Quase metade da população da cidade do Rio vive sob influência ou controle de grupos armados, mostra o estudo recém-publicado
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(Brasília-DF, 04/12/2025). Nesta quinta-feira, 04, foi divulgado nova edição do Mapa dos Grupos Armados pelo Instituto Fogo Cruzado e pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), revelando que pelo quinto ano seguido, as milícias perderam espaço e poder na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Em 2024, 2,5 milhões de moradores da capital (42,4% do total de habitantes), espalhados em 212 km² (31,6% da área total da cidade), estavam nessa situação.
Considerando o domínio total, com controle armado, esse número cai para 2,2 milhões de pessoas (36,3%) e 22,5% do território total (equivalente a 157 km²)
É a cidade fluminense com a maior proporção de territórios e população dominados ou influenciados por grupos armados.
E essa expansão tem se intensificado desde 2007. Nesses 18 anos, houve um aumento de 173% nas áreas tomadas pelos grupos armados, com alta de 49% do domínio populacional.
As milícias são as principais responsáveis pela tomada desses novos territórios.
De 2007 a 2024, elas deram um salto no controle e influência territorial e populacional: de 31 km² para 157 km²; de 604 mil pessoas para 1,3 milhão. Apesar da hegemonia das milícias, esses grupos lideram majoritariamente na zona oeste; nas outras regiões quem manda é o CV.
Segurança pública: preocupação nacional
A segurança pública deve ser um dos principais temas debatidos nas eleições de 2026, apostam os especialistas.
Segundo pesquisa da Atlas/Bloomberg realizada entre outubro e novembro com 5,5 mil pessoas, a maior preocupação dos brasileiros (63%) passou a ser o tráfico de drogas e a criminalidade.
A corrupção, que há anos figurava como a principal preocupação, caiu para segundo lugar.
Atentos a essa demanda do eleitorado, políticos têm tentado emplacar projetos na área.
No Congresso, duas propostas tramitam ao mesmo tempo: a PEC da Segurança Pública e a chamada PL Antifacção.
As duas propostas escancaram a disputa política em torno do tema.
De autoria do Executivo, a proposta de emenda à Constituição (PEC) busca criar um sistema coordenado, inspirado no Sistema Único de Saúde (SUS), para padronizar protocolos, integrar bancos de dados, unificar estatísticas e garantir repasses estáveis às forças de segurança.
A proposta estabelece diretrizes nacionais obrigatórias, sem interferir no comando das polícias estaduais, e inclui guardas municipais entre os órgãos de segurança, ampliando a rede de atuação.
O objetivo é criar uma espinha dorsal comum para operações e estatísticas em todo o país.
O projeto de lei (PL) Antifacção segue um caminho diferente: aposta numa resposta mais dura.
O texto tipifica crimes ligados ao domínio territorial armado e ataques coordenados, prevendo até 40 anos de prisão para integrantes de grupos criminosos e penas que podem chegar a 66 anos para líderes.
A versão aprovada na Câmara, porém, não é a original do governo: foi alterada pelo relator Guilherme Derrite (PP-SP), ex-secretário de Segurança de São Paulo, que incorporou emendas, principalmente de parlamentares da oposição e da bancada da segurança.
Derrite endureceu o texto, ampliou tipos penais, retirou mecanismos de integração entre PF, Receita e Banco Central e redistribuiu os recursos provenientes de bens confiscados, privilegiando estados e fundos de segurança.
Para seus apoiadores, o substitutivo dá uma resposta firme ao crime organizado; para críticos, enfraquece justamente a inteligência financeira que sustentava o plano original do governo.
Daniel Hirata reconhece que a segurança pública vai "pautar o debate nacional", mas critica a influência das pesquisas de opinião nas decisões políticas.
Um desses levantamentos, do Instituto Datafolha, mostrou que 57% dos moradores do Rio avaliaram positivamente a Operação Contenção, que teve como alvo o CV em outubro.
O apoio não foi apenas local: uma pesquisa da AtlasIntel mostrou que 55,2% dos brasileiros aprovaram o trabalho realizado pelos policiais na ação.
"Pode ser que as ações sejam direcionadas para produzir mais confrontos. A pesquisa de opinião ficou tão importante que não se faz mais nada para solucionar os problemas. Os esforços, tanto de governos de direita quanto de esquerda, ficam só no nível da percepção da segurança pública", conclui Hirata.
( da redação com agências e BBC. Edição: Política Real)