Desafios moralistas, nordestinos e nacionais
A coluna de Genésio Araújo Jr é publicada todos os domingos, aqui
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( Brasília-DF) Venhamos e convenhamos, este país é sensacional! Nessa quarta-feira - 7 de setembro - os generais, brigadeiros e almirantes brasileiros vão prestar continência a chefe maior das Forças Armadas, Chefe de Governo e Estado Dilma Rousseff. Tenho que confessar, como todo jornalista que pretende se manter sempre crítico – até porque sou pago pela sociedade para tal fim – que não é fácil ter que reconhecer isto. É maravilhoso um país em que uma ex-guerrilheira, como chefe do poder democrático, é reconhecida pelo poder militar formado na tradição americana.
Muita gente diz que nossa democracia é capenga e juvenil. Os pobres não entendem muito bem isso - a não ser quando estão consumindo; a classe média, moralista, se move na aparência do que na gênese – enquanto isso, os muitos ricos, cínicos como de hábito, só vêm oportunidades. O Congresso do PT, nesse fim de semana, não destacou assuntos como esse ou a decisão de se avançar( reduzindo) sobre os juros. Isso é a cara do novo Brasil que caminha, com data marcada, para ser um dos gestores do Planeta. Talvez a preocupação com a imprensa tenha feito perder este códão.
O grande mérito do Brasil frente aos outros Brics é o fato de sermos uma democracia sofisticada, única, mas jovem - daí o genial. A decisão de reduzir juros neste país tem uma força histórica muita grande. Mexe com política monetária profunda. Não é bom esquecer que o Brasil, o Estado, se financia com seus juros, Se mais gente aceita nossos juros e se mais arrecadamos mais pagamos nossas contas com a poupança alheia. Sei que o assunto não é fácil para muita gente, mas até aqui não foi bicho de sete cabeças. Nós do Nordeste temos tudo para viver um bom período com isso. Os estudiosos nacionais dizem que o Nordeste além dos investimentos que vem recebendo tem o fator população jovem - maior que a da maioria das outras regiões do país - para dar conta da tarefa. Nesta semana, o Presidente do BNDES, o pernambucano, mas nada fácil, Luciano Coutinho, disse que o Nordeste vai receber mais nos próximos anos que as outras regiões, principalmente Sudeste-Sul.
O discurso da Presidenta Dilma no evento de abertura do 4º Congresso do PT foi, talvez, o melhor. Entre outras coisas, ela disse que o PT com sua força e sua solidariedade(!?) não poderia deixar de cuidar da nova classe média. Antes de começar este governo tratei disso, tanto aqui como na agência Política Real. Esta classe média que veio ao mundo nos últimos 8 anos não tem raiz etnográfica. Etnografia é parte da antropologia cultural que estuda a formação de um povo, ou de uma parte deste povo. A classe média que está aí é formada pelo consumismo arcado por um avanço na renda. A pequena burguesia é outra. A classe média tradicional é formada por gerações de pessoas que também vinham da classe média. Valores de classe média não surgem de um dia para o outro, não dá para fazer em 8 anos, mesmo se sabendo que as gerações já não duram mais 20 anos. Dilma agora não esconde que deseja tributos para bancar uma saúde publica melhor para essa classe média. O argumento dela para que atenda essa nova classe média na questão da saúde é pertinente.
O que não ajuda é o receio pertinente, da velha classe média moralista e que paga impostos neste país – de que a dinheirama vá ser usada para pagar conta de uísque em solenidade oficial.
Bem, apesar de tudo, essa nossa democracia é um espanto!
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Jr é jornalista.
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