31 de julho de 2025
ISRAEL/GAZA

Donald Trump anuncia plano de 20 pontos para paz em Gaza que desmilitariza a região, não cede território para Israel que deixará o território, diz que Israel concordou com o plano e que Hamas vai ter que aceitar

Se o Hamas concordar com o plano de paz, Israel retirará da Faixa de Gaza "por etapas", indicou Trump

Por Politica Real com agências
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Benjamim Netanyahu e Donald Trump. em fala conjunta Foto: imagem de streaming

Com agências

(Brasília-DF, 29/09/2025) Na tarde desta segunda-feira, 29, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, após reunião no Salão Oval, que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, concordou com seu plano de 20 pontos para encerrar o conflito na Faixa de Gaza. No entanto, não há certeza se o grupo palestino Hamas vai aceitar os termos.

A declaração foi feita por Trump em um pronunciamento à imprensa na Casa Branca ao lado de Netanyahu, após uma reunião entre os dois líderes.

"Quero agradecer ao primeiro-ministro [Benjamin] Netanyahu por concordar com o plano e por confiar que, se trabalharmos juntos, poderemos pôr fim à morte e à destruição que temos visto há tantos anos", disse Trump. "Espero que cheguemos a um acordo de paz e, se o Hamas rejeitar o acordo, o que é sempre possível, eles serão os únicos que ficarão de fora, pois todos os outros o aceitaram, mas tenho a sensação de que teremos uma resposta positiva."

"Apoio o seu plano para pôr fim à guerra de Gaza, que coincide com os nossos objetivos de guerra: devolverá a Israel os nossos reféns, desmantelará a capacidade militar do Hamas, acabará com o seu domínio político e garantirá que Gaza nunca mais represente uma ameaça para Israel", afirmou Netanyahu no mesmo pronunciamento ao lado de Trump na Casa Branca, usando um tom mais comedido que o exibido na semana passada, na Assembleia Geral da ONU.

Se o Hamas concordar com o plano de paz, Israel retirará da Faixa de Gaza "por etapas", indicou Trump.

 "Em colaboração com a nova autoridade de transição em Gaza, todas as partes concordarão com um calendário para a retirada gradual das forças israelitas", anunciou o presidente.

 

Os pontos essenciais do plano

 

Em resumo, o plano de Trump cria um caminho para a criação de um Estado palestino, algo que o governo de Israel rejeita com veemência, e apresenta um roteiro para o futuro de Gaza.

O plano exige a libertação de todos os reféns vivos e a entrega dos restos mortais dos que faleceram em troca da libertação de centenas de palestinos mantidos em Israel. Isso deve acontecer 72 horas após Israel concordar com o acordo.

"Assim que todos os reféns forem libertados, Israel libertará 250 prisioneiros que cumprem penas de prisão perpétua, além de 1,7 mil moradores de Gaza detidos após o 7 de Outubro, incluindo todas as mulheres e crianças detidas naquele contexto. Para cada refém israelense cujos restos mortais forem retornados, Israel retornará os restos mortais de 15 moradores de Gaza", diz um dos pontos da proposta.

O documento também exige a remoção do Hamas do poder e seu desarmamento — o grupo palestino é considerado uma organização terrorista pelo governo alemão, pela UE, pelos EUA e por alguns Estados árabes —, a reforma da Autoridade Palestina (AP), que governa a Cisjordânia, e a promessa de Israel de não lançar novos ataques ao Catar, que tem atuado como força mediadora no conflito.

Outros pontos incluem: a Faixa de Gaza será uma zona desradicalizada e livre de terrorismo; será criado um plano econômico para reconstruir Gaza; EUA e potências regionais lhe darão uma garantia de segurança; ninguém será forçado a deixar o território, e aqueles que optarem por sair poderão retornar.

Além disso, a área deverá ser gerida por um governo de transição temporário, a ser exercido por um "comitê palestino tecnocrático e apolítico" formado por "palestinos qualificados e especialistas internacionais" e supervisionado por um "novo órgão internacional de transição, o 'Conselho da Paz', que será chefiado pelo presidente Donald J. Trump junto com outros membros e chefes de Estado a serem anunciados", segundo informe da Casa Branca.

Um dos membros do conselho citados por Washington é o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. O órgão operaria com o apoio da ONU e dos países do Golfo Pérsico antes de, eventualmente, entregar o controle a uma Autoridade Palestina (AP) reformada.

Já o Hamas e outros grupos armados teriam que concordar em "não ter nenhum papel na governança de Gaza, direta ou indiretamente, ou de qualquer forma", segundo a Casa Branca. Contudo, combatentes que se comprometerem a se desarmar e coexistir pacificamente ao lado de Israel serão anistiados. Aqueles que desejarem poderão partir para o exílio.

O plano prevê ainda que as Forças de Defesa de Israel (IDF) interrompam todas as operações imediatamente após haver um acordo e entreguem territórios capturados. Israel também deve prometer não ocupar ou anexar Gaza.

Também há garantias de que a ajuda de agências internacionais poderá chegar a Gaza sem interferência de nenhum dos lados, "por meio das Nações Unidas e suas agências, o Crescente Vermelho, além de outras instituições internacionais não associadas de nenhuma forma a nenhuma das partes", segundo a proposta.

A redação deste ponto não deixa claro se a controversa Fundação Humanitária de Gaza, que é apoiada por Israel e Estados Unidos, continuará atuando na região.

O texto também menciona a reabilitação de infraestrutura de água, esgoto e energia, bem como hospitais e padarias, e a entrada de maquinário para remover os escombros da guerra e abrir estradas. 

 

Veja a íntegra do plano de Trump para a paz em Gaza:

 

 

1.Gaza será uma zona desradicalizada e livre de terrorismo, que não representará uma ameaça para seus vizinhos.

2.Gaza será reconstruída em benefício do povo de Gaza, que já sofreu mais do que o suficiente.

3.Se ambos os lados concordarem com esta proposta, a guerra terminará imediatamente. As forças israelenses vão se retirar até a linha acordada para se preparar para uma troca de reféns. Durante esse período, todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, serão suspensas, e as linhas de frente permanecerão congeladas até que as condições para a retirada completa e gradual sejam cumpridas.

 

4.Dentro de 72 horas após a aceitação pública deste acordo por Israel, todos os reféns, vivos e mortos, serão devolvidos.

5.Assim que todos os reféns forem libertados, Israel soltará 250 prisioneiros condenados à prisão perpétua, mais 1,7 mil habitantes de Gaza detidos após 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e crianças presas nesse contexto. Para cada refém israelense cujos restos mortais forem devolvidos, Israel entregará os restos mortais de 15 palestinos de Gaza.

6.Uma vez que todos os reféns tenham sido devolvidos, membros do Hamas que se comprometerem com a convivência pacífica e com o desarmamento serão anistiados. Membros do Hamas que desejarem deixar Gaza terão passagem segura para países que os recebam.

7.Com a aceitação deste acordo, ajuda humanitária plena será imediatamente enviada à Faixa de Gaza. No mínimo, as quantidades de ajuda serão consistentes com o estipulado no acordo de 19 de janeiro de 2025 sobre ajuda humanitária, incluindo a reabilitação de infraestrutura (água, eletricidade, esgoto), hospitais e padarias, além da entrada de equipamentos necessários para a remoção de escombros e abertura de estradas.

8.A entrada e a distribuição de ajuda na Faixa de Gaza ocorrerão sem interferência das duas partes, através das Nações Unidas e suas agências, do Crescente Vermelho e de outras instituições internacionais não associadas a nenhuma das partes. A abertura da passagem de Rafah, em ambas as direções, seguirá o mesmo mecanismo implementado pelo acordo de 19 de janeiro de 2025.

9.Gaza será governada sob um governo transitório temporário de um comitê palestino tecnocrático e apolítico, responsável pela gestão diária dos serviços públicos e das municipalidades para o povo de Gaza. Esse comitê será composto por palestinos qualificados e especialistas internacionais, e supervisionado por um novo órgão internacional de transição, o "Conselho da Paz", que será presidido e liderado pelo presidente Donald J. Trump, com outros membros e chefes de Estado a serem anunciados, incluindo o ex-primeiro-ministro Tony Blair. Esse órgão definirá o quadro e administrará o financiamento para a reconstrução de Gaza até que a Autoridade Palestina conclua seu programa de reformas, conforme proposto em diversos planos – incluindo o plano de paz de Trump de 2020 e a proposta saudita-francesa –, e possa reassumir de forma segura e eficaz o controle de Gaza. Esse órgão recorrerá aos melhores padrões internacionais para criar uma governança moderna e eficiente que sirva ao povo de Gaza e seja propícia à atração de investimentos.

10.Um plano de desenvolvimento econômico de Trump para reconstruir e energizar Gaza será criado com a convocação de um painel de especialistas que ajudaram a criar algumas das prósperas cidades modernas do Oriente Médio. Muitas propostas de investimento bem pensadas e ideias de desenvolvimento inspiradoras, elaboradas por grupos internacionais de boa-fé, serão consideradas para articular os marcos de segurança e governança de modo a atrair e facilitar esses investimentos que criarão empregos, oportunidades e esperança para o futuro de Gaza.

11.Uma zona econômica especial será estabelecida com tarifas e taxas de acesso preferenciais a serem negociadas com países participantes.

12.Ninguém será forçado a deixar Gaza, e aqueles que desejarem sair terão liberdade para fazê-lo, assim como para retornar. Incentivaremos as pessoas a permanecerem e lhes ofereceremos a oportunidade de construir uma Gaza melhor.

13.O Hamas e outras facções concordam em não ter nenhum papel no governo de Gaza, direta ou indiretamente, sob qualquer forma. Todas as infraestruturas militares, terroristas e ofensivas, incluindo túneis e fábricas de armas, serão destruídas e não reconstruídas. Haverá um processo de desmilitarização de Gaza sob supervisão de monitores independentes, o qual incluirá a inutilização permanente das armas por meio de um processo acordado de desarmamento, apoiado por um programa internacional de recompra e reintegração, tudo verificado por monitores independentes. A Nova Gaza estará plenamente comprometida em construir uma economia próspera e em coexistir pacificamente com seus vizinhos.

14.Uma garantia será fornecida por parceiros regionais para assegurar que o Hamas e as facções cumpram suas obrigações e que a Nova Gaza não represente ameaça a seus vizinhos nem ao seu povo.

15.Os Estados Unidos trabalharão com parceiros árabes e internacionais para desenvolver uma Força Internacional Temporária de Estabilização (ISF), a ser imediatamente implantada em Gaza. A ISF treinará e dará apoio a forças policiais palestinas selecionadas em Gaza, em consulta com Jordânia e Egito, que têm ampla experiência nessa área. Essa força será a solução de segurança interna de longo prazo. A ISF trabalhará com Israel e Egito para ajudar a proteger áreas de fronteira, juntamente com as novas forças policiais palestinas treinadas. É fundamental impedir a entrada de munições em Gaza e facilitar o fluxo rápido e seguro de bens para reconstruir e revitalizar a região. Será estabelecido um mecanismo de prevenção de conflitos acordado entre as partes.

16.Israel não ocupará nem anexará Gaza. À medida que a ISF estabelecer controle e estabilidade, as Forças de Defesa de Israel (IDF) se retirarão com base em padrões, marcos e prazos vinculados à desmilitarização, que serão acordados entre as IDF, a ISF, os países garantes e os Estados Unidos, com o objetivo de uma Gaza segura que não represente mais ameaça a Israel, ao Egito ou a seus cidadãos. Na prática, as IDF transferirão progressivamente o território de Gaza que ocupam para a ISF, conforme acordo a ser feito com a autoridade de transição, até sua retirada completa de Gaza, exceto por uma presença em perímetro de segurança, que permanecerá até que Gaza esteja devidamente protegida contra qualquer ressurgimento de ameaça terrorista.

17.Caso o Hamas atrase ou rejeite esta proposta, o que está descrito acima, incluindo a operação ampliada de ajuda, será implementado nas áreas livres de terrorismo transferidas das IDF para a ISF.

18.Será estabelecido um processo de diálogo inter-religioso baseado nos valores de tolerância e convivência pacífica, para tentar mudar mentalidades e narrativas de palestinos e israelenses, destacando os benefícios que podem ser obtidos com a paz.

19.Enquanto o processo de reconstrução de Gaza avança, e quando o programa de reformas da Autoridade Palestina for fielmente implementado, poderão finalmente estar reunidas as condições para um caminho credível rumo à autodeterminação e ao Estado palestino, que reconhecemos como a aspiração do povo palestino.

20.Os Estados Unidos estabelecerão um diálogo entre Israel e os palestinos para chegar a um horizonte político de coexistência pacífica e próspera.

 

( da redação com DW, AFP, EFE. Edição: Política Real)