ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Brasil vive uma das maiores crises da história
Observação é do senador José Maranhão. Sobre a seca do Nordeste, ele diz que sem a transposição do Rio São Francisco, a população poderá morrer de sede
(Brasília-DF, 13/11/2015) O senador José Maranhão (PMDB-PB), atual presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), cita quatro grandes crises do Brasil para comparar com o momento atual. E assegura o país vive situação pior do que nas épocas do suicídio de Getúlio Vargas (1954), da renúncia de Jânio Quadros (1961), do golpe militar (1964) e do impeachment de Fernando Collor (1992).
Em entrevista a Política Real, José Maranhão afirma que nenhuma das quatro crises citadas por ele tem “extensão e a profundidade” do momento difícil que o país vive agora. “Um momento gravíssimo. Aliás, ninguém pode pensar de forma diferente. Os fatos estão aí, comprovando essa assertiva. Você tem uma crise econômica sem precedentes no Brasil, culminando com uma crise política resultante do comportamento aético de setores do próprio governo. De maneira que é uma crise gravíssima. Eu já testemunhei, como político, quatro crises políticas”, assegura.
Otimismo
Ele frisa que não é pessimista e que acredita que a nação superará as crises econômica e política atuais como conseguiu atravessar as anteriores. Acha que o Congresso Nacional terá papel fundamental para ajudar o Poder Executivo a encontrar soluções neste momento. O senador só não se arrisca a prever quanto tempo ainda durará a situação. “Não sou pitonisa (advinho)”, responde.
Sobre a seca no Nordeste, José Maranhão não enxerga saída a não ser com a conclusão da transposição do Rio São Francisco. Ele reclama que a presidente Dilma Rousseff não está dando a mesma atenção que o ex-presidente dispensou à questão. Especialmente com as previsões de que a Região Nordeste enfrentará mais dois anos de estiagem.
Reserva estratégica
“Os açudes estão praticamente vazios. Uma população de quase um milhão de pessoas, como é a população do Planalto da Borborema, que tem como centro Campina Grande, uma cidade de cerca de 500 mil habitantes, e um entorno que soma mais 500 mil habitantes, o único reservatório que serve a Campina Grande já está consumindo a reserva estratégica. Isso é preocupante”, aponta.
“E, sobretudo, diante das observações que se têm fundamentadas no comportamento de El Niño, que uma observação que permite fazer uma avaliação sobre o comportamento da meteorologia no Nordeste, nós vamos ter mais dois anos de seca. E já vamos com quatro. Então, essa situação é realmente difícil”, acrescenta.
Sem prioridade
Sobre o envio de recursos federais para a região, José Maranhão diz que a “desculpa é a mesma de sempre: falta de recursos”. “Lamentavelmente, o governo de Dilma não deu a mesma prioridade ao processo e agora está sendo surpreendida por essa crise. Certamente os seus ministros, os seus auxiliares, os seus técnicos não estavam fazendo uma avaliação exata, técnica, científica do que poderia acontecer. Porque se tivessem, já estavam dando um tratamento mais adequado à implantação do projeto da transposição”, afirma.
José Maranhão, que já foi deputado estadual, deputado federal e governador, alerta que o problema da seca no Nordeste tem uma gravidade que poucos parecem enxergar. “Se nós vamos ter 2016, 2017 de plena seca, aonde vamos buscar água? Não é água para irrigação, para fins econômicos não. É para beber. E a água para a sobrevivência humana da população”, acentua.
Alarme
“Então, não há outra solução se não a transposição do São Francisco. Agora, no nível de implantação que está aí e o governo não acordou ainda, apesar de todos os avisos, de todos os sinais para essa situação, se não houver um apressamento da implantação do projeto, vai ser muito difícil, especialmente para Campina Grande e todo o Planalto da Borborema. E o sertão porque os reservatórios do sertão também já estão se exaurindo”, observa. Sobre a transposição, sem tom é de alarme: o governo precisa acelerar a obra e fazer chegar água “antes que a população morra de sede”.
Leia a íntegra da entrevista
Como o senhor avalia esta crise econômica e política do Brasil?
Um momento gravíssimo. Aliás, ninguém pode pensar de forma diferente. Os fatos estão aí, comprovando essa assertiva. Você tem uma crise econômica sem precedentes no Brasil, culminando com uma crise política resultante do comportamento aético de setores do próprio governo. De maneira que é uma crise gravíssima. Eu já testemunhei, como político, quatro crises políticas. Nenhuma com as proporções desta. A crise que redundou no suicídio de Getúlio Vargas, foi a primeira. Depois, a renúncia do presidente Jânio Quadros, outra crise. O golpe militar de 64 e aquela crise que culminou com a cassação do ex-presidente Collor de Mello.
Todas elas foram crises muito graves. Mas nenhuma com a extensão, com a profundidade desta crise que nós estamos vivendo. Agora, eu não sou pessimista e acredito no potencial do país e do seu povo para superar esse momento, assim como superamos os quatro instantes difíceis a que já me referi.
O senhor acredita que o Congresso Nacional pode ajudar a abrir uma porta de saída desta crise?
Sim. Eu acho que como uma parte dessa crise é uma crise econômica, seria competência normal do Executivo, mas o Legislativo também pode contribuir, certamente vai contribuir. Mas a política é essencialmente uma tarefa da responsabilidade do Congresso Nacional.
O senhor já vislumbra algum tipo de movimento ou de ação que permita a gente ter uma esperança de que essa crise vai ser resolvida?
Olha, eu tenho notado sim, aqui no âmbito do Senado da República uma preocupação objetiva com relação a esse fato. Semana passada, nós tivemos uma reunião na casa do senador Raimundo Lira (PMDB-PB), de caráter pluripartidário. Estavam representantes senadores de todos os partidos políticos.
E a preocupação geral é de que o Senado, através de suas lideranças, precisava conversar. Precisava superar as barreiras e conveniências de cunho eminentemente partidário e todas as bancadas conversarem sobre uma solução para sair desse momento difícil que estamos atravessando.
O senhor acha que seria possível em 2016 ou não dá ainda para ter nenhuma...
Eu não sou Pitonisa (sacerdotisa da mitologia grega que previa o futuro), não tenho bola de cristal pra saber se nós saímos durante o curso do ano de 2016. Mas eu pergunto: o Brasil suportaria mais um ano.
Esta estiagem no Nordeste, esta seca do Nordeste...
Essa é uma preocupação ingente (enorme) que eu tenho. Aliás, eu já pronunciei um discurso aqui sobre essa questão, enfocando o exemplo da Paraíba, que não é diferente do restante do Nordeste. Especialmente, não é diferente de parte de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Esses são os estados mais sofridos porque têm, como no caso da Paraíba, 80% do seu território encravados no chamado semiárido. E onde os recursos hídricos disponíveis são apenas recursos de superfície, os açudes.
Os açudes estão praticamente vazios. Uma população de quase um milhão de pessoas, como é a população do Planalto da Borborema, que tem como centro Campina Grande, uma cidade de cerca de 500 mil habitantes, e um entorno que soma mais 500 mil habitantes, o único reservatório que serve a Campina Grande já está consumindo a reserva estratégica. Isso é preocupante.
E, sobretudo, diante das observações que se têm fundamentadas no comportamento de El Niño, que uma observação que permite fazer uma avaliação sobre o comportamento da meteorologia no Nordeste, nós vamos ter mais dois anos de seca. E já vamos com quatro. Então, essa situação é realmente difícil.
Torna singular esta estiagem?
Eu não sei se ela seria singular ou seria mais ou menos igual a todas as outras por que tem passado a Região Nordeste. O Nordeste, a Paraíba, eu próprio, sempre lutamos por uma solução definitiva, que nos permita conviver com a seca sem maiores danos à população e à economia local. E essa solução veio no governo de Lula, a transposição do São Francisco.
Lamentavelmente, o governo de Dilma não deu a mesma prioridade ao processo e agora está sendo surpreendida por essa crise. Certamente os seus ministros , os seus auxiliares, os seus técnicos não estavam fazendo uma avaliação exata, técnica, científica do que poderia acontecer. Porque se tivessem, já estavam dando um tratamento mais adequado à implantação do projeto da transposição.
Se nós vamos ter 2016, 2017 de plena seca, aonde vamos buscar água? Não é água para irrigação, para fins econômicos não. É para beber. E a água para a sobrevivência humana da população. Então, não há outra solução se não a transposição do São Francisco. Agora, no nível de implantação que está aí e o governo não acordou ainda, apesar de todos os avisos, de todos os sinais para essa situação, se não houver um apressamento da implantação do projeto, vai ser muito difícil, especialmente para Campina Grande e todo o Planalto da Borborema. E o sertão porque os reservatórios do sertão também já estão se exaurindo.
Já ouvi de senadores de oposição que o governo federal não está enviando a quantidade de recursos necessária para a Região Nordeste. O senhor tem percebido, apesar da crise, que o governo federal não tem dado atenção ao Nordeste como deveria?
A desculpa é a de sempre: não há recursos. Mas essa situação é uma situação emergencial, emergencial. O governo tem que concentrar todos os recursos possíveis na transposição do São Francisco, para acelerar o processo de implantação e chegar com a água antes que a população morra de sede.
(Valdeci Rodrigues, especial para Política Real. Edição de Valdeci Rodrigues)