Prestente de grego
A coluna de Rangel Cavalcante é publicada todos os domingos aqui e nos "Florida Review"e &
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(Brasília-DF) A saúde pública brasileira, que o cara garante ser excelente, chegou ao fundo do poço. Nunca na história deste país o cidadão teve que recorrer à Justiça para conseguir internamento num hospital. Aqui em Brasília o documento necessário a uma internação numa UTI é a liminar de um juiz. Que nem sempre chega a tempo, como ocorreu na semana passada, quando um cidadão morreu num hospital privado, a poucas quadras do gabinete do presidente da República, porque seu estado agravou-se enquanto esperava pela liminar do juiz, depois de recusado no superlotado Hospital de Base, o maior da capital do país, para ser internado numa instituição privada. No mesmo Hospital de Base um aviso da Diretoria dá conta de que falta esparadrapo, agulhas, luvas, cateter, lâminas para bisturi etc. E avisa aos médicos que se iniciarem qualquer cirurgia já sabem que não esse material está em falta. Esse grande hospital só tem 40 leitos de UTI, sendo 12 de pediatria, para uma população de 2,5 milhões. E lá se registram roubos de equipamentos e remédios. Metade das ambulâncias dos SUS está no prego. Enquanto isso o Brasil gasta milhões de dólares recuperando o sistema de saúde do Haiti e pelas ruas esburacadas de Porto Prince rodam ambulâncias novinhas tiradas da saúde pública daqui e mandadas de presente para lá, onde cobrimos o rombo social deixado em 400 anos pelos franceses e americanos. Pois na mesma tarde em que o cidadão morria no hospital, com uma liminar na mão para ser internado, o nosso presidente anunciava uma ajuda de 286 milhões de dólares do nosso dinheiro para socorrer a Grécia, uma ridicularia diante dos mais de 750 bilhões de euros com que a União Européia socorre os helênicos na sua crise financeira. Esse dinheiro em nada ajuda aos gregos, mas salvaria muitas vidas aqui, se empregado no agonizante sistema de saúde pública do país. O nosso líder maior jamais visitou um hospital ou um pronto socorro da rede pública, desde que abandonou o macacão de metalúrgico. Ele, sua família, seus ministros, deputados, senadores, só conhecem os melhores e mais caros hospitais do Brasil e do Exterior, aos quais recorrem com todas as despesas pagas pelos cidadãos que não chegam ali nem como visitantes, entre os quais os que morrem nas filas sem atendimento. Hoje o Estado mata mais, por omissão de socorro, do que o crime organizado nas favelas das grandes cidades. O grave em tudo isso é que não falta dinheiro ao governo para garantir a saúde dos cidadãos. Ao contrário, sobra. Tanto sobra que o nosso governo já perdoou mais de um bilhão de dólares em dividas de outros países e deu mais dinheiro ao Haiti do que os Estados Unidos. A última demonstração do esbanjamento é esse presente aos gregos. Que eles nem mesmo pediram. E que em nada ajudará a tirá-los do buraco. Mas que faz uma falta danada aqui faz.
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Não entra
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Terminou ontem uma série de eventos promovida pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República nas cidades de Los Angeles, San Francisco, Seattle e San José, para “promoção das inovações brasileiras” nos Estados Unidos. Quem comandou tudo foi o ministro da Ciência e da Tecnologia. Motivo: o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, é proibido de entrar naquele país desde 1969, quando participou do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, no Rio de Janeiro. Se pisar lá, vai em cana.
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Rolo compressor
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Nem o esforço de 107 advogados pagos pelo contribuinte conseguiu evitar que o Tribunal de Contas da União multasse o brigadeiro Adyr da Silva e outros ex-diretores da Infraero por irregularidades na construção do novo terminal de passageiros do aeroporto de Natal. Chama a atenção o tamanho do rolo compressor de advogados para brigar contra u’a multa de apenas R$ 15 mil.
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Comitiva
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Para acompanhar dois guineenses repatriados para a África do Sul pela justiça brasileira, que viajam devidamente algemados, a polícia federal de Alagoas designou uma escolta formada por um delegado, um perito criminal, um escrivão e três agentes. Isso não é escolta, é comitiva.
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Do baú
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Se você já salvou alguém de um naufrágio, incêndio, epidemia ou qualquer tipo de calamidade ou catástrofe, pode ganhar uma nova condecoração do governo brasileiro. Rebuscando o baú da história, o presidente Lula acaba de regulamentar um decreto assinado em 1889 pelo marechal Deodoro da Fonseca criando a “Medalha da Distinção”, mais uma das inúmeras comendas neste país farto de heróis parco de heroísmos. Tem de ouro e tem de prata, dependendo do tamanho do feito do agraciado.
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Solução
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Nada que um bom emprego não resolva. O PT não teve dificuldades em por fim aos escrúpulos do PTB e conseguir o seu apoio à candidatura da companheira Dilma. Bastou dar uma diretoria da CONAB ao paraibano Alexandre Aguiar, da ala que defende o fisiologismo, enterrando a resistência de Roberto Jefferson, que queria o partido fora da base aliada. A solução foi simples: pagou e levou.
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Incrível
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O PTN recorreu ao Supremo Tribunal Federal para acabar com a lei que pune servidores públicos por improbidade administrativa. Será a consagração de mais uma das muitas práticas da roubalheira nacional, liberando todo mundo que usa do cargo público para o enriquecimento ilícito, recebimento de propinas, roubo e tudo quando é tipo de corrupção no exercício de cargos e funções públicas.
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Nos trinques
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Pelo menos no que cabe ao Tribunal Superior Eleitoral está tudo nos trinques para a realização das eleições gerais de outubro. O detalhe que faltava foi fechado nesta semana, com a aquisição de 300 mil cabines de votação que logo estarão sendo distribuídas aos 27 tribunais regionais eleitorais em todo o país.
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Ponto
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Ponto para o deputado Paulo Henrique Lustosa pelo seu projeto que propõe a regulamentação do trabalho de artistas menores de 16 anos, que pode por fim à exploração de crianças em espetáculos que quase sempre fogem ao controle dos juizados de menores e dos próprios pais.
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Será?
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O ministério da Saúde acaba de comprar mais 4.300 computadores de uma só tacada. Será que pelo menos o serviço de marcação do consultas para os pobres nos hospitais da rede pública vai funcionar?
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Ausência
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Compromisso em Manaus nos privou da alegria de participar da solenidade de posse do ministro Raul Santos Filho, no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, e da entrega da Ordem e da Medalha do Mérito Industrial aos empresários Alexandre Grendene, Airton Queiroz e Jorge Parente, em Fortaleza, nos dias 12 e 13 últimos.
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por Rangel Cavalcante
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