A doença de Lula e nossos achados
A coluna de Genésio Araújo Jr é publicada todos os domingos, aqui
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( Brasília-DF) O anúncio da doença do ex-presidente Lula é um duro golpe naqueles que achavam que a democracia e a república, por algum momento, poderiam se transformar em monarquia absoluta.
Alguns políticos acreditam que o Fator Lula é tão impactante na moderna política brasileira que não restaria outra saída a não ser torcer que a Presidente Dilma rompesse com o ex-presidente e mentor, para alguns, ou que restaria aguardar o retorno do autor do “ dedazo”. O povo, ah, o povo, estaria pronto para o que Lula quisesse! Difícil crer que o homem público mais popular deste país nos últimos sessenta anos, pudesse deixar de ter o que pedisse ao povo. O anúncio de que tem um câncer e que começará o tratamento nesse último dia de outubro abalou.
Nada mais simbólico que o sapo que virou um bruxo brasileiro, e mundial, da política tenha sido tocado pela “ doença” no dia das bruxas( 28-diagnóstico, 29-anúncio, 31 -início do tratamento).
A política nada mais é do que o exercício da busca do poder. O poder moderno não se encerra mais na figura do poderoso, mas de sua capacidade de gerar uma geração de poder. Lula, quando em seus piores momentos, ou na iminência da mudança de guarda, era visto por alguns, especialmente seus críticos, como um ídolo de barro que seria esquecido na primeira tormenta que revelaria novos ungidos.
A verdade é cheia de idas e vindas. Não é um roteiro redondo, não é um filmão do velho David O. Selznick - está mais para Win Wenders. Se José Serra tivesse vencido falaria de irresponsabilidade fiscal face aos iminentes cortes pós ano eleitoral. Faria de tudo para desmontar o barbudo, mas teria em seguida de manter uma cartilha fiscal e monetária muito parecida com a atual e tendo que ouvir que para lidar com a atual crise mundial teria que fazer algo parecido com o que Lula fez em 2008/2009. O santo, de fato, não é de barro apesar de não ter nada de santo. Lula já fará falta nessas eleições municipais. Em várias disputas, dentro do PT, como em Fortaleza e Recife, contavam com sua intermediação enfática. O PT deseja controlar como puder o poderoso Eduardo Campos. Nessas cidades o PT poderia, e pode, fazer a diferença.
Lula não é brinquedo não. Os médicos já estão anunciando que existe uma forte possibilidade de cura, porém os próximos dias e meses serão de cuidado extremo - dedicação e zelo à saúde, nada mais. Lula é um animal político voraz e insaciável. O PT é extremamente depende dele, mas é um partido absolutamente envolvido com a sociedade brasileira. Não pode, e nem deve, achar que a luta pela democracia e a república poderia virar uma conquista soberana. A soberania é popular.
Os adversários de Lula não festejem antes da hora. A política e o Imponderável de Almeida têm suas razões.
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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