Coisas que Orlando Brito me disse!
Brito era um cavalheiro. Nunca iria dizer isso publicamente
(Brasília-DF) Tem coisa que a proximidade do mundo do poder faz com que, não raro, especialmente em capitais pensadas para isso, como é o caso de Brasília, Washington(DC), Pretória, na África do Sul, Bonn, na antiga Alemanha Ocidental, ou Otawwa, no Canadá, outras menos votadas – sejamos deslocados do mundo real. O cinismo é o primeiro dos problemas.
Costumo dizer que, depois de muitos anos assim colocado é bom dar uma circulada na rodoviária central da cidade para sentir o pulsar do povo, sair dos salões acarpetados. Isso nunca precisou ser dito para Orlando Brito, o fotojornalista mais célebre do mundo do poder que morreu e foi enterrado neste início de março na Capital Federal. Brito, como era conhecido aqui, entendia o mundo do poder como poucos.
Convivi com ele durante 23 anos, diariamente, e acredito estávamos juntos e conversávamos mais do que com gente de nossas famílias. Brito publicava algumas fotos, outras guardava. Dizia que eram impublicáveis. Brito tinha uma ética que nem todo tinham.
Nos últimos tempos, ele me falou duas que não sei se suas imagens registraram para alguém. Uma vez ele me disse que fez milhares de “frames” do presidente Jair Bolsonaro, que evita ao máximo olhar para o olho das pessoas enquanto fala.
“Genésio, esse cara não é normal. Eu repetia esses ‘frames’ em sequência. Aquela forma, aquele olhar, não era de gente sã. Não posso dizer que é um psicopata, mas é algo diferente”, disse. Guardei para mim, mas agora registro.
Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, me disse que foi à última vez que ele esteve em evento público, na Capital Federal. Disse que o acompanhou num encontro com recicladores, os famosos catadores, na Estrutural, bairro onde funcionou o lixão de Brasília. Ele me disse:
“Genésio, vi Lula falando e ouvindo no evento com os catadores. Ele tinha um olhar para sua companheira Janja(a socióloga Rosângela da Silva), era como ele dissesse: eu só confio em você, todos esses aqui só querem me usar para voltar ao poder”, era o que disse Brito, com sua imaginação a lhe contar, a me contar.
Brito era um cavalheiro. Nunca iria dizer isso publicamente. As pessoas é que vão entender suas fotos quase sempre célebres. Não sei se algum dia ele as publicou e colocou essas legendas que dele ouvi. Arrisco dizer que não.
O que podemos dizer a partir do que Brito fez na vida é que o poder tem dessas. Coisas que a gente não vê. Coisas que dizem para nós.
Em época das redes sociais e da pós-verdade, aquela que querem dizer para nós, quase sempre, invariavelmente, fajuta nos obriga a recorrer cada vez mais a gente da estirpe de Brito. Gente que conta as coisas como devem ser contadas e que nos deixem julgar.
Vamos enfrentar uma nova eleição presidencial pela frente, em que vão querer contar coisas que não são reais.
Se Bolsonaro é um psicopata no poder ou que Lula está sendo usado por uma camarilha que deseja voltar ao poder são outros quinhentos. Cabe a você em sua sábia decisão avaliar se devemos ter mais quatro anos de um psicopata ou o retorno da camarilha, ou que na verdade o louco não é cruel como se pode pensar, ou que a camarilha já purgou seus pecados!
Do jeito que anda tocando a banda, estamos com poucas chances de encontramos alternativas aos dois. Seria bom, até para nossa saúde mental, mais que eleitoral, que pudesses avaliar a loucura e a torpeza, se há, de pretensos senhores e senhoras que buscam serem inquilinos do Palácio do Planalto!
Uma coisa é certa, não vai ter Orlando Brito para nos contar!
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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