31 de julho de 2025

As Manifestações e o Nordeste

A coluna de Genésio Junior é publicada todos os domingos neste espaço

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(Brasília-DF) A onda de protestos que tomou de conta do país na última semana chegou firme ao Nordeste.  Esta é a região do país que mais aprova o governo federal, prefere a reeleição da Presidenta Dilma e foi a que mais cresceu e ganhou, mal ou bem, nos anos do Governo Lula.

Por que essa gente se manifesta no mesmo nível de insatisfação de outras regiões do país, notoriamente menos, convencidas dos ganhos dos últimos anos?  O jornal “El País”, a mais importante publicação em língua espanhola do planeta, disse que nossa revolta é esquizofrênica, destacando esses ganhos, porém reconhecendo o que se vê nas ruas: as pessoas querem mais do que vem recebendo.

É inegável que nas manifestações no Sudeste, e aqui em Brasília, os jovens são em sua maioria de classe média, filhos da tradicional classe média brasileira, com alguns jovens vindos das novas classes médias, ou subproletariado. No Nordeste, pelas informações que chegam que ainda não são fruto de pesquisas cientificas, são, em sua maioria, de jovens da nova classe média, ou subprotelatiado, com alguns momentos de maior densidade da velha classe média.

No geral, vemos que o grosso das demandas mira o avanço da presença do Estado com serviços de qualidade. As grandes publicações internacionais vêm divulgando - como a “The Economist” e o “Finantial Times” – que o sonho brasileiro acabou e que o populismo não tem condições de oferecer serviços a essa gente, pois não tem poupança para tal.  

Um grande dilema. O povo reclama da corrupção ao destacar receios com os políticos e com a aprovação da PEC 37, mas na prática pede mais presença do Estado, os serviços públicos.  Por outro lado o capital pede mais responsabilidade com as contas públicas. Isso não vai dar certo!

É inegável que isso tudo se dá num momento em que o capitalismo ainda tenta entender sua crise.  Como os ricos podem falar de equilíbrio de contas públicas no Brasil esquecendo que eles têm escombros para cuidar!?  No Nordeste, não precisa ser cientista político, nem jornalista afinado com o que de mais inteligente existe - para reconhecer que precisamos de mais Estado, ponto!

Como iremos dar conta disso?! Na sexta-feira, a Presidenta Dilma, em pronunciamento à nação, nitidamente acuada, basta ver o improviso da fala – disse que tínhamos que fazer um amplo pacto, um plano de mobilidade, médicos estrangeiros no país, usar os recursos do pré-sal na educação e fazer reforma política.  Algumas coisas já em curso, mal feitas, e outras que dependem do Congresso. Uma fala respeitosa, mas nada de novo.   As pautas dos protestos vão se esvaziando, pois além da saída do Movimento Passe Livre, com medo da direita, a PEC 37 deve ser esquecida e a Copa das Confederações termina no domingo, então virão as férias de julho.

Não tenham dúvidas que apesar dos naturais freios isto continuará.

Ainda sobre o Nordeste, as matérias do jornal do momento no mundo, como o londrino, e nada direitona, The Guardian mostrando Fortaleza como a quinta mais desigual do Mundo e publicações do Uruguai mostrando Recife como um caos de trânsito e de urbanidade,  replicadas no Mundo, são o outro lado da visibilidade dessas manifestações e funcionam como um efeito bumerangue para uma das joias econômicas do Nordeste: o turismo

O problema é de todos. O que virá do Nordeste ainda dever ser mais surpreendente.

Por Genésio Araújo Jr, é jornalista

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