31 de julho de 2025

As escolhas de Dilma e Itamar

A coluna de Genésio Junior é publicada todos os domingos

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(Brasília-DF) Teríamos uma bela oportunidade para, neste espaço, cuidar de avaliar os tantos e quantos motivos que a política real tem para apreciar, pela vertente nordestina, a decisão da Presidenta Dilma, especialmente, de reconhecer que tinha que atender os congressistas na prorrogação por mais 90 dias as emendas parlamentares de 2009.
 
A “vitória” do líder do PMDB, na Câmara, Henrique Eduardo Alves(RN), face tal decisão por ser o mais veemente crítico, “dentro do Governo”, da postura acalentada pelo Palácio do Planalto de confirmar o cancelamento dessas tais emendas – chama atenção. Não custa lembrar como aquela posição, se confirmada, poderia gerar uma grave crise na base aliada. Para você, caro leitor, ter uma dimensão do que isso representa, existe um marco histórico do “Mensalão” no primeiro mandado do Presidente Lula. Teria começado justo quando o então ministro Antonio Palocci, da Fazenda, decidiu aumentar o superávit primário/PIB de 3,25% para 4,25%. Na época, as emendas eram de R$ 1,5 milhão e hoje são de R$ 13 milhões. 
 
Além disso, não dá para deixar de acusar o aumento da força da bancada do Sul sobre os nordestinos. O novo líder do Governo no Congresso Nacional é o deputado Mendes Ribeiro(PMDB-RS). Outro sulista. Dilma mais uma vez prestigia os políticos da região onde foi derrotada nas eleições do ano passado. Dava para escrever muito sobre os poderosos e suas escolhas, mas a morte do senador e ex-presidente da Republica, Itamar Franco - aos 81 anos no hospital Albert Einstein, em São Paulo, face a uma pneumonia em conseqüência do tratamento que fazia contra uma leucemia é um marco nacional.
 
Itamar Franco nascido a bordo de um barco da linha ITA, em 1.930, que cruzava o Sudeste em direção do Nordeste, foi registrado em um cartório de Salvador, mas era homem da Zona da Mata mineira de Juiz de Fora. Não tinha nada de baiano, não tinha nada do jeito quase fluminense dos que vivem perto do fim Minas. Ele foi Presidente da República assumindo o comando do Brasil numa época única deste país, o impeachment do Presidente Collor de Melo, o primeiro presidente eleito por voto popular depois de 30 anos. De 1.992 a 1.995 vivemos momentos célebres neste país. Começamos a moldar as regras da normalidade democrática e econômica.
 
Itamar não parecia estar à altura daquele momento, não tinha o glamour centrista dos grandes políticos mineiros. Não tinha a cara da modernidade daqueles dias dos anos 90. Não parecia caber no tamanho da responsabilidade histórica. Seria bom que tivéssemos presidentes assim, sempre. Itamar deu conseqüência a tradição dos vices presidentes, conspirou, mas foi com ele que se iniciou a retomada do domínio paulista da política brasileira. Ele soube lidar como poucos com os políticos e o poder nordestino.
 
Ele foi um dos poucos que conseguiu administrar o Brasil sem a força de ACM e controlou o grupo de Sarney. Elevou os políticos cearenses, como Tasso Jereissati e Ciro Gomes, a outro nível. Controlou os pernambucanos.  Numa época em que o ajuste fiscal foi cerebral para a criação do Real, ficou marcado como um duro crítico da malversação, da corrupção. Era um conspirador como todos os mineiros no poder, ou fora dele, mas inegavelmente um homem digno.
 
Não será esquecido.
 
Eis o mistério da fé.
 
Por Genésio Araújo Jr, jornalista