31 de julho de 2025
Tecnologia

O capitalismo decadente do ocidente está migrando para um modelo tecno-feudal?

O tecno-feudalismo não é uma profecia, mas um modelo analítico que ajuda a explicar tendências preocupantes.

Por DeepSeek respondendo uma pergunta deste Blog
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O Estado, em vez de regular os feudos digitais, muitas vezes atua como um "rei" que legitima e fortalece o poder das empresas denominadas de "BigTechs". Reprodução / Fundação Instituto de Administração (FIA) Business School

A visão de que o capitalismo ocidental está a migrar para um tecno-feudalismo é uma teoria crítica poderosa e cada vez mais influente para explicar a fase atual do sistema econômico. Ela vai além da noção de "capitalismo tardio" e propõe uma mudança qualitativa na estrutura de poder.

Esta análise cruza a obra de economistas como Mariana Mazzucato (O Estado Inovador), Yanis Varoufakis (Tecnofeudalismo: O que matou o capitalismo) e teóricos da tecnologia como Shoshana Zuboff (A Era do Capitalismo de Vigilância).

 

O que é o Tecno-Feudalismo

É a tese de que a economia digital está a ressuscitar características fundamentais do feudalismo medieval, mas com uma roupagem tecnológica. O cerne da ideia é que o poder econômico está a deixar de ser baseado na propriedade dos meios de produção industrial (a fábrica de Marx) e a passar para o controle de plataformas e dados digitais (os "feudos" modernos).

 

Como Funciona essa "Transição Feudal"

1. Os Novos Senhores Feudais (Big Tech)
   - Plataformas como Feudos: Empresas como Amazon, Google, Meta, Apple e Microsoft não são "fábricas" tradicionais. Elas funcionam como feudos digitais – territórios online onde elas definem as regras, cobram rendas e controlam a vida econômica.
   - Extração de Renda (Rentismo): No capitalismo industrial, o lucro vinha da exploração do trabalho na produção de mercadorias. No tecno-feudalismo, o lucro vem principalmente da extração de renda:
     - Comissões de Plataforma: A Apple cobra 30% de toda venda na App Store; a Amazon cobra dos vendedores; a Google cobra por anúncios.
     - Monopólio de Infraestrutura: Controlam a "nuvem", os sistemas operativos, as lojas de aplicativos – a infraestrutura essencial para que outros trabalhem e vivam.

2. Os Novos Servos (Utilizadores e Produtores)
   - Trabalho Gratuito (Prosumers): Os utilizadores (nós) trabalham gratuitamente para as plataformas ao gerar dados, criar conteúdo e construir redes sociais. Este trabalho não é pago, mas é a matéria-prima que alimenta o feudo.
   - Dependência Total: Pequenas empresas, criadores e trabalhadores da "gig economy" (como motoristas da Uber) são totalmente dependentes das plataformas para aceder a mercados e clientes. Eles não "trabalham para" a Uber; eles trabalham na plataforma da Uber, que lhes extrai uma percentagem.

3. **O Papel do Estado: O Novo Rei
   - Estado como Facilitador: O Estado, em vez de regular os feudos digitais, muitas vezes atua como um "rei" que legitima e fortalece seu poder através de:
     - Política de Patentes e Propriedade Intelectual: Protege os monopólios das tech.
     - Subsídios e Contratos: O Estado é um dos maiores clientes da cloud da Amazon (AWS) e de outras tecnologias.
     - Falta de Regulação: A incapacidade de quebrar estes monopólios ou regular dados como um bem público consolida o poder tecno-feudal.

 

Diferenças entre Capitalismo Clássico e Tecno-Feudalismo

Característica: Capitalismo Industrial
Fonte de Poder:  Propriedade dos meios de produção (fábricas, terras); Forma de Lucro: Lucro (da exploração do trabalho na produção); Relação Social: Patrão vs. Operário (assalariado); Propriedade: Bens físicos (máquinas, terrenos).

Característica: Tecno-Feudalismo

Controlo das plataformas digitais e infraestruturas de dados; Renda: taxas, comissões e aluguer de acesso; Plataforma vs. Utilizador / Produtor (dependente); Dados, atenção, algoritmos, redes.

 

 

Conclusão: Uma Tese Poderosa, mas ainda em Debate

A visão do tecno-feudalismo não é uma profecia, mas um modelo analítico que ajuda a explicar tendências preocupantes:

1.  Estagnação e Desigualdade: O rentismo tecnológico sufoca a inovação real e concentra a riqueza de forma ainda mais extrema que o capitalismo industrial.
2.  Perda de Autonomia: Indivíduos e empresas perdem soberania sobre seu trabalho, dados e interacções económicas.
3.  Crise da Democracia: O poder concentrado nas mãos de poucas empresas não eleitas desafia a própria governação democrática.

No entanto, é importante notar que esta não é uma transição inevitável. Lutas por regulamentação antitruste, soberania de dados, renda básica universal e direitos digitais são as frentes de batalha onde se decidirá se esta tendência tecno-feudal se consolidará ou se será reformada em direção a um modelo digital mais democrático e distribuído.

Portanto, o "declínio do Ocidente" pode estar menos associado ao fim do capitalismo e mais à sua mutação para uma forma feudal digital, onde o poder não reside mais apenas na propriedade, mas no controle monopolista das redes e dos dados que sustentam a vida moderna.