ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Nordeste chegará perto do Centro-Sul em 15 anos
Sociólogo e professor Yago Euzébio Bueno de Paiva só ressalva que os indicadores sociais dessas regiões estarão próximos se as políticas públicas implementadas nas últimas décadas tiverem continuidade
(Brasília-DF, 30/05/2014) O sociólogo Yago Euzébio Bueno de Paiva apontou que os indicadores sociais registrados no Nordeste poderão estar mais próximos, em 15 anos, dos índices encontrados nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Mas ele sustenta que isso só poderá ser atingido com a manutenção dos programas sociais, como Bolsa Família, combinados com investimentos cada vez maiores em educação.
O acadêmico deu a declaração após ser questionado pela reportagem da Política Real se apenas os programas de assistência social podem reverter o atual cenário retratado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) que apurou, em 2010, que 30,39% dos brasileiros mais pobres estão localizados no Nordeste. Este percentual representa cerca de 16,1 milhões habitantes. Os dados fazem parte do livro “O Brasil e o mundo em dados comparativos”, do deputado Júlio César (PSD-PI), lançado no último dia 21 de maio.
Continuidade das políticas públicas
Entretanto, o professor Yago Euzébio, que tem formação acadêmica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ressalta que as diferenças sociais entre o Norte-Nordeste e o Centro-Sul só serão diminuídas caso as políticas públicas implementadas nas últimas décadas, sobretudo a partir de 2003 com o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tenham continuidade.
De acordo com o IBGE, 28,74% da população pobre do país são encontrados no Norte do país. Aproximadamente 4,5 milhões de brasileiros. Enquanto isso, no Sul do Brasil, o IBGE estima que 5,78%, algo em torno de 1,6 milhões de habitantes, estejam entre os mais pobres. Os pobres na região Sudeste representam 6,92%, quase 5,6 milhões dos brasileiros. No Centro-Oeste, a estimativa é 8,14% ou em torno de 1,1 milhão de habitantes são pobres.
Assistência social e educação
“O programa Bolsa Família, no meu ponto de vista, é um programa espetacular, pois supre, de alguma forma, as necessidades mais elementares. Isso foi um ganho? Sim. Mas, é óbvio que um programa de cunho eminentemente assistencialista, não pode ser a solução para as dificuldades da população mais sofrida do país. Acredito que outra ação fundamental do governo federal foi a ampliação do número de universidades federais e a criação das escolas técnicas federais em todo o interior do Brasil, em especial, na região Norte e Nordeste”, falou.
“O governo federal não tem medido esforços para alavancar a modernização da infraestrutura do Norte e Nordeste e a população dessas regiões do país percebem esses esforços, pelas pesquisas que dão uma larga margem para a presidenta Dilma nessas regiões. Não houve em nenhuma época de nossa história tantos investimentos como nos últimos 12 anos para o Norte e Nordeste do país. Há, em certo sentido, uma prioridade na distribuição de recursos para os Estados do Norte e Nordeste do Brasil”, continuou.
Caminho certo
Autor do livro “Sociologia do Pau Brasil”, Yago Euzébio sustenta que essas ações do governo federal de “política de inclusão social e proliferação de escolas federais configuram um excelente início de caminho para a resolução das graves desigualdades de rendas para essas regiões importantíssimas do Brasil”. “Acho que o governo está cumprindo o seu papel”, complementou.
“É difícil falar em prazos, pois a economia tem uma dinâmica que obscurece, não raras vezes, uma previsão. Os resultados plantados agora com a criação das Universidades Federais e Escolas Federais Técnicas, tem aí um prazo de dez anos para começar dar seus primeiros resultados. Eu entendo que se tudo continuar como está, se os investimentos estiverem sempre sendo aumentados, a modernização da infraestrutura sempre estiver na ordem do dia, com a respectiva ampliação da industrialização podemos esperar que num prazo de 10 a 15 anos os índices possam ficar bem próximos dos índices do Sul”, acrescentou.
Investimentos em biomassa
O sociólogo aposta também que a produção de biocombustíveis no Nordeste utilizando os inúmeros recursos de biomassa encontrados em vários Estados nordestinos como o bagaço da cana-de-açúcar, babaçu, mamona, dentre outras plantas oleaginosas tipicamente do semiárido, acelere o desenvolvimento da região.
“Repito o que já disse e acrescentaria uma ação que eu reputo da mais importante dada a potencialidade que o Norte e o Nordeste têm que seria a produção de biomassa. Acredito que os investimentos em pesquisa e produção de biocombustíveis dariam uma acelerada no processo de desenvolvimento da região”, finalizou.
(Por Humberto Azevedo, especial para Agência Política Real, com edição de Valdeci Rodrigues)