31 de julho de 2025
Mundo e Poder

Lula recebe título de honoris causa da Universidade de Paris 8, criada que atende região periférica de Paris; Lula disse que homenagem de hoje não é apenas um reconhecimento pessoal, mas a sua história e compromissos

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(Brasília-DF, 06/06/2025) Mais cedo, nesta sexta-feiora, 6, o  presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o título de  Doutor Honoris Causa na Universidade de Paris 8.

A instituição foi fundada em 1969 como resposta às transformações sociais e educacionais impulsionadas pelos protestos de Maio de 1968 na França. É localizada na região periférica da capital francesa e tem o propósito de democratizar o ensino superior. Mantém forte vínculo com a classe trabalhadora, com públicos marginalizados e imigrantes.

'A homenagem de hoje não é apenas um reconhecimento pessoal. É um reencontro com valores que moldaram minha vida: a justiça social, a educação como ferramenta de emancipação e o compromisso com os que sempre tiveram de lutar por voz e por espaço'

“A homenagem de hoje não é apenas um reconhecimento pessoal. É um reencontro com valores que moldaram minha vida: a justiça social, a educação como ferramenta de emancipação e o compromisso com os que sempre tiveram de lutar por voz e por espaço”, afirmou Lula em discurso logo após receber o título. “Forjei minha trajetória na defesa dos direitos dos mais vulneráveis. Esta universidade nasceu da esperança e da coragem do povo francês, no calor das ruas de 1968. Construiu-se como resposta às exigências de uma juventude que sonhava com um mundo mais igualitário e um ensino mais acessível, crítico e conectado às realidades sociais”, completou o presidente.

A cerimônia contou com apresentações de um coral da universidade entoando músicas com raízes populares e eruditas da cultura brasileira, a presença das professoras Armelle Enders, Delphine Leroy e Annick Allaigre, além de alunos, integrantes da comunidade acadêmica e do presidente da Universidade Paris 8, Arnaud Laimé.

Na opinião de Laimé, Lula é símbolo de um projeto político de profunda transformação social e do desejo de construir sociedades mais justas e sustentáveis. Citou a evolução do número de universidades, institutos federais, bolsas e os financiamentos federais para vagas no ensino superior como sintomas disso. Lembrou do número de brasileiros que passaram pela Paris 8 com histórico em programas sociais criados pelo presidente e citou a importância da criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, um dos pontos centrais da presidência do Brasil à frente do G20, em 2024.

Além do título concedido, entre os presentes entregues a Lula na cerimônia estava um quadro com representação de folhas de jequitibá, uma das maiores árvores do Brasil, definida por Laimé como símbolo de longevidade e de resiliência.

“A natureza com frequência é metáfora para descrever o nosso percurso e quem somos. Se eu puder ousar dizer, essa imagem nos leva a pensar a nossa relação com o meio ambiente, a natureza e muitos desses temas com que o senhor trabalha”, disse o presidente da instituição.

Veja a íntegra do discurso de Lula no evento:

 

Recebo, com imensa alegria, o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade Paris 8.

 

É uma honra ser o segundo brasileiro laureado, colocando-me ao lado de uma grande pensadora e filósofa, amiga, petista, Marilena Chauí.

 

A homenagem de hoje não é apenas um reconhecimento pessoal.

 

É um reencontro com valores que moldaram minha vida: a justiça social, a educação como ferramenta de emancipação e o compromisso com os que sempre tiveram de lutar por voz e por espaço.

 

Forjei minha trajetória na defesa dos direitos dos mais vulneráveis.

 

Esta universidade nasceu da esperança e da coragem do povo francês, no calor das ruas de 1968.

 

Construiu-se como resposta às exigências de uma juventude que sonhava com um mundo mais igualitário e um ensino mais acessível, crítico e conectado às realidades sociais.

 

Acolheu estudantes de todas as origens como parte central de seu projeto.

 

Paris 8 foi pioneira ao abrir as portas para os filhos da classe trabalhadora, os imigrantes, os que não tinham sobrenome famoso.

 

Mostrou que o saber não é privilégio — é direito.

 

Aqui grandes pensadores como Foucault, Deleuze, o cientista social brasileiro Josué de Castro e meu querido amigo Marco Aurélio Garcia ajudaram formar um pensamento crítico, que não aceita injustiça como destino e que está comprometido com a transformação social.

 

Carrego comigo a convicção de que o papel da política não é administrar a desigualdade, mas enfrentá-la.

 

No Brasil, que fundou suas primeiras universidades somente no início do século 20, o ensino superior sempre foi pensado e reservado para a elite.

 

Foi preciso que um metalúrgico sem diploma universitário chegasse ao poder pelo voto popular para mudar essa realidade.

 

Tenho a honra de ser o presidente que mais criou instituições de ensino técnico e superior.

 

Nos governos do Partido dos Trabalhadores consolidamos um modelo de ensino mais aberto e inclusivo.

 

Com a presidenta Dilma Rousseff, aprovamos a lei de ação afirmativa que mudou a cara dos egressos das universidades brasileiras.

 

Em consulta com nossos povos originários, criaremos a primeira Universidade Indígena até 2026.

 

Essa revolução na educação é uma das ferramentas mais poderosas para romper o ciclo da fome e da pobreza que voltou a assolar o Brasil no governo de meu antecessor.

 

A fome, como dizia Josué de Castro “é a expressão biológica dos males sociais”.

 

Quem sente fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. Torna-se incapaz de pensar no amanhã.

 

Tirar o Brasil do mapa da fome, como fizemos em 2014, é o compromisso mais urgente do meu governo.

 

A essência da democracia é governar para todos.

 

É assegurar participação popular real, com trabalhadores organizados, com juventude crítica e movimentos sociais respeitados.

 

Em várias partes do mundo, a extrema direita voltou a atacar as universidades.

 

Seu método é o mesmo do adotado pelas ditaduras que assolaram a América Latina no século passado:

 

- afrontar professores e estudantes e coibir o pensamento crítico e a diversidade;

 

- calar a ciência, censurar a arte e transformar as salas de aula em instrumento de dominação.

 

A extrema direita tem medo da educação porque sabe que é onde nasce a consciência.

 

A França, que acolheu tantos intelectuais brasileiros exilados, sabe que defender as universidades é resguardar a ciência.

 

Em tempos de desinformação e negacionismo, o saber deve ser protegido como instrumento de bem comum.

 

A Inteligência Artificial está revolucionando modos de aprendizado, de vida e de produção.

 

As oportunidades que se abrem são ilimitadas. Mas os riscos não são menores.

 

A ausência de regulação das redes digitais só interessa às grandes corporações.

 

A Cúpula do BRICS, que sediaremos no Brasil em um mês, vai adotar uma Declaração sobre Governança da Inteligência Artificial.

 

A defesa do regime multilateral de clima é outro exemplo de como as soluções para os dilemas da humanidade passam de forma inequívoca pelo Sul Global.

 

As universidades também têm papel decisivo no enfrentamento da crise climática.

 

De suas cátedras emanam os múltiplos alertas sobre os riscos ambientais que ameaçam o planeta.

 

De suas salas, sairão as jovens lideranças que unirão ciência, inovação e conhecimento tradicional para delinear os caminhos de uma transição ecológica justa.

 

O pensamento crítico também caminha lado-a-lado com a luta anticolonial e o combate ao racismo, à misoginia, à xenofobia e todas as formas de discriminação.

 

As universidades e o movimento estudantil seguirão como vozes da resistência intelectual aos horrores cometidos em todas as guerras.

 

Não é possível permanecer indiferente ao absurdo da guerra na Ucrânia e do genocídio do povo palestino em Gaza.

 

A intolerância e o extremismo comprometem os esforços coletivos de diálogo e corroem a confiança nas instituições.

 

A gravidade do momento exige a defesa firme dos valores que unem a humanidade: a defesa da paz, do multilateralismo e do desenvolvimento sustentável.

 

Fortalecer a educação emancipadora por meio da cooperação acadêmica é fundamental.

 

Todos os anos, milhares de estudantes, pesquisadores, artistas e empreendedores circulam entre nossos países.

 

Trocam ideias, constroem pontes e semeiam inovação.

 

Agradeço os esforços empreendidos pela gestão da reitora Annick Allaigre e de seu sucessor Arnaud Laimé para estreitar os laços entre esta universidade e o Brasil.

 

Iniciativas como o programa de dupla diplomação em História, com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e o acolhimento generoso aos nossos doutorandos indígenas são ações concretas que reforçam o espírito de inclusão e colaboração conjunta.

 

O engajamento da Universidade Paris 8 com o Ano Brasil-França 2025 também é exemplo de como esta parceria pode se desdobrar em projetos acadêmicos, científicos e culturais.

 

Queridas amigas e queridos amigos,

 

Agradeço à Universidade Paris 8 mais uma vez pela homenagem e pela acolhida.

 

Que o dia de hoje seja mais uma semente lançada para fortalecer os laços humanos entre a França e o Brasil e para inspirar as novas gerações a sonhar, a questionar e a agir.

 

Que sigamos honrando o legado do mestre brasileiro Paulo Freire e colocando a educação como prática da liberdade, o diálogo como método e a crítica como ferramenta de emancipação.

 

Só o conhecimento pode romper as correntes da desigualdade e construir sociedades mais justas. Viva a Universidade Paris 8!

 

Viva a educação como instrumento de transformação!

 

Muito obrigado.

 

 

 

( da redação com informações da Ag.Gov. Edição: Política Real)