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- Contato Brasil, 22 de novembro de 2024 14:29:02
“ Les dames et demoiselles, por être baisées devant leurs noces, il n’este pas la coutume de France ( Não é costume na França beijar as dama e donzelas antes do casamento)”.
“Ó Catarina! Os costumes mais escrupulosos têm a cortesia de ceder diante dos grandes reis. Querida Catarina, não podemos encerra-nos nos estreitos limites da moda de um país. Somos nós que fazemos a moda, Catarina, e a liberdade que se liga à nossa posição fecha a boca de todos os censores...”
O diálogo nubente de Henry V com Catarina, filha de Carlos VI, Rei da França – legados ao mundo por Shakespeare no seu drama histórico Henry V – aduz às noções de decoro, conduta, decência, conveniência e moral. Vitorioso e nobre, Henry tem a noção exata de que seus gestos ditam normas e refazem costumes, mesmo aqueles da privacidade. Catarina, futura rainha da Inglaterra e da França, sublinha o valor da sua postura no seu papel, na sua corte e no seu mundo.
Decoro origina-se do latim decorum que significa decência, conveniência, aquilo que convém. Ou, como na sua raiz decor que evoca o sentido do que fica bem. Já a palavra decência que deriva do latim decentia nos remete ao recato, compostura e honestidade individual; e a palavra conveniência, também do latim convenientia que alude ao adequado e/ou estar de acordo. Já a palavra moral provém do latim moralis, morale . Vêm da raiz mores, “que são o conjunto de normas que define ideias fundamentais sobre o certo e o errado, louvável e repugnante, bom e mau, virtuoso e pecaminoso, entre outras antinomias do comportamento humano”, segundo Allan Johnson – in Dicionário de Sociologia – Zahar/1997.
Esse grupo de palavras e conceitos, que definem a normatização da sociabilidade na vida cotidiana ocidental, pelo menos desde a Grécia clássica aos nossos dias, com avanços e recuos ao longo dos séculos observadas as circunstâncias e desafios históricos, ainda guarda prevalência nos diálogos e modos entrepares nos dias de hoje. Ou ainda, como já nos definia Mirabeua na década de 1760: “Se perguntar o que é civilização, a maioria das pessoas responderia: suavização de maneiras, urbanidade, polidez, e a difusão do conhecimento de tal modo que inclua o decoro no lugar de leis detalhadas”.
Tivesse usado mais seu tempo com livros do que com armas, Jair Bolsonaro teria compreendido melhor o lugar de fala de um homem de Estado e as formas com às quais seus gestos e conteúdos estão subordinados em nome da ordem política, econômica e social de um povo nos desafios e desencontros dos tempos. Certamente encontraria na biblioteca do Palácio do Planalto – que ele vem tentando destruir – a obra de Erasmo de Rotterdam, De ciivilitate morum puerilium ( Da civilidade em crianças ), de 1530. Muito teria aprendido nos capítulos que tratam das condições decorosas e indecorosas do corpo, da cultura corporal, das maneiras nos lugares sagrados, nos banquetes, nas reuniões, nos divertimentos e no quarto de dormir. Não teríamos “bananas”!