ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Microcefalia, novo flagelo para Região Nordeste
Pernambuco é o mais atingido, com 804 casos. Em seguida, vêm Paraíba (316), Bahia (180), Rio Grande do Norte (106), Sergipe (96), Alagoas (81), Ceará (40), Maranhão (37), Piauí (36)
(Brasília-DF, 11/12/2015) O grande número de casos de microcefalia que atinge o país transforma-se em mais um flagelo para o Nordeste. Em 20 dias, a região registra mais casos da doença do que a média de todo o Brasil em um ano. A moléstia é uma malformação congênita, em que o cérebro do bebê não se desenvolve de maneira adequada: o tamanho do crânio é menor que o usual para a idade e pode apresentar deformações.
Pernambuco é o estado da região que tem mais notificações. Nos 20 dias analisados, entre outubro e novembro, foram 141 registros. De acordo com estatística divulgada pelo Ministério da Saúde na última terça-feira, 8, os casos de microcefalia subiram quase cinco vezes em menos de um mês. São 422 cidades com suspeitas. Em Pernambuco, cinco drones ― aviões não tripulados de controle à distância ― ajudarão a identificar as casas com focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.
Estatística
O primeiro boletim do Ministério da Saúde mostrou que existiam 399 casos suspeitos da doença no dia 17 de novembro. Esse número saltou para 1.761, no boletim divulgado na terça-feira, 8. Do total, 1.696 só no Nordeste. Pernambuco registrou o maior número (804). Paraíba (316), Bahia (180), Rio Grande do Norte (106), Sergipe (96), Alagoas (81), Ceará (40), Maranhão (37), Piauí (36), Tocantins (29), Rio de Janeiro (23), Mato Grosso do Sul (9), Goiás (3) e Distrito Federal (1).
A doença não avançou só nos números, mas também nas regiões. No primeiro boletim, os casos se concentravam no Nordeste. Agora, eles também estão sendo investigados em Tocantins, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal. Os números podem ser maiores. Alguns municípios registraram casos que ainda não entraram na conta do ministério, que constava 154 por ano no Brasil inteiro entre 2010 e 2015.
Pernambuco registrou o maior número (804). Em seguida estão os estados de Paraíba (316), Bahia (180), Rio Grande do Norte (106), Sergipe (96), Alagoas (81), Ceará (40), Maranhão (37), Piauí (36), Tocantins (29), Rio de Janeiro (23), Mato Grosso do Sul (9), Goiás (3) e Distrito Federal (1).
Zica vírus
A principal suspeita é que os casos da má formação do cérebro de crianças tenham decorrido da infecção do Zika vírus, transmitido pelo mosquito. Seis dos nove estados nordestinos já decretaram situação de emergência para agilizar medidas de combate ao Aedes aegypit. A decretação em Piauí e Alagoas foi quinta-feira, 10 ― juntam-se agora a Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe e Paraíba.
O decreto oficial desburocratiza ações e acelera os gastos públicos, além de permitir a entrada de agentes de vigilância sanitária em imóveis fechados para combater o mosquito. As situações excepcionais valem por 180 dias. Os estados informam que, até o momento, criaram forças-tarefa, remanejaram servidores e contrataram serviços para exames de imagens em crianças com microcefalia. Nenhum dos governos apontou necessidade de contratação de médicos agora.
Interesse nacional
O governo federal, que também decretou emergência em saúde pública de interesse nacional, prevê ações de mobilização e combate ao mosquito, atendimento às pessoas e desenvolvimento tecnológico, mas não anunciou repasse de recursos aos estados ou municípios.
Pernambuco foi o primeiro estado a assinar o decreto, em 29 de novembro e o governo estadual liberou R$ 25 milhões para ações urgentes de combate ao mosquito e para atendimento às crianças com microcefalia. Desse valor, R$ 15 milhões são para estruturação de 20 unidades regionais que recebam mães e bebês, o que reduzirá a longa fila de espera para exames em dois hospitais públicos do Recife. A semana termina sem previsão para que as unidades iniciem atendimento.
Exército
Além disso, com o decreto, mil homens do Exército, do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil foram convocados e estão sendo treinados para atuar no combate ao controle de endemias. Desses, 200 já atuam na capital pernambucana desde segunda-feira, 7, enquanto os outros serão enviados para o interior do Estado a partir da próxima segunda-feira,14.
“Pernambuco virou modelo para outros Estados enfrentarem este grave problema de saúde pública. Estamos à disposição de todos vocês para reproduzir esta experiência, podermos trocar conhecimento e combater esse mal de forma mais efetiva”, afirmou o governador Paulo Câmara (PSB), durante reunião com a presidenta Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, na quarta-feira, 8. Estavam presentes vários ministros e governadores dos outros estados nordestinos.
Rio Grande do Norte
O governo do Rio Grande do Norte, cujo decreto foi feito em 2 de dezembro, prepara uma campanha de utilidade pública para ser veiculada nos próximos dias com orientações de prevenção ao mosquito Aedes aegypti. A secretaria de saúde estadual afirmou que poderá fazer compras sem licitação para lidar com o surto de microcefalia, mas não informou que compras serão feitas. A prefeitura de Natal, que também decretou emergência, passou a contratar serviço extra para realização de exames de imagem em crianças com a suspeita.
Maranhão
A Prefeitura de São Luís do Maranhão lançou quinta-feira, 10, a campanha “Todos na Guerra contra o Mosquito”, de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika vírus e febre Chikungunya. No estado, foram registrados até agora três casos confirmados de microcefafia relacionados com o Zika vírus entre mulheres gestantes, de acordo com relatório divulgado pela Secretaria de Sauúde. A mobilização contra o mosquito começou nesta sexta feira, 11, com o "Dia D" da campanha.
A campanha inclui vasta programação com orientação, visitas domiciliares, blitzen educativas em escolas e empresas e abordagem de comerciantes e público, com distribuição de panfletos. Além disto, será intensificado o trabalho no campo, através dos agentes de saúde, agentes de combate às endemias, agentes comunitários e outros técnicos das secretarias de Saúde e Serviços e Obras Públicas. As equipes realizarão inspeção nas residências e estabelecimentos comerciais, a fim de identificar e tratar os focos do mosquito, além de recolher sucatas e todo tipo de bagulho volumoso que possa servir de criadouro do Aedes aegypti.
Audiência pública no Senado
Para discutir o controle dos riscos de microcefalia, mais as possíveis causas da doença, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado ouvirá, em audiência pública, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, na próxima quarta-feira, 16. O debate foi proposto pelo presidente da comissão, senador Édison Lobão (PMDB-MA).
Édison Lobão justificou que está comprovada a relação entre o Zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypt com a doença. Afirmou ainda ter notícias de que o governo federal está investigando as formas de transmissão e a atuação do vírus no organismo.
Apoio da população
O líder do PT, senador Humberto Costa (PE) considera preocupante o surto de microcefalia, que já fez mais de 600 vítimas em seu estado. Para ele, a situação de crise, que levou Pernambuco a decretar estado de emergência, demanda um aumento das responsabilidades no combate ao mosquito transmissor do vírus que causa a doença e o envolvimento de toda a sociedade. Humberto Costa ressaltou que os governos são incapazes de enfrentar esse desafio sem apoio da população.
“O Aedes aegypti mata, e, dessa forma, é preciso um intenso trabalho de todos nós para evitar que ele nasça e se reproduza. Nós somos todos responsáveis uns pelos outros”, alertou. Para ele, que é médico, a descoberta da relação entre microcefalia e o Zika vírus impõe o desafio de trabalhar para que não haja a infecção. O senador cumprimentou o governo federal pelo apoio às ações de assistência às famílias infectadas e pelo estímulo a pesquisas para o diagnóstico da doença.
(Valdeci Rodrigues, especial para Política Real, com assessoria. Edição de Valdeci Rodrigues)