Lula, em Moçambique, disse que trabalha para o BNDES voltar a atuar fora do país e que o Brasil nunca deveria ter deixado de apoiar o país africano
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(Brasília-DF, 24/11/2025) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao deixar África do Sul ao final da reunião de Cúpula dos Líderes do G20 seguiu para Maputo, capital de Moçambique, mas não houve divulgação de agenda. Ele fez uma fala, em declaração, sobre a visita.
Lula disse que trabalha para destravar o financiamento pelo BNDES para empresas brasileiras atuar fora do país.
“Para que isso seja possível, precisa desatar uma amarra determinante.
Nenhum grande país consegue exportar serviços sem oferecer opções de crédito.
Estamos trabalhando para o BNDES recuperar a capacidade de financiar a internacionalização das empresas brasileiras.”, disse.
Lula disse que o Brasil pretende atuar na produção de fármacos e de biodiesel em Moçambique assim como pretende atuar contra o crime organizado. Lula disse que o Brasil quer voltar a ser atuante em Moçambique, o que nunca deveria ter deixado de existir.
“Eu lhe disse ontem e vou repetir hoje na entrevista coletiva: a minha visita a Moçambique é o recomeço de uma história que nunca deveria ter parado de acontecer. A minha visita a Moçambique é para dizer a você, presidente da República, e ao povo de Moçambique, que o Brasil está de volta e o Brasil quer colaborar com Moçambique em todas as áreas: da indústria, da ciência e tecnologia, da agricultura, da energia e em tudo aquilo que você precisar. Sobretudo em duas áreas vitais para a humanidade: saúde e educação.”, disse, ao final.
Veja a íntegra da declaração de Lula em Moçambique:
Foi com imensa satisfação que me reuni, hoje, com o meu amigo, o Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo.
É a quarta vez que venho a este belo país como Presidente da República.
Mas esta visita é especial, pois ocorre no marco da celebração dos 50 anos da Independência de Moçambique.
É momento oportuno para fazer um balanço da trajetória que percorremos até aqui.
Para usar a palavra que dá título à obra do grande moçambicano Mia Couto, nossa amizade vagou muito tempo sonâmbula.
O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a independência de Moçambique – são cinco décadas de relações diplomáticas.
Mas, imersos em desafios próprios, passamos da irmandade à indiferença.
Até que, há 20 anos, vivemos um grande despertar.
O Brasil, que estava de costas para a África, reencontrou Moçambique.
O país se tornou o maior destinatário da cooperação brasileira no continente africano.
Pouco depois, no entanto, caímos novamente em sono profundo.
O Brasil se perdeu por caminhos sombrios e, nesse processo, se esqueceu dos laços com a África.
Muitas das sementes que havíamos lançado não tiveram tempo de vingar.
Mas é hora de recobrar a consciência.
Hoje firmamos nove acordos para fortalecer as capacidades institucionais moçambicanas nas áreas de desenvolvimento, saúde, educação, diplomacia, empreendedorismo, promoção comercial, aviação civil, assistência jurídica e serviços agroflorestais.
Mas podemos e devemos ir além.
Moçambique é um país em desenvolvimento, que ainda possui lacunas de infraestrutura a suprir.
Seu crescimento depende de portos, estradas, usinas e linhas de transmissão.
O Brasil tem empresas dinâmicas, com condições de contribuir.
Para que isso seja possível, precisa desatar uma amarra determinante.
Nenhum grande país consegue exportar serviços sem oferecer opções de crédito.
Estamos trabalhando para o BNDES recuperar a capacidade de financiar a internacionalização das empresas brasileiras.
O fluxo de comércio que o Brasil mantém com Moçambique é muito menor do que com outros países de língua portuguesa.
Isso é injustificável entre dois mercados tão familiares.
Estamos investindo, no Brasil, no fortalecimento do nosso complexo industrial da saúde.
Isso nos permitirá participar novamente da produção de fármacos e medicamentos em Moçambique.
Ninguém melhor do que o Brasil para contribuir, também, com a segurança alimentar de Moçambique.
Com tecnologia adequada, é possível ampliar a produtividade da savana africana sem comprometer o meio ambiente.
O Ministério da Educação e a Agência Brasileira de Cooperação oferecerão, em 2026, até 80 vagas para curso de formação de formadores em ciências agrárias e até 400 vagas para curso técnico em agropecuária a colaboradores moçambicanos.
A EMBRAPA vai reforçar essa iniciativa por meio de um sistema de treinamento presencial e à distância de técnicos moçambicanos.
Com o mesmo senso de prioridade, trabalhamos para incluir Moçambique entre os países contemplados pela etapa de implementação acelerada da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Caros amigos e caras amigas,
O Presidente Chapo e eu nos encontramos na Cúpula de Líderes de Belém, no contexto da COP30.
Agradeci a ele o apoio moçambicano às iniciativas lançadas pelo Brasil na ocasião, incluindo o Fundo Florestas Tropicais para Sempre.
Moçambique é um dos vinte países do mundo mais vulneráveis ao impacto da mudança do clima.
Nossos países podem trabalhar juntos em duas áreas cruciais para o futuro do planeta.
A primeira é a proteção de biomas florestais.
Podemos trocar experiências de manejo do fogo e uso sustentável de recursos naturais, para preservar ecossistemas como a Floresta do Miombo.
A segunda área é a transição energética.
O Brasil está pronto para colaborar com Moçambique na produção de biocombustíveis, aliando geração de empregos e redução da dependência de combustíveis fósseis.
O crime organizado é outro desafio que ameaça nossas sociedades.
O governo brasileiro tem trabalhado com inteligência para desarticular redes criminosas e estrangular suas fontes de financiamento.
A Polícia Federal brasileira é reconhecida internacionalmente por sua capacidade de rastrear ativos ilícitos e combater a lavagem de dinheiro.
Ela está à disposição para compartilhar sua experiência e ampliar sua colaboração com Moçambique.
É fundamental, também, aumentar o conhecimento mútuo entre nossos povos.
A educação e a cultura são as melhores ferramentas para cultivar nossos laços.
Além de ampliar a mobilidade estudantil, é preciso promover parcerias diretas entre instituições de ensino superior e pesquisa de ambos os países.
Também há vasto espaço para atuação conjunta na promoção da língua portuguesa, patrimônio comum da CPLP, por meio da produção audiovisual e literária.
A cooperação entre Brasil e Moçambique não pode mais oscilar entre momentos de aproximação e distanciamento.
Vamos voltar a Mia Couto e lembrar que o que faz andar a estrada é o sonho.
Enquanto sonharmos juntos, nossa estrada comum permanecerá viva.
Agradeço imensamente a acolhida do povo irmão de Moçambique e queria terminar, presidente Chapo, dizendo ao povo de Moçambique que nós não temos tempo de ficar reclamando o que não aconteceu até agora.
Eu lhe disse ontem e vou repetir hoje na entrevista coletiva: a minha visita a Moçambique é o recomeço de uma história que nunca deveria ter parado de acontecer. A minha visita a Moçambique é para dizer a você, presidente da República, e ao povo de Moçambique, que o Brasil está de volta e o Brasil quer colaborar com Moçambique em todas as áreas: da indústria, da ciência e tecnologia, da agricultura, da energia e em tudo aquilo que você precisar. Sobretudo em duas áreas vitais para a humanidade: saúde e educação.
Conte conosco.
( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)