Vão todos para o inferno
O imprevisível é como ventanias que mudam destinos, porém ele tratou tudo isso como um jogo de xadrez. Surge, cheio de luz, para quem conhece o jogo, que ele parece não ter mais bispos, mas ainda tem a rainha e o rei.
(Brasília-DF) O avalanche de revelações sobre as contas na Suiça do presidente da Câmara , Eduardo Cunha, são impressionantes. Desde os primeiros movimentos, de busca pelo confronto, aos dias que correm, fica cada vez mais evidente que Cunha sabia que esse quadro poderia vir. Pela frieza e robustez de seus atos, até então, nos leva a crer, milimétrico como ele é – que Cunha calculou cada momento desse jogo.
O imprevisível é como ventanias que mudam destinos, porém ele tratou tudo isso como um jogo de xadrez. Surge, cheio de luz, para quem conhece o jogo, que ele parece não ter mais bispos, mas ainda tem a rainha e o rei. Falando para conhecimento geral: ele ainda tem balas na agulha. Inclusive, uma bala de prata. Parece inimaginável, na política brasileira, que alguém tão fortemente baleado se mantenha ao nível da água com sua nau.
É impressionante que ele tenha, até aqui, controlado Governo e Oposição. No atual momento, guardados movimentos de preservação tanto de tucanos, democratas e de ex-comunistas( exceção do Solidariedade), ou o diversionismo de petistas, com suporte dos últimos movimentos do ex-presidente Lula, estão sendo todos controlados por Cunha.
Os oposicionistas, que não têm um projeto claro para substituir a incompetência de Dilma, e os governistas, especialmente a turma do Palácio do Planalto e os petistas, que se dizem mais puros do que as evidências dos últimos anos e nada podem falar de Cunha, são defensores do pragmatismo. Às favas com seus diálogos retóricos de pureza e de compromisso com os mais pobres. Um bando de hipócritas que colocam seus interesses de sobrevivência, e objetivos políticos de busca e manutenção de poder, à frente de qualquer coisa. Vão todos para o inferno de Dante e do Belzebu!
Neste intenso momento de crise política, moral e econômica não temos, infelizmente, homens e mulheres preparados para nos oferecer boas alternativas. Alguns bons são inexpressivos e alguns outros, até minimamente aptos, não são orgânicos suficientes para, neste momento, construírem pactos mínimos.
A crise política, creiam, vai seguir por muito tempo. Se não acontecer nada de diferente o Conselho de Ética da Câmara só resolverá o caso Cunha no apagar das luzes do ano, ou só em fevereiro/março do ano que vem. O Governo, o Planalto, tem uma agenda legislativa fundamental com a pauta bomba e o futuro da aprovação da PEC da Desvinculação das Receitas da União(DRU), fundamental para o fechamento(?!) das contas do ano. A pauta do impeachment continuará viva. O pavor do Planalto é que seja quem ganhe o posto de Cunha, se ele sair logo, deverá ser um antagonista da inquilina do Palácio do Alvorada. O Parlamento tomou gosto pelo protagonismo, especialmente frente a um governo fraco. Ao Planalto, e Lula sabe disso, é melhor ter uma Câmara capenga que uma Câmara alegando que sabe fazer meia volta e voltar para o mesmo lugar: colocar Dilma de cócoras.
Em verdade, temos muito mais dúvidas que certezas, porém é certo que o tempo de alguns parece ter se esgotado. Se a Política é um grande teatro, com muitas performances, cenas, atos, parece evidente que os vilões se sobrepõem. Inclusive na plateia!
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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