O Outono do patriarca
A coluna de Rangel Cavalcante é publicada todos os domingos aqui e nos "Florida Review" e
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(Brasília-DF) O senador José Sarney é um homem honrado. Ninguém nos disse. Somos testemunha por mais de 50 anos. Sua vida pública, iniciada com uma candidatura frustrada a deputado e coroada com a ascensão á presidência da República, foi marcada por episódios e atitudes que enriquecem a própria história do Brasil. Lembrem o rompimento com a Arena, o partido de sustentação do regime militar, e a forma como governou, conduzindo o país na transição para a democracia, depois de vinte anos de ditadura, com a qual conviveu de modo nada cômodo. Durante toda essa trajetória, como deputado, governador, senador e Presidente, enfrentou adversários ferrenhos, como o velho cacique Victorino Freire e seu hoje amigo de infância Epitácio Cafeteira, que tanto lhe infernizou a vida quando ele governava o Maranhão, entre tantos. Mas jamais sobre ele pesaram acusações de corrupção, de cumplicidade ou de prática de atos desabonadores da vida pública. De repente eclodem aos montes denúncias de bandalheiras no Senado da República, muitas com a assinatura ou o aval do atual presidente da Casa. Sarney teve nas mãos o controle absoluto de um estado, á época dos ricos da federação, e governou durante cinco anos todos os grandes negócios do país, sem manchar a biografia. Não merece o retrato que está hoje sendo exibido ao país e ao mundo, envolvido em irregularidades e desmandos no Senado que preside pela terceira vez. Nomeações clandestinas de parentes, contratos suspeitos com empreiteiras, mordomias, criação de cargos, gastanças desenfreadas, recebimento de auxilio moradia indevido, tudo vem sendo creditado, pelo menos em parte às suas administrações. E tudo provado e comprovado. O presidente José Sarney não merecia isso. No crepúsculo da vida vê borrado o auto-retrato que pintou em mais de meio século. Talvez tenha sido levado pela vaidade, que o fez unir-se ao que de pior existe no quadro político brasileiro para chegar novamente à presidência do Senado. Tornou-se refém de Renan Calheiros, Romero Jucá e outras figuras que só existem e sobrevivem por aqui. Está pagando caro por isso. Deveria ter optado pela presidência da Academia Brasileira de Letras ou pela Secretaria-Geral da OEA para encerrar o que era uma brilhante carreira. Errou ao preferir juntar-se aos que o desviaram da rota da glória para um triste outono do Patriarca.
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Contra, pero
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Logo após manifestar-se em artigo publicado num jornal de Brasília contra o terceiro mandato para Lula, afirmando que ele “não prosperará por imposição do bom-senso”, o deputado Mauro Benevides, como bom pessedista, aprestou-se em assinar a emenda golpista do deputado Jackson Barreto. Ainda bem que o nosso grande timoneiro detesta ler jornal.
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Mesmo filme
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Tinha roubalheira na Sudene, na Sudam, no DNER, na Portobrás. Aí, ao invés de meter os ladrões na cadeia e tomar de volta o botim, extinguiram a Sudene, a Sudam, o DNER, a Portobrás. Agora 250 deputados querem impedir o Tribunal de Contas da União, uma das poucas coisas sérias que restam neste país, de punir os corruptos do serviço público.
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Ficha limpa
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O deputado distrital José Antônio Reguffe (PDT) – ele é neto do ex-ministro Expedito Machado - é candidato a governador do DF sem nunca ter se envolvido em mutretas. Não responde a nenhum processo, não desviou verba de gabinete, não usa mordomias, não emprega parentes, sendo uma das raras exceções na inútil e cara Câmara Legislativa de Brasília. Com essa ficha limpa, vai ser difícil chegar lá.
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Chance
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O presidente Lula tem mais uma chance de acertar, nomeando o mais votado da lista de candidatos ao cargo de Procurador-Geral da República, Roberto Monteiro Gurgel, com o que não apenas respeitará a tradição como manterá o alto nível e a seriedade que nortearam a gestão de Antonio Fernando de Souza.
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Sério
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Está ai um projeto sério, que por isso jamais será aprovado, na Câmara dos Deputados. É do presidente da Casa, Michel Temer, que pretende transformar em majoritário o voto para deputado federal, estadual e vereador. Traduzindo: serão eleitos os candidatos mais votados, independentemente de legendas.
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Exagero
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O Banco do Nordeste contata uma empresa de segurança privada para transportar malotes de sua agência na Praça Senhor do Bonfim, em Salvador, para uma agencia do Banco do Brasil que fica exatamente na mesma praça, a apenas 20 metros de distancia.
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Maroto
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O Ministério Público Federal age junto ao Congresso para impedir a aprovação de um projeto maroto que visa a punir e até a impedir propositura de ações judiciais contra políticos corruptos. Adivinhem quem é o autor da proposta. É o deputado mais votado do Brasil, o honrado doutor Paulo Salim Maluf, aquele que consegue depositar no exterior até dinheiro que não existe.
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Na ativa
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Encontramos nos states o juiz John Paul Stevens, integrante da Suprema Corte dos Estados Unidos. Ele tem 89 anos de idade. Lúcido, brilhante, trabalha todos os dias e nem pensa em se aposentar. Fosse no Brasil, já estaria há 19 anos fora do serviço, atingido pela expulsória constitucional que aposenta compulsoriamente aos 70 anosa de idade os nossos magistrados.
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É muito cacique
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Surpresa para o ministro Carlos Minc, o nosso Crocodilo Dandee tupiniquim, saber que no INCRA tem mais cacique do que índio. Só um exemplo: lá existem 1 presidente substituto, 17 coordenadores substitutos, 137 chefes de divisão substitutos, 56 chefes de serviço substitutos, 33 chefes de unidades avançadas substitutos. São 274, todos ganhando, mesmo com os titulares trabalhando.
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Guerra Santa
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Uma guerra santa em Águas Lindas de Goiás, cidade goiana a 50 km de Brasília. É que a Câmara Municipal aprovou projeto destituindo Jesus Cristo da condição de Padroeiro do município, substituindo-o pela mãe dele, Nossa Senhora. Os evangélicos, que não reconhecem a virgem Maria, estão revoltados e o clima é tenso. O prefeito apoiou a mudança.
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por Rangel Cavalcante
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