Pesquisa ICOMEX mostra que antes do tarifaço de Trump as exportações caíram 0,7% no primeiro semestre, informa FGV
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( Publicada originalmente às 08h 30 do dida 14/07/2025)
(Brasília-DF, 15/07/2025) Na manhã desta segunda-feira, 14, a FGV(Fundação Getúlio Cargas) divulgou a sua pesquisa da ICOMEX referente a junho. O documento do Indicado do Comércio Exterior de 23 páginas faz uma avaliação do tarifaço sobre o Brasil. Preliminarmente, só com a chegada de Donald Trump ao comando dos Estados Unidos fez com que as exportações caíssem 0,7% no primeiro semestre de 2025.
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Sumário Executivo:
1. A seção sobre o tarifaço Trump em relação às exportações brasileiras apresenta uma visão preliminar sobre os produtos/setores mais dependentes do mercado dos Estados Unidos. A mesma seção ressalta as dificuldades de negociação quando as motivações são de cunho político.
2. A piora no saldo acumulado e a melhora na corrente de comércio são explicadas pelo maior crescimento das importações do que das exportações. Na comparação dos resultados do primeiro semestre de 2024 com o de 2025, o recuo no valor exportado foi de US$ 1,1 bilhões, uma queda de 0,7%. As importações aumentaram em US$ 10,4 bilhões, um crescimento de 8,3%.
3. As exportações em volume da indústria de transformação cresceram 14,5% entre os meses de junho e 5,4% na comparação do acumulado até junho de 2024 e 2025. Observa-se que o desempenho positivo da transformação foi explicado pelas não commodities dessa indústria.
4. Ressalta-se o desempenho das importações. Desde janeiro as variações em volume mensais entre 2025 e 2024 e entre 2024 e 2023, mostram que, exceto abril e junho, as variações são maiores em 2025. No entanto, a tendência aponta para uma desaceleração das importações a partir de junho, enquanto em 2024, a tendência era de alta.
5. Na comparação entre os dois primeiros semestres de 2024 e 2025 chama atenção a variação de 28% das importações de bens de capital da indústria de transformação em comparação com o recuo de 0,9% na agropecuária.
6. Na análise por mercados, em termos de volume exportado, a liderança é da Argentina (+58,8%). Nas importações, a liderança é da China (+30,1%), seguida dos Estados Unidos (+14,2%), União Europeia (+1,3%) e queda na Argentina (-1,4%).
7. Dado esse cenário, a Secretaria de Comércio Exterior reduziu a sua previsão do superávit de US$ 70,2 bilhões para US$ 50,4 bilhões. Sem o efeito Trump, a nossa previsão seria um pouco mais otimista (algo ao redor de US$ 60 bilhões), supondo desaceleração das importações. No entanto, com a possibilidade da implementação do tarifaço Trump inclusive, as previsões ficam incertas.
O tarifaço de Trump para o Brasil
No ICOMEX de junho comentamos que o pior cenário para o Brasil em relação aos acordos de reciprocidade propostos por Trump seria o uso das tarifas para obter vantagens em outras áreas, como exploração de minerais estratégicos e terras raras ou pressionar o governo brasileiro em relação a investimentos e/ou importações chinesas. Era uma visão pessimista, pois a justificativa desde o início do governo e mais uma vez enfatizada no dia 2 de abril, “Liberation Day”, era o tratamento desleal dos parceiros, o que levava ao déficit da balança comercial dos Estados Unidos. Foram anunciadas tarifas de importações que variaram de 49% para o Camboja até 10% para países que os Estados Unidos registravam déficits comerciais pequenos ou superávits, como o Brasil. Em seguida no dia 9 de abril, o Trump anuncia que iria suspender as tarifas maiores do que 10% até o dia 9 de julho e abriria negociações.
Um acordo com a China foi anunciado no início de junho, após o aumento de tensão entre as duas maiores economias do mundo, com tarifas de importações praticadas pelos Estados Unidos em relação à China chegando a 145%. O governo Trump reduziu essa tarifa para 30% e a China comprometeu a facilitar a compra pelos Estados Unidos de minerais críticos e terras raras. O prazo de 9 de julho foi adiado para 1º de agosto e acordos começaram a ser anunciados. Neste mesmo interim, para surpresa do governo brasileiro, foi anunciada por meio de uma carta uma tarifa de 50% para os produtos brasileiros.
A balança comercial do Brasil é sistematicamente deficitária com os Estados Unidos, desde 2009. Na carta enviada ao governo Lula os parágrafos iniciais tratam de questões políticas associadas ao processo do ex-presidente Bolsonaro e de decisões do Supremo Tribunal Federal em relação ao não cumprimento de normas brasileiras por empresas de plataformas digitais dos Estados Unidos. A carta depois justifica a medida por déficits inexistentes. Registra-se que, nas cartas enviadas por Trump sobre os temas tarifários, a endereçada para o Brasil foi a única que explicitou motivações políticas, o que limita a margem de negociação do governo brasileiro por tratar de questões que são da alçada exclusiva do Estado brasileiro.
O tema do déficit inexistente já foi enfatizado, mas só para lembrar, o Brasil não registra superávit com os Estados Unidos desde 2009, conforme mostra o Gráfico A. No primeiro semestre de 2025, a balança bilateral Brasil-Estados Unidos foi de US$ -1,7 bilhões.
(da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)