Fernando Haddad disse que está sendo calibradas as medidas para atender setores atingidos pelo “tarifaço” especialmente o agro; Haddad disse que deverá ter nova conversação com Scot Besset, do Tesouro dos EUA
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(Brasília-DF, 31/07/2025) Na manhã desta quinta-feira, 31, o ministro Fernando Haddad, conversou com os jornalistas à porta do Ministério da Fazenda, na Esplanada dos Ministérios, na Capital Federal. Uma tradição de todos os ministros da Fazenda. Ele comentou, questionado, sobre a ordem executiva emitida pelo Governo dos Estados Unidos sobre a aplicação das tarifas sobre exportações brasileiras que agora terá exceções e só valerá a partir de 6 de agosto.
Haddad disse que o Governo está “calibrando” o plano de contingência que será ofertado para setores atingidos pelo “tarifaço”, especialmente o agro.
“Nós vamos lançar, parte do nosso plano previsto vai ser apreciado para ser lançado nos próximos dias, de apoio à proteção à indústria brasileira, aos empregos no Brasil, ao agro também, quando for o caso, que há casos em que isso pode acontecer. Dentro do plano de contingência já havia a previsão de medidas nessa direção e nós vamos agora calibrar justamente para, à luz do que foi anunciado ontem, nós vamos fazer a calibragem para que isso possa acontecer o mais rápido possível.”, disse.
Haddad disse que haverá uma nova face de conversações, dele, com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scot Besset.
“Agora, nada do que foi decidido ontem não pode ser revisto, nós vamos poder sentar e de novo, eu repito o que eu disse, eu penso que essa semana é o começo de uma conversa mais racional, mais sóbria, menos apaixonada, e também explicar como funciona o nosso poder judiciário. “, disse.
Ele foi questionado quando será essa nova conversação:
“Gente, ele estava na Europa, conforme eu disse a vocês, ele está com emissão na Europa, voltou essa semana, já houve o primeiro contato, mas, bem, nós estamos em uma etapa melhor do que antes, então vamos seguir o caminho de argumentar. “, disse.
Veja a íntegra da conversa com os jornalistas:
Fernando Haddad: ....Como nós havíamos adiantado, nós entendemos que essa semana não é o ponto de chegada, é o ponto de partida de uma negociação, na nossa opinião houve sensibilidade para algumas considerações que nós já havíamos feito mais de uma vez, de que isso não ia só afetar o trabalhador brasileiro, ia afetar o consumidor americano.
Então, algumas das nossas observações evidentemente foram apreciadas e contempladas, mas nós estamos longe do ponto de chegada. Nós estamos em um ponto de partida mais favorável do que se imaginava, mas longe do ponto de chegada.
Há muita injustiça nas medidas que foram anunciadas ontem, há correções a serem feitas, há setores afetados que não precisariam estar sendo afetados, nenhum a rigor, mas há casos que são dramáticos, que deveriam ser considerados imediatamente. A assessoria do secretário Benson fez contato conosco ontem e que finalmente vai agendar uma segunda conversa. A primeira, como eu havia adiantado, foi em maio na Califórnia.
Haverá agora uma porta de negociações. Nós vamos levar as autoridades americanas nos nossos pontos de risco e obviamente vamos recorrer, mas em instâncias devidas, tanto nos Estados Unidos quanto nos organismos internacionais, vamos recorrer dessas decisões no sentido de sensibilizar que isso não interessa, não é o Brasil, não interessa a América do Sul, nós estamos no mesmo continente, nós estamos por buscar mais integração, mais parceria. Você veja que o comércio do Brasil com os Estados Unidos, ele já representou, quando o presidente Lula tomou posse, em 2003, o comércio com os Estados Unidos representava só 25% das nossas exportações.
Hoje representa só 12%. Ao invés de crescer, nós diminuímos. Nós temos que buscar mais integração, não menos.
Essa atitude vai nos afastar ao invés de nos aproximar. E nós queremos aproximação. Por quê? Porque o Brasil tem uma economia grande que não pode ser apêndice de nenhuma outra.
Nem da China, nem da União Europeia, nem dos Estados Unidos. Nós temos que criar um equilíbrio. E a postura do presidente Lula, nos seus três mandatos, tem sido de buscar um equilíbrio no comércio.
Nós estamos ampliando as nossas exportações, mas procurando equilibrar entre os vários destinos, justamente para não ter dependência de nenhum dos blocos econômicos e poder funcionar a economia. Nós vamos lançar, parte do nosso plano previsto vai ser apreciado para ser lançado nos próximos dias, de apoio à proteção à indústria brasileira, aos empregos no Brasil, ao agro também, quando for o caso, que há casos em que isso pode acontecer. Dentro do plano de contingência já havia a previsão de medidas nessa direção e nós vamos agora calibrar justamente para, à luz do que foi anunciado ontem, nós vamos fazer a calibragem para que isso possa acontecer o mais rápido possível.
Os atos já estão sendo preparados aqui na Fazenda para encaminhamento para a Casa Civil. Eu penso que nos próximos dias nós vamos ter anúncios nessa direção. Mas o mais importante é mostrar que a atitude do Brasil tem sido a atitude correta, de argumentar, levar à consideração do governo dos Estados Unidos os pontos de vista sóbrios, serenos e maduros do Brasil, buscar mais cooperação.
Nós temos um bloco econômico aqui, que é o Mercosul, que não pode sofrer com desequilíbrios internos, isso provoca um desequilíbrio dentro do Mercosul. Então há uma série de efeitos colaterais indesejáveis dessas medidas. Então nós vamos, conforme eu disse, nós nunca saímos da mesa, não é agora que vamos sair.
JJORNALISTAS: Ministro, mais de 700 produtos ficaram fora da lista do tarifaço, e o presidente Lula pediu para que a Fazenda, junto com o MDIC, que fizesse esse detalhadamento aí do impacto. Qual setor o senhor acha que pode, de início, pode ser o mais afetado, que vai ser negociado como prioridade para reduzir ou tirar a tarifa?
Fernando Haddad: Não é uma questão de prioridade. As vezes o setor é muito pequeno, aí você fala, não precisa priorizar, mas às vezes ele é muito frágil.
Então tem setores que na pauta de exportação ele não é significativo, mas o efeito sobre ele é muito grande. Então é isso que está sendo feito, pelo MDIC e pela Secretaria de Política Econômica, para que nós possamos, no anúncio do plano de contingência, delimitar as linhas de crédito, o apoio que vai ser dado a cada um, e a cada um seguindo essa necessidade, porque às vezes o setor é pequeno, mas é importante para o Brasil manter os empregos e tal. Então isso está sendo feito.
Obviamente que tem setores afetados, cuja solução de curto prazo é mais fácil, porque ou se trata de uma commodities, que o Brasil tem muitos mercados abertos, mas ainda esses, vão exigir algum tempo de adaptação. Você não muda um contrato de uma hora para outra. Então nós vamos ter que analisar caso a caso, vamos ter as linhas disponíveis para isso, mas eu preciso observar que todo mundo vai se adaptar e as negociações vão se aprofundar.
Então, eu quero crer que nós vamos, da mesma maneira que conseguimos nessa primeira rodada, vamos dizer, alguma sensibilidade, eu penso assim, se o bom senso prevalecer, nós vamos chegar do outro lado da piscina ali, e são e salvo.
JORNALISTAS: ....O governo já vinha contando com esses adiamentos e essas exceções?
Fernando Haddad: O que eu falei para vocês, na última semana, sobretudo nos últimos 10 dias, vamos dizer assim, parecia haver uma abertura maior aos argumentos brasileiros, argumentos da diplomacia brasileira, sobretudo sobre a condução do vice-presidente, mas também do Itamaraty, havia maior sensibilidade, nós não sabíamos se isso ia se traduzir já numa mudança de postura.
Então, é bom que o ponto de partida seja melhor, mas eu repito, o ponto de partida é melhor do que se esperava, mas nós estamos longe do ponto de chegada, então vai exigir muita negociação, mas são duas nações, eu sempre faço questão de frisar, são duas nações que têm 200 anos de bom relacionamento, então se isso for levado em consideração, não há como não chegar lá.
JORNALISTAS: Mas ministro, o café e a carne não entraram, o café da manhã do americano vai ficar mais caro com essas medidas?
Fernando Haddad: Olha, eu não sei qual é a avaliação que eles têm lá, mas a primeira coisa que eu disse quando foi anunciado o tarifaço foi, olha, vão pagar mais caro o café da manhã, porque era suco de laranja, era café, era carne, então imaginava que algumas dessas coisas iam ser repetidas, como foram.
Agora, a nossa maior preocupação naquela ocasião era o suco, por causa do tipo de integração da cadeia produtiva, nós não ..... o suco aqui, então uma indústria lá que faz isso e distribui, então tinha algumas questões que nos pareciam muito assim, fora de propósito.
Agora, nada do que foi decidido ontem não pode ser revisto, nós vamos poder sentar e de novo, eu repito o que eu disse, eu penso que essa semana é o começo de uma conversa mais racional, mais sóbria, menos apaixonada, e também explicar como funciona o nosso poder judiciário.
Tem que haver uma compreensão de uma democracia, de como funciona a outra democracia, então nós vamos levar em consideração que nós temos um poder judiciário que funciona, e quando ele não funciona, ou quando se tem a percepção de que ele não está funcionando bem, você tem o Comitê de Direitos Humanos da ONU, o presidente Lula não recorreu ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, quando ele se sentiu, falou, eu não estou sendo julgado com imparcialidade, recorreu aos organismos internacionais. O Brasil é signatário de todos os acordos e convenções internacionais que protegem os direitos humanos. Alguém está incomodado, tem 10 instâncias para recorrer.
Não precisa recorrer à agressão de uma potência externa contra os interesses do Brasil. Faz o que o presidente Lula fez, recorre.
JORNALISTAS:.......Você acha que uma má-fé do presidente Trump é mais má-fé do que falta de compreensão, não é não?
Fernando Haddad: Isso aí não cabe a mim falar dessa maneira porque é o seguinte, nós estamos sentados numa mesa de negociação que a gente tem que fazer agora, não é ficar se agredindo mutuamente, esse não é o caminho, nós temos que falar o seguinte, olha, nós queremos sentar mesmo para discutir tudo, e queremos levar, que vocês levem em consideração, não somos uma democracia, nós temos as nossas instituições, elas são livres, todos os ministros ali foram sabatinados e aprovados por um outro poder, foram indicados por um, foram sabatinados por outro, tem rito aqui, e nós somos signatários das convenções internacionais, você não precisa ficar sequer preso, você tem uma legislação ampla de defesa dos direitos do Brasil, talvez o Brasil seja uma das democracias mais amigas do mundo, ao contrário do que a ordem executiva faz creio, é um dos países mais democráticos do mundo hoje.
O Brasil é signatário de todos os acordos internacionais, então há muito aí caminho para buscar reparação quando uma justiça está sendo cometida, não parece ser o caso, e é por isso que nós temos que explicar que a perseguição ao ministro da Suprema Corte não é o caminho de aproximação entre os dois países.
JORNALISTAS: Vai ter novo encontro com Scot Besset...tem uma data....?
Fernando Haddad: Eu acredito que é fruto de desinformação, ou de má informação que está sendo prestada por brasileiros nos Estados Unidos, nós somos uma das democracias mais consolidadas do mundo, qualquer cidadão brasileiro tem à disposição todos os instrumentos de defesa dentro e fora do Brasil, nós somos signatários de acordos internacionais, de tratados internacionais, eu não consigo lembrar de uma convenção importante que o Brasil já não tem incorporado ao seu sistema jurídico,
Então, está havendo desinformação, e eu repito o que eu venho dizendo há muito tempo, é muito diferente quando você tem uma força interna trabalhando com os interesses do país, isso fragiliza o Brasil, e isso não está acontecendo em nenhum outro país do mundo, só está acontecendo no Brasil.
As pessoas precisam compreender que isso fragiliza a posição do país, isso não é bom nem para a democracia, nem para a soberania, isso não concorre para os interesses nacionais, então vamos buscar os canais competentes, como a democracia determina.
JORNALISTA: Ministro, esse sinal verde do Scott Bessing, para poder conversar com o senhor, é um sinal positivo, digamos assim, para essa segunda rodada de negociações, então, como o senhor falou, nada definitivo, então as negociações continuam, e esse sinal dele, essa sinalização, é algo de que mais coisas serão negociadas, mais produtos serão negociados para os Estados Unidos.
JORNALISTA: Só para completar, tem uma data, sinalizaram uma data para o senhor possível?
Fernando Haddad: Gente, ele estava na Europa, conforme eu disse a vocês, ele está com emissão na Europa, voltou essa semana, já houve o primeiro contato, mas, bem, nós estamos em uma etapa melhor do que antes, então vamos seguir o caminho de argumentar.
Nós estamos no mesmo continente, temos que compreender que nós temos que buscar um resultado muito melhor do que esse, muito melhor, eu sei que tem muita gente aliviada e eu também estou por eles, mas pelo Brasil, nós ainda temos muito trabalho para fazer.
( da redação com informações de assessoria e redes sociais. Edição: Política Real)