Justiça para inglês ver
A coluna de Rangel Cavalcante é publicada todos os domingos aqui e nos "Florida Review" e
Publicado em
( Brasília-DF) Os meios de comunicação do mundo, e em especial da Europa, deram grande destaque à condenação de duas jovens inglesas – Shanti Andrews e Rebecca Turner – a um ano e cinco meses de prisão, penas depois convertidas na prestação de serviços comunitários, além de multa equivalente a 26 salários mínimos. Elas foram presas por falsa comunicação de crime e tentativa de estelionato, ao chegarem ao Rio de Janeiro, por terem forjado o roubo de suas bagagens, para receber indenização. Na verdade os estrangeiros se surpreenderam com a eficiência da polícia e da justiça brasileiras. Foram apenas 24 dias desde o auto de prisão á sentença condenação. Um recorde, sem duvida. Nem o desconhecimento da nossa língua pelas rés atrapalhou.
Nunca na história deste país se viu justiça tão eficiente e rápida. Mas enquanto ingleses e outros bestas admiram o feito do juizado carioca, nós aqui nos perguntamos: por que todos os processos na nossa justiça não correm com a mesma celeridade? O país está cheio de ladrões e outros criminosos soltos, rindo na cara do povo, exercendo mandatos e cargos importantes nos em todos os níveis nos três poderes da Republica. Seus processos mofam nas gavetas e prateleiras dos tribunais, quase sempre prescrevendo sem julgamento. Quantos processos o juiz que condenou as jovens inglesas julgou com a mesma rapidez? O mundo está admirando a exceção, a raridade. Agora sabe que no país em que só vão para a cadeia pobre, preto e prostituta, tentar um golpe para receber o seguro de uma mala é uma prática hedionda.Principalmente se o criminoso for estrangeiro. Dá cadeia. Que o digam Shanti e Rebecca. Mas roubar descaradamente o dinheiro público, emitir decreto secreto, fraudar concorrências, receber propina, vender passagens do legislativo, superfaturar obras públicas, tudo isso pode, sem risco. E no mais das vezes com a garantia da absolvição pelo calendário, garantida pelo famigerado foro privilegiado. O Brasil devia ter escondido essa sentença dos cidadãos. Pode gerar neles a falsa sensação de neste país existe mesmo justiça. Pelo menos naqueles milhões que esperam há anos o julgamento dos processos em que buscam alguma forma de Justiça que nunca são julgados. O caso das duas turistas inglesas não honra a magistratura brasileira. Pelo contrário, chama a atenção para o grande mar de injustiças formado por cerca de 100 milhões de processos sem julgamento nos diversos juizados e tribunais do país. O caso das jovens inglesas é apenas o que se pode chamar de Justiça para inglês ver.
xxxxxxxx
Um luxo
-----------
Vaso sanitário do novo prédio da Procuradoria Geral do Trabalho em BSB é um luxo, aromatizado, com controle remoto e desinfecção, O usuário pode escolher a pulsação e a oscilação – e ar quente para secagem da bunda. Pode ter sistema de escolha de temperatura e pressão da água. O preço, R$ 23 mil, o valor de um carro. Parada há dois anos por ordem do TCU, a obra de R$ 130 milhões vai prosseguir, uma vez cortados os superfaturamentos e exageros.
xxxxxxxx
Gastança
------------
Enquanto a arrecadação de tributos federais cai e o governo ameaça criar de novo a famigerada CPMF, o ministério das Cidades torra o nosso dinheiro. Acaba de contratar, sem concurso, mais 30 companheiros para prestação dos nebulosos “serviços técnicos especializados de excepcional interesse público”, a R$ 8 mil cada um. E de lambuja contratou três agencias publicidade para gastem $ 124 milhões.
xxxxxxxx
Alivio
--------
Depois de comprar armas e munições para a sua polícia interna, a mesa do Senado selecionou um magote de servidores para freqüentar um curso de proteção de autoridades. Na verdade, diante dos últimos acontecimentos que enlamearam a Casa, a medida é por demais oportuna. E necessária.
xxxxxxxx
por Rangel Cavalcante
e-mail: [email protected]