31 de julho de 2025
ECONOMIA

TENDÊNCIAS: Segundo FGV-IBRE tendências do Indicador do Comércio Exterior, face ao tarifaço, deverá ficar inalterado em setembro comparado com agosto

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Por Politica Real com assessoria
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FGV divulga o Icomex de setembro Foto: Imagem do site da FGV-IBRE

(Brasília-DF, 18/09/2025) Na manhã desta quinta-feira, 18, o FGV-IBRE divulgou o seu Icomex, que vem a ser o Indicador do Comércio Exterior, referente ao mês de agosto, analisando os efeitos do tarifaço no mercado nacional.  A tendência é que a queda de -2,0% nas importações se mantenha em setembro e que o saldo deverá ficar entre US$ 62 bilhões e US$ 65 bilhões. Mudanças nesses patamar, por conta da seção 301 só no final do ano.

Veja a íntegra do texto sobre o Icomex Agosto

O efeito do tarifaço em agosto não deve se repetir na mesma intensidade nos próximos meses

Sumário

1.    No mês de agosto, pela primeira vez desde abril de 2024, as importações registraram queda, em valor, na comparação interanual mensal (-2,0%). As exportações continuaram aumentando em relação ao ano de 2024, na base de comparação mensal. No acumulado do ano até agosto, porém, o crescimento em valor e volume das importações supera o das exportações.

2.    O aumento das exportações coincide com o início da vigência do tarifaço de Trump que levou a uma queda das exportações para o país em valor (-18,5%) e volume (-15,4%). Compensou essa queda o aumento de exportações para a China (34,6%, em volume) e para a Argentina (45,7%, em volume). No caso da China, com um desempenho com variações negativas ou abaixo de 11% até julho, o aumento das exportações de soja puxou a retomada do crescimento. Na Argentina, o desempenho favorável já ocorria desde o início do ano. Não é provável que se repitam os percentuais de variação de agosto.

3.    Na seção sobre o tarifaço, chamamos a atenção para o aumento do déficit com os Estados Unidos de US$ 745 milhões para US$ 3,4 bilhões no acumulado do ano até agosto, entre 2024 e 2025. No entanto, o tarifaço de Trump para o Brasil é motivado principalmente por questões de ordem política, havendo alguma possibilidade de negociação ou, melhor, de apresentação de fatos pela investigação da Seção 301.

4.    Apresentamos uma comparação entre a variação das exportações entre os meses de julho e os meses de agosto de 2024 e 2025 pelos setores da CNAE 2.0. A maioria dos setores mostra aumento em julho e queda em agosto, sugerindo que a queda de agosto está relacionada com a antecipação das exportações e deve desacelerar.

5.    Na comparação dos produtos que não foram isentos, foi observado que em vários casos houve queda de exportação para os Estados Unidos e aumento para o resto do mundo. Chama a atenção o caso de produtos de madeira, onde a diversificação de mercados não ocorreu em agosto. Algumas manufaturas tiveram sucesso, o que pode estar associado às estratégias das multinacionais.

6.    A melhora das exportações para a China e a queda para os Estados Unidos ajuda a explicar o pior desempenho das exportações da indústria de transformação em relação à agropecuária e à extrativa em agosto, mudando a tendência observada até julho.

7.    Mantemos a previsão de um saldo da balança comercial entre US$ 62 e US$ 65 bilhões.

O tarifaço do Trump em agosto

Pela primeira vez, desde abril de 2024, as importações registraram queda (-2,0%, em valor) na comparação interanual mensal. Um resultado que é compatível com a desaceleração do crescimento da economia. As exportações continuam aumentando em relação ao ano de 2024, na base de comparação mensal, um acréscimo de 3,9%. Observa-se que até junho, a variação nas importações sempre superou a das exportações. Em volume, repete-se o mesmo resultado. As exportações aumentaram em 7,3% e as importações recuaram em 3,8%, na comparação de agosto. No acumulado do ano até agosto, porém, a variação das importações (+8,3%) superou a das exportações (+2,8%) em volume e, em valor, aumento das exportações foi de 0,5% e das importações de 6,9%.

Com os resultados dos fluxos comerciais, o superávit da balança comercial em agosto (U$ 6,1 bilhões) superou o de igual período em 2024 (U$ 4,5 bilhões), o que não ocorria desde janeiro. No acumulado do ano até agosto, porém, o superávit de 2025 (U$ 42,8 bilhões) é inferior ao de 2024 (U$ 53,6 bilhões).

O segundo se refere ao papel do tarifaço de Trump no comércio exterior brasileiro.

Os efeitos do tarifaço de Trump em agosto

O crescimento em valor e volume das exportações brasileiras em agosto foi liderado pela China, que explicou 31,8% das exportações brasileiras e registrou variação de +31%, em valor, e +34,6%, em volume. Com esse resultado, a Ásia foi responsável por 45,9% das vendas externas do país (Gráfico 2).

A Argentina, o terceiro principal parceiro, com 5,5% das exportações do país, aumentou, na comparação interanual de agosto de 2024 e 2025, 40,4%, em valor, e 45,7%, em volume.

Em sentido oposto, caíram as vendas para os Estados Unidos em valor, 18,5% e em volume, 15,4%, com participação de 9,2% no total exportado pelo Brasil. E para a União Europeia, responsável por 13,5% das exportações, queda de 11,9%, em valor, e de 9,4%, em volume. Pelo lado das importações, essas, em valor, caíram para a China em 5,9%, em 3,0% para a União Europeia e em 11,7% para a Argentina. Entre os principais parceiros, portanto, só aumentaram para os Estados Unidos, em 4,6%. Da mesma forma, em volume apenas os Estados Unidos registraram crescimento.

As variações do volume na comparação dos acumulados do ano até agosto mostram a liderança nas exportações da Argentina, com aumento de 53,2%, seguida da China (+5,0%) e nas importações, a liderança da China (+22,5%), seguida dos Estados Unidos (+12,4%).

A balança comercial por principais parceiros na comparação dos acumulados mostra um aumento do déficit dos Estados Unidos de US$ 745 milhões para US$ 3,4 bilhões e uma queda no superávit com a China de US$ 28,5 bilhões para US$ 19,9 bilhões. Uma pequena piora no saldo com a União Europeia, que passou de um superávit de US$ 9,8 milhões para um déficit de US$ 1,1 bilhões e uma melhora do saldo com a Argentina de um déficit de US$ 230 milhões para um superávit de 4,1 bilhões.

Os resultados favoráveis para a Argentina que se acumulam ao longo do ano estão estritamente relacionados às exportações do setor automotivo. Para se ter uma ideia desse retrato na comparação entre os acumulados do ano até agosto, quatro itens do setor automotivo que explicaram 43,4% das vendas brasileiras para a Argentina registraram variações positivas: veículos para passageiros (144%), veículos para transportes (159%), veículos rodoviários (308%) e partes e peças para veículos automotivos (24,8%). Não é provável que essa trajetória se sustente, pois os elevados percentuais se explicam pelo baixo nível das vendas até meados de 2024.

No caso da China, houve uma retomada das vendas que, em volume, registraram variações negativas no início do ano e depois de março percentuais abaixo de 11%, sendo de 0,5% entre os meses de julho. Observa-se que em 2024, o pico da série foi atingido em julho e depois o volume desacelerou. Em 2025, o pico até o momento foi em junho. A pergunta é: irá se repetir o ocorrido em 2024 ou a China irá absorver parte das vendas que eram destinadas aos Estados Unidos e manter o volume pelo menos estável? Na comparação do mês de agosto de 2024 e 2025, a soja respondeu por 34,8% das exportações para esse mercado com aumento de 28,4%, o petróleo por 22,7% e aumento de 78,5%, o minério de ferro, 19,3% com aumento de 4,9% e a carne bovina com participação de 9,3% e aumento de 89,8%. No caso da soja, existe o risco de se repetir o que ocorreu no governo Trump 1.0, onde os chineses se comprometeram a comprar mais soja dos Estados Unidos. O Brasil poderá continuar a ser o principal fornecedor, mas alguma perda haverá.

Se para a China foi observado um aumento em agosto das exportações, para os Estados Unidos, após a queda no volume em agosto, é esperado que não mantenha a relativa estabilidade observada em 2024, após esse mês. O quanto vai cair, ainda não está claro. Uma notícia favorável, por exemplo, foi a retirada da tarifa de 10% sobre a celulose, que estava isenta no tarifaço de 6 de agosto. Pressões de outros grupos, em especial, dos torrefadores de café poderão isentar o produto. Além disso, a questão da imprevisibilidade continua a ser marca do governo Trump 2.0.

A Tabela 1 mostra a participação do segmento da CNAE nas exportações para os Estados Unidos em agosto de 2024 e de 2025. Depois, a variação entre os meses de julho e de agosto desses mesmos anos. Dos 26 segmentos analisados, 18 registraram variação positiva entre os meses de julho de 2024 e 2025 e todos experimentaram queda ou desaceleração na comparação da variação de julho com a dos meses de agosto. Comparam-se os mesmos meses para evitar efeitos sazonais.

Observa-se que somente 5 registraram variação positiva entre os meses de agosto de 2024 e 2025, sendo que 1 com variação abaixo de 1%. Destaca-se nesse grupo, o segmento de Máquinas e Equipamentos, que avançou sua participação de 7,2% para 10,2% entre agosto de 2024 e 2025 e que após pequena queda em julho de 2025, registrou aumento em agosto. Aqui podem ter produtos isentos e não isentos.

Outros segmentos com participações acima de 10% são:

i)    Os produtos da extração de petróleo e gás natural estão quase todos isentos. Sua participação cresceu na pauta dos Estados Unidos de 17,3% para 21,2%, entre os meses de agosto de 2024 e 2025. Há um aumento de 77,1% entre os meses de julho e, em agosto, uma retração de 0,1%.

ii)    A segunda maior participação é a Metalurgia (17,4%), sem alterações. Já incidiam tarifas mais elevadas sobre vários produtos desse grupo antes do tarifaço ser anunciado em julho, há redução em julho e agosto.

iii)    A terceira maior participação é de produtos alimentícios (12,1%), que se mantem quase igual em 2024 e 2025, e que em julho registra aumento e em agosto, queda.

A tabela mostra que para quase todos os setores o recuo nas vendas de agosto foi precedido por aumentos em julho na comparação interanual mensal.

A Tabela 2 foi construída a partir da seleção dos 30 principais produtos exportados no acumulado do ano até agosto de 2025. Depois foram selecionados os produtos que não estão isentos do tarifaço. O objetivo é comparar a variação das exportações para os Estados Unidos com a variação para o resto do mundo (exportações totais menos as exportações para os Estados Unidos). Entre os que apresentam queda nas vendas para os Estados Unidos, alguns registraram variações positivas e elevadas (acima de 30%) para o resto do mundo. Estão nesse grupo: outras semimanufaturas de ferro e aço; carne de bovino; produtos semimanufaturados de ferro e aço; e, transformadores. Produtos de madeira e fumo estão entre os que não conseguiram compensar a queda das exportações para os Estados Unidos.

A apresentação das tabelas não visa fazer um levantamento minucioso de todas as perdas e ganhos, mas pretende ressaltar a diversidade de situações por setor e produtos. As manufaturas, que em princípio se considera de forma geral mais difícil diversificar, encontraram compensações para as perdas nos Estados Unidos. Como muitas indústrias de manufaturas do Brasil pertencem à multinacionais, estratégias de diversificação são possíveis de serem implementadas.

A nível macro, é preciso agora observar se a retração de agosto é uma consequência da antecipação de alguns segmentos e produtos ou se vai perdurar, levando a uma trajetória descendente do volume exportado para os Estados Unidos. Achamos pouco provável esse cenário. O nível de exportações pode mudar, mas alguma retomada e estabilidade são esperadas.

A balança comercial por nível de atividade e commodities

O aumento das exportações em agosto foi liderado pelas commodities, o que não aconteceu nos meses anteriores. O volume cresceu 10,3% e o das não commodities em 0,9%. No acumulado do ano até agosto, a situação se inverte, commodities com variação de 0,3% e não commodities 8,9%. Os preços das commodities recuam e das não commodities aumentam nas duas bases de comparação.

O comportamento antes descrito está refletido no desempenho por nível de atividade. Em agosto, a liderança em volume exportado foi da extrativa (+21,3%), seguida da agropecuária (+6,1%) e da transformação (+2,4%). Em termos de valor, o principal produto de exportação da transformação foi a carne bovina, que registrou variação positiva de 56%, mas celulose, açúcares, farelo de soja, que estão entre os principais produtos, registraram queda. O mesmo se observa para aviões, semimanufaturas de aço, entre outros. Os veículos de passageiros continuam crescendo com variação de 51% por causa das vendas para a Argentina. Em termos de participação nas exportações totais da indústria de transformação, a participação dos Estados Unidos caiu de 16,3% para 12,8%.

No entanto, até julho, a liderança das exportações totais do Brasil era da transformação, o que explica porque apesar do melhor desempenho da extrativa e da agro, na comparação do acumulado até agosto, a liderança é da transformação, seguida da extrativa, +3,6% e recuo da agropecuária em 1,9%.

Em agosto, recuam as importações da indústria de transformação e crescem a da agropecuária e da extrativa. Como as importações da transformação dominam as compras externas do Brasil, cerca de 92% a 95%, as importações totais caíram, como analisamos anteriormente.

A queda das importações foi puxada pelos bens de capital e os bens duráveis, em agosto. Observa-se que no acumulado do ano até agosto, as importações de bens de capital registraram variação positiva de 18,5%.

As perspectivas para os próximos meses, se não surgirem novas surpresas por parte do governo Trump, é de uma possível desaceleração no crescimento das exportações e das importações. O saldo da balança comercial deverá ficar entre US$ 62 bilhões e US$ 65 bilhões. No campo das negociações com os Estados Unidos, com o andamento da Seção 301 há, porém, o risco de nova tarifas, mas serão para o final do ano.

O esforço de diversificação do mercado continua na agenda e deve se manter o canal aberto para as negociações de caráter técnico.

Por último, o risco de aumento da vulnerabilidade externa via conta corrente parece pouco provável com a manutenção da taxa de juros do Brasil, a queda da taxa de juros nos Estados Unidos e perspectivas positivas para a entrada de capital estrangeiro.

 

( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)