31 de julho de 2025
BRASIL X ESTADOS UNIDOS

Lula e Zelensky finalmente se encontram em Nova York

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Por Política Real com agências
Publicado em
Lula e Zelensky Foto: Arquivo da Política Real

Com agências.

(Brasília-DF, 24/09/2025). Nesta quarta-feira, 24, em nova York, finalmente aconteceu o encontro entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, após um longo período de negociações entre os dois governos.

Lula e Zelensky se encontraram por volta das 11:40 (horário de Brasília), logo após a participação do brasileiro em uma reunião em defesa da democracia, na sede da ONU. A reunião bilateral é um ponto central de aproximação em uma relação que, nos últimos anos, foi marcada por uma troca mútua de farpas sobre os destinos da guerra na Ucrânia.

O encontro aconteceu durante a passagem de ambos pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e foi antecedido de uma série de idas e vindas ao longo de quase um ano.

A reunião foi feita a pedido dos ucranianos, mas um interlocutor do presidente Lula com quem a BBC News Brasil conversou em caráter reservado afirmou que o governo brasileiro demonstrava disposição para que o encontro se realizasse.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que as mudanças geopolíticas geradas pela atual política internacional do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tiveram relação com a mudança de postura de Zelensky e Lula e possibilitaram o encontro entre os dois líderes.

Sob Trump, eles afirmam, os Estados Unidos mudaram sua política de apoio incondicional à Ucrânia na guerra contra a Rússia, promoveram uma reaproximação com o líder russo, Vladimir Putin, e levaram Zelensky a procurar mais apoios junto à comunidade internacional para enfrentar o inimigo no campo diplomático.

Desencontros e recomeço

Parte da tensão na relação entre Lula e Zelensky tem origem no fato de que Lula, historicamente, cultivou uma proximidade estratégica com Vladimir Putin.

Os dois já estiveram juntos diversas vezes e comandam dois dos países fundadores do Brics, grupo que hoje agrega 11 economias emergentes, entre elas China, Índia e África do Sul.

Apesar de Lula ter condenado os ataques da Rússia à Ucrânia, ele foi constantemente cobrado por não romper relações com a liderança russa e por fazer declarações críticas ao apoio de países da Europa Ocidental e dos Estados Unidos à Ucrânia após o início da guerra.

Em 2022, por exemplo, durante a pré-campanha eleitoral daquele ano, Lula deu uma entrevista à revista americana Time em que disse que Zelensky "quis" a guerra e que ele se comportava como "o rei da cocada".

"Ele quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais [...] Mas há um estímulo [ao confronto]! Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada", disse Lula.

Em abril de 2023, já como presidente, Lula voltou a criticar o que chamou de "incentivo" à guerra na Ucrânia supostamente feito por países europeus e pelos Estados Unidos. Abertamente, ele defendia que a solução do conflito não se daria pela via armada, mas diplomática, por entender que seria militarmente impossível derrotar a Rússia.

Zelensky, por outro lado, rebateu as críticas de Lula.

"Acho que o presidente Lula é uma pessoa experiente, mas não entendo muito bem uma coisa: será que ele acredita que sua sociedade [o Brasil] não entende completamente o que está acontecendo e que ele conta com isso?", afirmou.

Em maio de 2023, Lula e Zelensky quase se encontraram durante a cúpula de líderes do G7 (grupo que reúne Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão), mas a reunião não aconteceu.

Segundo o governo brasileiro, Lula havia aberto espaço em sua agenda, mas Zelensky não compareceu. A situação gerou embaraço junto à delegação brasileira.

Durante uma das sessões do G7, o presidente brasileiro discursou diante de Zelensky.

"Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Ao mesmo tempo, a cada dia em que os combates prosseguem, aumentam o sofrimento humano, a perda de vidas e a destruição de lares. Tenho repetido à exaustão que é preciso falar de paz."

Havia expectativa de um encontro bilateral, que não ocorreu. Questionado em coletiva se estava desapontado, Zelensky devolveu: "Eu me encontrei com quase todos os líderes. Mas todo mundo tem seu próprio calendário, motivo pelo qual acho que não pudemos nos encontrar com o presidente brasileiro. Talvez a decepção seja dele".

Em setembro de 2023, durante a Assembleia Geral da ONU daquele ano, Lula e Zelensky finalmente se encontraram pela primeira vez, mas a reunião foi considerada fria e protocolar por assessores próximos do brasileiro.

Na ocasião, o então chanceler ucraniano Dmytro Kuleba disse que a reunião serviu para "quebrar o gelo".

Pouco depois, ele corrigiu a própria declaração. "Não que houvesse gelo entre nossos países, mas a conversa foi muito calorosa e honesta. Acho que agora os dois presidentes entendem melhor o lado de cada um."

Nos meses que se seguiram, porém, as farpas entre os dois continuaram. O Brasil formou um grupo juntamente com a China e outros países para tentar viabilizar uma saída diplomática para a guerra, mas, inicialmente, a Ucrânia não aderiu à proposta, que era avalizada por Brasil e China.

No ano passado, Zelensky criticou a postura de Lula.

"A China é um país democrático? Não. E o que dizer sobre o Irã? É um país democrático? Não. E o que dizer da Coreia do Norte? Eles não são países democráticos. Então, o que o Brasil, um grande país democrático, faz nessa companhia? Eu não consigo entender esse círculo de países", afirmou o presidente ucraniano em entrevista ao apresentador brasileiro Luciano Huck.

Em maio deste ano, Lula foi novamente alvo de críticas de analistas internacionais por sua viagem a Moscou durante as comemorações dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial.

O evento, marcado por uma enorme parada militar, é visto como uma demonstração de força do presidente Putin e a ida de Lula foi interpretada como um gesto de apoio político ao líder russo.

(  da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)