31 de julho de 2025
OPINIÃO

Quando a bomba vem de fora: Big Data, Trump e a crise de identidade da direita

O conteúdo gerou uma onda de críticas, inclusive dentro da própria base conservadora brasileira.

Publicado em
c51079e23a96329f3c2294e806a3dd01.jpg

( Publicada originalmente às 15h 02 do dia 13/07/2025) 

Por Alek Maracajá – analista de dados e autor do livro Brasil Digital

Após analisar 9.567.711 menções públicas nas redes sociais nesta última semana, ficou evidente: o Brasil digital está atento, reage rápido e se posiciona com intensidade. E só com Big Data e interpretação estratégica é possível entender essas viradas de cenário em tempo real.

Com mais de 181 milhões de brasileiros conectados à internet, qualquer gesto simbólico vindo de fora rapidamente se transforma em crise ou oportunidade. Foi o que aconteceu com a carta pública do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em defesa de Jair Bolsonaro e com ameaças tarifárias contra o Brasil. O movimento, direto e provocador, seguiu seu estilo característico: Trump alimenta os seguidores, provoca caos e mantém a atenção global. Mas dessa vez, a reação foi diferente.

O conteúdo gerou uma onda de críticas, inclusive dentro da própria base conservadora brasileira. Estados como Mato Grosso, Goiás, Paraná e o Sul, historicamente simpáticos a Trump, passaram a questionar publicamente sua postura. Muitos perfis bolsonaristas classificaram a fala como traição e oportunismo. Diante da pressão, o presidente norte-americano fechou comentários e limitou postagens em suas redes. Um gesto incomum, que escancarou a força da opinião pública digital brasileira.

A Ativaweb identificou que 77% das menções ao episódio foram negativas para Trump, 20% favoráveis e 3% neutras ou informativas. A análise foi realizada com base em coleta automatizada nas plataformas X, Facebook e Instagram, utilizando algoritmos proprietários que classificam o sentimento das postagens com base em intensidade, contexto linguístico e correlações temáticas. Também foram mapeadas as reações por estados e cidades, com destaque para São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul. Termos como traição, tarifa Brasil, agro, Trump traidor e soberania dominaram as menções, conectando o episódio a debates sobre proteção nacional e resistência ao intervencionismo. A análise foi concluída neste sábado, às 18h, e os dados seguem em movimento, com as críticas crescendo a cada nova publicação e desdobramento.

A crise também expôs um problema que já vinha crescendo: a crise de identidade da direita brasileira. Desde a saída de Bolsonaro da Presidência, o movimento perdeu seu maestro. E isso ficou evidente nas eleições, com disputas descoordenadas e falta de comando claro. A base, antes unida sob uma só liderança, se fragmentou.

Enquanto isso, o governo Lula soube se reposicionar. Com tom institucional e discurso firme sobre soberania, o Planalto mudou o foco da crise interna para uma resposta à provocação externa. Mesmo com críticas internas, Lula soube aproveitar a oportunidade e se apresentou como defensor do Brasil diante de uma ameaça estrangeira.

O mais importante desta semana foi que a ação de Trump não teve boa repercussão entre os brasileiros. A imagem de Bolsonaro, fortemente ligada à de Trump, saiu desgastada. E Lula, com equilíbrio e postura firme, conseguiu ocupar o centro da narrativa e se posicionar como liderança confiável no cenário global.

Esse episódio mostra, mais uma vez, que o dado bruto só revela parte da história. A diferença está na leitura estratégica. No jogo da política digital, quem interpreta os sinais antes, lidera. E quem ignora, tropeça no próprio algoritmo.