Fernando Haddad convida os governadores a virem a Brasília negociar suporte por conta do tarifaço; ele negou que as compensações ao tarifaço serão feitas “fora da meta fiscal”
Veja a íntegra da coletiva à porta do Ministério da Fazenda nesta sexta-feira, 1º de agosto
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(Brasília-DF, 01/07/2025) O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, conversou com os jornalistas à porta do Ministério da Fazenda na manhã desta sexta-feira,1 de agosto.
Ele falou sobre diversos assuntos, provocados pelos jornalistas, e convidou os governadores a virem a Brasília para discutirem formas do Governo Federal dar suporte para as implicações econômicas e financeiras que se darão a partir da implementação das tarifas dos Estados Unidos a partir do dia 7 de agosto.
“Então, o governador que quiser vir à Brasília para fazer parceria, no sentido de socorrer a sua indústria, a sua agricultura, nós estamos aqui. Nós vamos estar com os instrumentos disponíveis para fazer isso.
O governador Eumano (de Freitas, do Ceará) é o primeiro que está vindo nessa condição, de somar forças com o governo federal, sem ideologia, sem tentar tirar vantagens políticas, fazendo o que tem que ser feito. Foco no empresário, foco no trabalhador, foco no interesse nacional. Nós estamos completamente disponíveis.”, disse.
Ele foi questionado pelos jornalistas se o apoio aos Estados, aos sindicatos e empresários seria feito fora da meta fiscal. Ele negou.
“Não, não. A nossa proposta que está sendo encaminhada não vai exigir isso. Embora tenha havido da parte do Tribunal de Contas a compreensão de que se fosse necessário, mas não é a nossa demanda inicial.”, disse.
Veja a íntegra da coletiva de Fernando Haddad:
JORNALISTAS: Surgiram informações de que o governo decidiu neste momento suspender a decisão de retaliar os Estados Unidos, que a ideia agora é insistir nas negociações. O senhor confirma, o senhor tem informação disso, que o governo não vai mesmo retaliar os Estados Unidos?
Fernando Haddad: É que não houve desistência da decisão porque essa decisão nunca foi tomada. Nós nunca usamos esse verbo para caracterizar as ações que o governo brasileiro vai tomar.
São ações de proteção da soberania, proteção da nossa indústria, do nosso agronegócio, da nossa agricultura. Então são medidas de reação a uma ação, na nossa opinião, injustificável, de proteção da economia brasileira e da soberania brasileira. Então essa palavra não figurou no discurso do presidente nem de nenhum ministro.
Nós entendemos que há canais competentes onde o Brasil pode defender os seus interesses, na OMC, na Justiça Americana, onde vários empresários, tanto dos Estados Unidos quanto do Brasil, estão recorrendo para salvaguardar os seus interesses e os contratos que foram estabelecidos e, sim, buscar os canais diplomáticos competentes para atenuar o efeito da decisão sobre a economia brasileira. A tarifa de 50% é realmente uma coisa injustificável, fora do padrão de relacionamento dos Estados Unidos com qualquer outro país. Isso não tem parâmetro que justifique essa decisão e nós estamos procurando esses canais.
Do nosso lado aqui, nós já, junto com o vice-presidente Geraldo Alckmin, estamos encaminhando aqui para o Palácio do Planalto as primeiras medidas já formatadas para que o presidente julgue a oportunidade e conveniência de soltá-las, mas, a partir da semana que vem, nós vamos poder, a julgar pela decisão do presidente, tomar as primeiras medidas de proteção da indústria e da agricultura nacionais e vamos continuar prosperando pelo Itamaraty junto aos canais competentes para atenuar esses efeitos e fazer chegar às autoridades norte-americanas que, efetivamente, há uma muita desinformação a respeito do funcionamento da democracia brasileira.
JORNALISTAS: Ministro, esse encontro com o Scott Bassett deve acontecer antes do dia 6? Só mais... Você pode adiantar algumas dessas medidas para a gente, ainda que ainda falte a definição por parte do presidente Bolsonaro?
Fernando Haddad: Não, mas são... as medidas são já mais ou menos conhecidas. O que nós estamos é calibrando, junto com os sindicatos de trabalhadores, com os sindicatos patronais, junto à Casa Civil, nós estamos calibrando os números, tanto, por exemplo, o valor, o volume de recursos necessários para socorrer essas empresas afetadas no primeiro momento.
Algumas não vão reivindicar uma ajuda adicional, porque têm condição de redirecionar a sua produção, estão buscando outros mercados, e vão fazendo, inclusive, o mercado interno está aquecido, a demanda por produtos alimentares está crescendo no Brasil, a renda está crescendo no Brasil, o desemprego está na mínima histórica. Então, você tem aqui no mercado doméstico uma opção. Eu vou receber, para citar um exemplo, o governador do Ceará, o governador Eumano( Freitas), está vindo aqui à tarde, porque ele quer um apoio para a compra de produtos, gêneros de alimentos para a merenda do Estado do Ceará, e, pelo que eu entendi, ele vai nos apresentar uma pequena mudança legislativa que seria necessária, na opinião dele, para fazer da maneira como ele pretende, de forma acelerada, para dar respaldo jurídico para as decisões que ele quer tomar.
Essas parcerias são muito importantes. Então, o governador que quiser vir à Brasília para fazer parceria, no sentido de socorrer a sua indústria, a sua agricultura, nós estamos aqui. Nós vamos estar com os instrumentos disponíveis para fazer isso.
O governador Eumano é o primeiro que está vindo nessa condição, de somar forças com o governo federal, sem ideologia, sem tentar tirar vantagens políticas, fazendo o que tem que ser feito. Foco no empresário, foco no trabalhador, foco no interesse nacional. Nós estamos completamente disponíveis.
JORNALISTAS: Ministro, a questão do Scott Besset. Você acha que esse encontro vai acontecer antes do dia 6 de agosto? E quais são as suas expectativas para essa reunião com o Scott Besset, que manifestou interesse?
Fernando Haddad: Desde que ele estava na Europa, nós estamos praticamente entrando em contato dia sim, dia não, com a assessoria dele, nos colocando à disposição. Ele é uma figura central, porque a secretaria dele, que é o Ministério, na verdade, a Secretaria é uma dimensão política importante.
Então, ele inclui a sua economia e tem alguns aspectos da decisão do presidente Trump que resvalam na política. Aliás, é deliberadamente política a decisão. E o Scott Bessens é alguém que pode ajudar, pode ajudar a mediar o entendimento.
Até porque haja compreensão, repito, de como funcionam as instituições brasileiras e dos limites que o executivo tem, do ponto de vista constitucional e do ponto de vista da harmonia entre os poderes, de tomar medidas inconcebíveis de acordo com as nossas práticas democráticas. Então, isso tudo precisa ser compreendido pelo lado de lá, porque senão passa uma impressão equivocada do que está acontecendo. E essa reunião deve acontecer antes do dia 6? Olha, não depende de mim.
Eu estou disponível a todo tempo. Sábado, domingo, madrugada, estou disponível.
JORNALISTAS: Ministro, esse pacote de ajuda vai ser por fora da meta fiscal, como disse o Alckmin ontem?
Não, não. A nossa proposta que está sendo encaminhada não vai exigir isso. Embora tenha havido da parte do Tribunal de Contas a compreensão de que se fosse necessário, mas não é a nossa demanda inicial. Nós entendemos que nós conseguimos operar dentro do marco fiscal sem nenhum tipo de alteração.
JORNALISTAS: Quebra de patente de medicamentos, ministro. Está na pauta o presidente Lula pedir um estudo sobre isso?
Fernando Haddad: Na verdade, o presidente Lula pediu um estudo sobre tudo. Ele quer saber, no curto, médio e longo prazo, o que ele tem à mão.
Mas não está na ordem de considerações nesse momento. Mas quando nós fizemos aquele levantamento, depois de contingência, o pedido do presidente foi saber tudo que está à disposição de um Estado soberano como o Brasil para se proteger. O presidente quer proteger os brasileiros.
Então, ele tem que saber qual a munição que ele tem. Mas o uso disso vai ser feito com parcimônia, inteligência, cautela. Como ele sempre diz nas reuniões, sem bravata.
Não nos interessa isso. Os governos são passageiros, os Estados nacionais são permanentes. O Brasil vai continuar tendo relações com os Estados Unidos.
Daqui a dois anos tem eleição aqui, daqui a quatro anos tem eleição lá. Então, nós temos que compreender que tem uma questão estrutural da parceria entre os dois países. Mas nós temos que administrar uma situação incomum.
É um gesto do presidente americano que, por razões conhecidas, divulgadas por vocês, tem recebido da parte da oposição, especificamente do bolsonarismo, informações equivocadas sobre o Brasil. Nós precisamos dissipar essa desinformação e trazer o debate para a racionalidade em busca da cooperação. Eu repito uma coisa que é importante.
Os Estados Unidos têm perdido espaço na economia brasileira. Eles representavam 25% das nossas exportações. Hoje, representam menos da metade.
Isso não é bom, porque é a maior economia do mundo. Durante os últimos dois anos da administração Biden, nós fizemos o possível para trazer mais investimentos para os americanos para cá, para fazer mais parcerias, sobretudo na pauta da transição energética, da transformação ecológica. Mostramos os vários setores em que nós podemos cooperar.
Nós continuamos pensando da mesma maneira. Embora tenha havido uma troca de comando lá, o nosso objetivo enquanto Estado nacional continua sendo o mesmo. Mais parceria com os Estados Unidos.
Nós não vamos mudar, porque agora tem um presidente menos alinhado com a sociedade brasileira. Não, ele tem o direito lá de fazer isso, de defender a economia dele, nós é nós. Mas há muito espaço para parceria, muito espaço.
É sobre isso que nós temos que jogar a luz. Mostrar para eles que não tem essa do Brasil cair no polo de A, B ou C. O Brasil é grande demais. Nós podemos realmente estreitar os nossos de cooperação, desde que seja bom para os dois lados.
E há muito espaço para isso. O Brasil tem, obviamente que concorre com os Estados Unidos em alguns aspectos, sobretudo na produção de grãos, carne, uma série de coisas que eles produzem tanto quanto nós, mas há muitas complementariedades também. Então, do mesmo jeito que nós estamos ainda na mesa para encerrar proveitosamente o acordo União Europeia-Mercosul, pode ser uma grande coisa fazer os dois blocos, do mesmo jeito que nós estamos a ASEAN, a China, como destino das nossas exportações, nós vamos fazer esforço junto aos Estados Unidos para mostrar que tem muito espaço para cooperação.
Eles têm participado pouco de licitações no Brasil. A nossa infraestrutura está crescendo como há muito tempo não se vê. Se você pegar os indicadores de investimento em infraestrutura, eles são robustos.
Isso que está segurando emprego, que está segurando renda. Então, por que eles não podem participar mais da nossa economia? Nós somos abertos. Não tem problema.
Agora, ao invés de jogar foco em coisas laterais, que não dizem respeito aos Estados Unidos, dizem respeito ao Brasil. São problemas internos que nós estamos resolvendo da nossa maneira, com as nossas instituições. Vamos buscar o lado que eu posso servir.
Se você pegar o número de reuniões que eu tive com a Janet Yellen em busca desse entendimento, foram muitas, e eu estou disposto a fazer a mesma coisa com esse com essa administração. Eu não vou discriminar, porque o interesse nacional prevalece sobre qualquer um. Aí é com ele.
Ele pede sugestões, eu já encaminhei, mas o pronunciamento é...
JORNALISTAS: Ministro, esse socorro às empresas, pode ter essa questão do salário mínimo, como foi feito na pandemia, socorrer os empregados das empresas?
Fernando Haddad: Nós vamos sentar com os sindicatos para discutir.
( da redação com informações de assessoria e IA. Edição: Política Real)