• Cadastre-se
  • Equipe
  • Contato Brasil, 19 de abril de 2024 05:28:53
Jorge Henrique Cartaxo
  • 26/03/2020 15h25

    O Capitão em seu labirinto

    Jair Bolsonaro, de quem se esperava uma liderança ágil, firme e harmônica desse processo, se engalfinha com os 27 governadores

    O Triunfo da Morte - Pieter Bruegel ( foto: arquivo do colunista)

    “O medo da morte está convertendo os neoliberais em keynesianos”. O humor mórbido que acompanha os debates nas academias, sobre a macroeconomia mundial em tempos de coronavírus, ilustra bem os desafios dos tempos presentes. Nos Estados Unidos, apesar das falas desencontradas de Trump, o Congresso analisa um pacote entre US$ 2 trilhões e US$ 2,5 trilhões para amenizar os efeitos da pandemia. Algo em torno de 10% do PIB americano. Ontem, o Parlamento da Alemanha  aprovou um pacote de medidas de cerca de R$ 6 trilhões ( aproximadamente 1,1 trilhão de euros ), destinados ao enfrentamento do coronavírus. A Espanha já decidiu liberar 200 bilhões de euros para socorrer os infectados e a economia.

    Em carta ao G-20 – Argentina, África do Sul,  Austrália, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, EUA, Índia, Indonésia, Reino Unidos, Japão, México, Rússia, Turquia e União Europeia – o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, alertou os chefes de Estado e de governo do grupo, portanto ao próprio Jair Bolsonaro, que o mundo pode ser atingido por uma pandemia de proporções apocalípticas. “Peço aos líderes do G-20 que considerem um pacote urgente, de grande escala, de trilhões de dólares”, pediu Guterres, para ponderar, em seguida, que esse dinheiro precisa chegar às pequenas empresas, trabalhadores e famílias. Isso inclui perdão de dívidas, incentivos fiscais, queda de taxa de juros, créditos e apoio a salários.

    Enquanto isso, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, de quem se esperava uma liderança ágil, firme e harmônica desse processo, se engalfinha com os 27 governadores, os prefeitos municipais, o Congresso, o Supremo Tribunal Federal e com a maioria dos brasileiros. Solitário em seu gabinete, deixou a pandemia se assentar no País e desautorizou a reconhecida eficiência do seu ministro da Saúde, Luiz Mandetta.  Contrariando a experiência mundial e as recomendações da Organização Mundial de Saúde, Bolsonaro quer romper o isolamento social em quase toda a sua dimensão. Ninguém desconhece a importância do abastecimento, do mercado de trabalho e da segurança. Exatamente por isso, o País precisa de um comando harmônico e consistente. Lamentavelmente, o presidente Jair Bolsonaro prefere a intriga, o destempero, a deselegância e o seu espetáculo diário na porta do Palácio da Alvorada, onde, numa linguagem imprópria para quem empunha cetros e habita palácios, destrata a língua portuguesa e ofende a razão.

    Mas, de algum modo, já sabemos que aquilo que o presidente afirma pela manhã, pode não valer à tarde. Perdido em seu labirinto, Jair Bolsonaro demonstra a cada dia que a sua proclamada fé em Deus fica a cada dia mais distante da vida. Como um espírito que fugiu das tela de Pieter Bruegel, Bolsonaro parece proclamar o triunfo da morte.     

                                      


Vídeos
publicidade