Apenas um retrato
A coluna de Rangel Cavalcante é publicada todos os domingos aqui e nos "Florida Review" e
Publicado em
( Brasília-DF) A cena do deputado presidente da Câmara Legislativa de Brasília escondendo o dinheiro da propina na meia nada mais é do que um retrato frio do político brasileiro de hoje. É claro que há exceções. Raras, mas a há. O mais novo escândalo da política nacional – que, como sempre , faz o cidadão esquecer o anterior - não surpreende a ninguém. A inútil e cara Câmara Legislativa de Brasília, um dos pecados da “constituição cidadã” do doutor Ulysses, é um conhecido valhacouto, onde se praticam quaisquer negócios. Seus deputados – há exceções, repetimos – são freqüentadores assíduos do noticiário policial. Já teve deles envolvidos em assassinato, corrupção de menores, recebimento de propinas, estelionato, fraudes, grilagem de terras e tudo quanto é tipo de crime. Claro que jamais um foi punido. Ao contrário, cada vez se reelegem com mais votos. Mas esse quadro sujo não é privilégio da capital federal. Retrata a situação da política nacional em todos os níveis, dominada por indivíduos sem escrúpulos, que fazem dos cargos e mandatos instrumentos de corrupção, de enriquecimento e de degradação dos costumes. Lembremos de que foi o presidente Lula quem garantiu que no Congresso Nacional havia pelo menos 300 picaretas. Ele já deve ter contado muito mais, já que hoje os tem tão próximos, como companheiros e aliados. É claro que não se espera punição alguma para o governador de Brasília, seu vice, deputados e secretários flagrados embolsando propinas. A Constituição e as leis brasileiras não permitem que eles sejam mandados para a cadeia, nem que devolvam o produto da roubalheira. E isso vai ficar assim, piorando a cada dia, enquanto o cidadão brasileiro não se conscientizar de que é ele mesmo o responsável por esse mar de lama que toma conta da política e das instituições. Só existe uma forma de mudar isso: mexer na Constituição e nas leis, principalmente nos códigos penal e processual penal, para acabar com a impunidade. E isso jamais acontecerá no país que tem mais de 300,picaretas legislando, u’a muralha que frustra toda e qualquer tentativa de reprimir a corrupção do país. O único aríete capaz de derrubar essa parede é o voto consciente do cidadão. Nenhum desses corruptos chegou até onde está pelos próprios pés. Foram todos levados pelo voto, livre, secreto, dos cidadãos. Foto de deputado botando dinheiro na cueca ou na meia é, repetimos, um retrato três por quatro da grande maioria dos nossos políticos. Que bem poderia ter no verso um agradecimento ao otário do eleitor que os elegeu. Como esse tipo de político é irrecuperável, quem precisa com urgência se convencer de que precisa criar vergonha na cara é o cidadão brasileiro, que os elege. Que não perca mais uma chance, em outubro próximo.
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Pé de meia
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O deputado Leonardo Prudente – que seguramente não faz jus ao nome – tem uma justificação para o dinheiro escondido na meia. Assim, como grana na cueca é um investimento em fundos, com o diz o jornalista Ari Cunha, ele apenas fazia o que se costuma chamar de um “pé de meia” para garantir o futuro. E por falar nisso, Prudente acaba de ser eleito tesoureiro do Colegiado de Presidentes das Assembléias Legislativas do Brasil. O homem certo no lugar certo.
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Frustração
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Frustração no mercado de hotéis, bares, restaurantes, boates e motéis com o cancelamento da reunião que traria a Brasília mais de três mil vereadores, todos com os bolsos recheados, na semana passada. O lamento maior foi das centenas de garotas de programa que vieram de Goiás em ônibus fretados para atender à rica clientela.
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No bolso
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José Múcio Monteiro, o novo ministro do TCU, acaba de ser aposentado como “ex-deputado” pela Câmara Federal. Vai somar cerca de R$ 6 mil todo mês aos seus já gordos vencimentos como integrante da mais alta corte de contas do país.
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De livros
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Ao mesmo tempo em que adquiria milhões de livros para as bibliotecas públicas do estado, fazendo a alegria dos editores, a secretaria de cultura do Ceará esqueceu de vez um projeto de ministrar noções de conservação e restauração desses mesmos livros e cadernos ns mesmas escolas, para que durem mais e sejam reaproveitados . Editor tem pavor a conservação e restauração,
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por Rangel Cavalcante
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