• Cadastre-se
  • Equipe
  • Contato Brasil, 22 de dezembro de 2024 05:02:12
Jorge Henrique Cartaxo
  • 19/03/2020 00h03

    A solidão solidária

    A humanidade vencerá essa crise

    Victor Brecheret ( Foto: arquivo colunista)

    “Abra as janelas da sua alma/Embora você não possa/ tocar ninguém através das ruas vazias: Cante”. A última estrofe da comovente oração do Padre Richard Hendrick da Ordem Franciscana da Imaculada Conceição que circula nas redes sociais, sintetiza bem o suave sentimento que vem se desenhando na humanidade diante dos efeitos e temores do Coronavírus.

    Portanto, o momento é de nos unirmos diante do inimigo comum e devastador propugnando pela junção, que sabemos difícil, da determinação com as restrições e a ternura.  No Brasil, iniciamos há poucos dias a angustiante experiência da expansão do vírus. A cada momento, um número a mais se apresenta na temerária estatística. Segundo o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, teremos, em princípio, 20 semanas críticas no País. Espera-se um crescimento significativo da disseminação viral. As medidas sanitárias já anunciadas, além do isolamento imposto a todos nós, atingirão de uma maneira expressiva a nossa já abalada economia. Mais desempregos e, muito possivelmente, uma nova recessão econômica.

    Os governadores,  o ministro Mandetta, nossos médicos e sanitaristas, até onde conseguimos observar, estão agindo com precisão, responsabilidade e agilidade. O mesmo não podemos dizer, infelizmente, do presidente Bolsonaro e do Congresso Nacional. O Presidente da República,  mais do que despreparado, é um irresponsável. Os Congressistas, ontem como hoje, permanecem, cinicamente na espreita, querem ver como tiram vantagens das urgências do Brasil e dos brasileiros. Navegam no silêncio da conveniência e no conforto da não responsabilidade direta diante do que acontece. Mas estão sempre prontos para a histérica condenação e o dedo em riste.

    A humanidade vencerá essa crise. Estaremos, em breve, com nossas vidas normalizadas, mesmo manejando os desafios de sempre. Muito estamos apreendendo com tudo isso. Da necessidade, cada vez maior, de uma concertação planetária – não só para vírus mas para uma melhor gestão da Terra. Teremos, também, ensinamentos outros bem importantes.

    Surpreendeu-me o silêncio e o distanciamento do falante Papa Francisco. Foi estarrecedor o obscurantismo medieval do bispo Macedo. Ainda que num tom menor, foi desconfortável o silêncio das demais igrejas de todo o mundo, resguardadas  as elogiáveis exceções.    

    Ainda no universo das surpresas, como foi estranha a imprudência europeia e dos EUA. Deixaram-se apanhar pelo vírus. Quase esperaram que ele mostrasse, na prática, sua implacabilidade. Na verdade, só agiram e reagiram diante do caos iminente. Na outra ponta, a Ásia foi ágil e eficaz. 

    São e serão muitas as reflexões que inundam e inundarão nossa alma nesse momento tão delicado desse inesperado experimento da solidão solidaria. “Para um homem devoto não existe solidão – essa invenção foi feita somente por nós, os sem-Deus”, disse Nietzsche diante do seu desconforto com a modernidade. Mas nós, temos Deus!


Vídeos
publicidade