Nordeste e Senado Federal

ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Dois líderes nordestinos cumprindo seus papéis

Senador Cássio Cunha Lima afirma que processo de impeachment de Dilma Rousseff está dentro da lei, onde o senador Humberto Costa vê "um golpe" iniciado por um "chantagista"

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(Brasília-DF, 04/12/2015) O processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff coloca dois líderes partidários nordestinos no Senado em aberto confronto: o do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), e do PT, Humberto Costa (PE). Enquanto o tucano apregoa que está tudo dentro da lei, o petista rebate com a acusação de está havendo "um golpe" para destituir uma presidenta da República eleita democraticamente, iniciado por um “chantagista”, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

Cássio Cunha Lima (PB), repete a todo instante que o processo de impeachment de Dilma Rousseff está dentro das regras democráticas e de acordo com a Constituição. Enquanto isso, líder do PT, senador Humberto Costa (PE), afirma continuadamente que se trata de “um golpe” contra uma presidenta que não cometeu nenhum ato que justifique seu impedimento.

Direito de defesa

“O que está previsto na Constituição não pode ser encarado como ilegal. Existe uma previsão na Constituição para esse procedimento. Existe uma legislação infraconstitucional, que data de 1950, que foi a que estabeleceu o rito para o impeachment do presidente Collor, e será respeitado o devido processo legal, o contraditório e o amplo direito de defesa. Portanto, tudo dentro da normalidade democrática”, argumenta Cássio Cunha Lima.

Chantagem

Com leitura oposta, Humberto Costa assegura que “não há razão para a abertura do impeachment, até porque não há nenhuma fundamentação jurídica que resulte no impedimento de Dilma. Trata-se de um golpe contra uma presidenta democraticamente eleita pelo povo brasileiro”. Ele reforça sua postura dizendo que a abertura do processo é resultado de chantagem do deputado Eduardo Cunha, por saber que não teria votos de petistas a seu favor no Conselho de Ética da Casa.

Retaliação

“Não podemos tratar um tema tão relevante como este como uma retaliação. Isso é brincar com o país. Acredito que a opinião pública nacional está absolutamente esclarecida de que é uma retaliação. Todos sabem quem é Dilma e quem é Cunha. Todos conhecem a biografia de cada um”, acrescenta Humberto Costa. A “vantagem”, de acordo com ele, é que “nós saímos de uma condição de estarmos sendo chantageados. Isso já é uma coisa importante”. Pelo seu raciocínio, agora o PT e seus aliados poderão lutar pelo mandato de Dilma Rousseff abertamente dentro do Congresso Nacional.

Nada a ver

Para Cássio Cunha Lima, o fato de o processo ter começado por decisão de Eduardo Cunha, investigado na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, com contas sem explicação convincente na Suíça, investigadas pela Polícia Federal, em nada influi. “Não, porque você tem os requisitos que estão previstos na Constituição preenchidos. Além da Constituição, nós temos a Lei 1.079, de 1950, que prevê, nos casos de crimes de responsabilidade, o procedimento, o rito para o processo do impeachment. E teremos muito cuidado para assegurar o devido processo legal, a ampla defesa e contraditório que o processo exige”, rebate.

Falta de credibilidade

Independentemente de Dilma Rousseff ter ou não infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, por causa das “pedaladas fiscais” ― maquiagem das contas públicas em 2014 ― há o embate político sobre as crises econômica e política do país. “A presidente Dilma já havia perdido condições de governabilidade há muito tempo, pela falta de credibilidade, pela crise de confiança que tem levado o Brasil a uma dificuldade econômica enorme. Por isso que a população apoia o afastamento porque as pessoas estão sofrendo no seu dia-a-dia, no seu cotidiano com um governo que perdeu as condições de continuar conduzindo os destinos do Brasil”, acentua Cássio Cunha Lima.

"Avanços"

Humberto Costa vê situação ao inverso. Ele já fez vários pronunciamentos na tribuna do plenário para enaltecer os “avanços” conseguidos nos 13 anos de governo do PT. E relembra o que considera um mal para o Brasil: os dois governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Não podemos voltar “aos tempos neoliberais e à agenda maldita que antecedeu o governo do presidente Lula, que todos lembram qual é: a agenda do arrocho, a agenda da fome, a agenda da miséria, a agenda da venda do patrimônio público brasileiro, a agenda dos bilhões destinados aos bancos e sonegados aos mais pobres”, afirma o petista.

Crise mundial

Sobre a crise, Humberto Costa atrela a situação do país ao que acontece no restante do mundo. “Anunciamos a nossa total oposição à escalada conservadora e golpista em curso no país e em que reafirmamos alguns dos nossos compromissos fundamentais com o Brasil. Nesse contexto de crise internacional duradoura, é absolutamente imprescindível ficarmos vigilantes em relação às velhas e malfadadas fórmulas que correm por aí, apresentadas como salvação para o momento”, diz.

Comunicação

Sinteticamente, enquanto o Cássio Cunha Lima culpa o PT por todas dificuldades que o Brasil vive no momento, tanto econômica quanto politicamente, Humberto Costa assegura que “o legado” dos governos petistas foi o mais vantajoso para o país até hoje. O petista ainda culpa os meios de comunicação, no seu entendimento, por noticiar o que é negativo para o PT, para Lula e para Dilma com estardalhaço. Enquanto isso, diz, os fatos que denigrem o PSDB são expostos timidamente. Cássio Cunha Lima acha que as notícias estão de acordo com o que os petistas praticam no governo.

 

(Valdeci Rodrigues, especial para Política Real. Edição de Valdeci Rodrigues)