádio que foi construída. E aí, eu espero que o Poder Público encontre outras finalidades para que estas estruturas caras não fiquem ali paralisadas se depreciando sem nenhuma utilidade para a sociedade”, argumentou Domingos Dutra.
Descentralização
“Eu não tenho dúvida que serão perfeitamente utilizadas e irão suprir uma lacuna que existe na região para grandes eventos esportivos e culturais. Essas arenas irão atender tranquilamente. Eu não vejo isso como nenhum problema. Até porque o Brasil precisa descentralizar mais essa geografia dos esportes, do futebol, que também refletem, de certa maneira, as desigualdades regionais. E a Copa do Mundo ajuda isso. A se fazer uma melhor distribuição espacial do futebol no Brasil”, falou Fernando Ferro.
Futebol, convenções e shows
“Primeiro porque o Nordeste faz parte do Brasil. Depois porque os times do Nordeste, inclusive, se for para a ponta do lápis, têm maiores presenças de torcidas nos campos de futebol. Em Pernambuco, no Ceará, no Maranhão, têm torcidas que são apaixonadas. Além do mais essas arenas não vão ser só espaços de jogos de futebol. Vão ser centros de convenção, de shows artísticos, como já estão acontecendo e estão programados”, acrescentou Fernando Ferro.
Discurso da presidenta
Os dois parlamentares também repercutiram o discurso da presidenta Dilma Rousseff da última terça-feira, 10, em que ela fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV falando da importância do Brasil sediar pela segunda vez a Copa do Mundo. Domingos Dutra reconheceu o esforço do governo em aumentar, cada vez mais, as verbas para educação e saúde. Mas alertou que o país precisa impedir a corrupção e o desperdício. Fernando Ferro falou da dificuldade de promover políticas públicas num país de 200 milhões de pessoas.
Na oportunidade, Dilma garantiu que para receber os jogos da Copa foram investidos R$ 8 bilhões nos novos estádios. Mas que os investimentos em educação e saúde, no mesmo período, não foram desfalcados. Ela chamou a atenção de que desde 2007, quando o país foi contemplado para se preparar para sediar o torneio da Fifa, R$ 1,37 trilhão foram aplicados em educação e saúde para melhorar o atendimento à população nos dois serviços.
Insuficientes
“Eu acho que os gastos em saúde e educação têm se elevado nos últimos tempos. Mas a elevação dos recursos não foi suficiente para garantir à população brasileira uma educação e saúde de qualidade. A educação teve até uma melhora significativa. Mas na saúde ainda falta muito”, comentou Domingos Dutra.
“O próprio governo ao criar o Mais Médicos para garantir médicos nos municípios mais pobres já confessa que a saúde no país é precária. Portanto, é preciso elevar os recursos, mas é preciso diminuir o desperdício, evitar a corrupção, criar um padrão mínimo que unifique (os serviços em) todos os estados. Porque cada estado tem uma visão”, comentou o deputado.
Recuperando o país
“Na verdade nós somos uma nação de 200 milhões de habitantes com problemas acumulados, crise social, desigualdade de renda. Nós estamos recuperando isto e o país, neste período do presidente Lula e da presidente Dilma, deu maior prioridade de investimentos em saúde e em educação, que foram extremamente aumentados. Aprovamos recentemente o PNE (Plano Nacional da Educação), os royalties (do petróleo) para a educação”, avaliou Fernando Ferro.
Sem complexo de vira-lata
“Ou seja, nós vamos ter recursos para investir (ainda mais) nestas áreas para atender reclamos e necessidades do nosso desenvolvimento. O Brasil tem que investir seriamente em educação, ciência e tecnologia para qualificar esse crescimento e transformar em desenvolvimento. E não se dá para comparar isso (estádios para a Copa), se é um ou o outro (dinheiro para educação e saúde). São as duas coisas. Um país grande como o nosso que tem condições de realizar uma Copa do Mundo não pode ter este complexo de vira-lata”, argumentou Fernando Ferro.
Investimentos feitos
A Arena das Dunas de Natal (RN) que já recebeu nesta última sexta-feira, 13, a partida entre as seleções de Camarões e do México custou, ao todo, R$ 423 milhões. Destes, R$ 250,5 milhões foram emprestados pelo BNDES. A Arena Castelão, de Fortaleza (CE), que recebe neste sábado, 14, a partida entre os selecionados da Costa Rica e do Uruguai, custou R$ 518,6 milhões. R$ 351 milhões do BNDES.
A Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), que totalizou R$ 592 milhões em gastos na sua construção, já recebeu nesta sexta-feira, 13, o jogo entre Espanha e Holanda. O BNDES aportou R$ 323,6 milhões para concluir a obra. Por fim, a Arena Pernambuco que recebe neste sábado, 14, a partida entre Costa do Marfim e Japão, teve suas obras avaliadas em R$ 532 milhões. O BNDES financiou R$ 397,1 milhões.
(Por Humberto Azevedo, especial para a Agência Política Real, com edição de Valdeci Rodrigues)