Uma questão de vontade e coragem
A Coluna de Rangel Cavalcante é publicada aqui e nos "Florida Review" e "Diário do N
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( Brasília-DF) Quando afirmou que havia pelo menos 300 picaretas no Congresso o presidente Lula nem de perto sonhou que um dia se tornaria refém deles, tolerando e até apoiando picaretagens, como fez ao endossar a farra das passagens aéreas, que não é privilegio do legislativo. O que se viu agora, quando a INFRAERO decidiu tornar-se numa ilha de moralidade, retrata muito bem como os nossos políticos perderam a compostura e já nem tentam mais disfarçar os desmandos. A empresa eliminou cargos comissionados preenchidos por indicação política. Lá estavam, bem empregados, irmãos, cunhados e outros protegidos de deputados e senadores. Um deles empregou lá a ex-mulher e a gente passou a pagar a pensão dela. Aí os principais líderes do PMDB foram ao Palácio fazer chantagem com o presidente. E foram claros: se demitirem os apadrinhados haverá retaliação, com a derrubada de vetos presidenciais, rejeição de projetos importantes do executivo e outras mais. Ou seja, vão punir os brasileiros se perderem as sinecuras. E o emprego-pensão da ex-mulher do deputado já parece estar a salvo. Esse é apenas mais um exemplo do estado de permissividade e de desapreço pela coisa pública a que chegaram os nossos políticos. O presidente Lula bem que poderia terminar o mandato com a imagem de estadista. Sob o seu governo o Brasil melhorou de verdade.
Ao abandonar a bandeira da agitação radical petista pela prudência, seguindo a política econômica dos antecessores, evitou a quebra do país, que graças a isso hoje resiste à crise financeira mundial. Isso lhe deu prestigio internacional. Mas o Lula de ontem mudou também para o lado errado ao aliar-se àqueles que mais combatia, justamente os campões da corrupção nacional. Não dispondo de maioria no Congresso, o presidente tem que negociar com a “base aliada” – aliada? – cada projeto que enviar ao Congresso. E negociar nesses casos não é conversar, convencer, dialogar, mas comprar, pagar com dinheiro, verbas, ministérios, empregos, verbas, favores, mordomias. E é isso que vem destruindo a moral e os costumes do país. Hoje aqui tem fraude e corrupção em tudo. Há fraude em concursos públicos, vestibulares, no bolsa-escola, no bolsa-família, no exame para motorista, nas aposentadorias, nos remédios, nas concorrências, na gasolina, nas eleições, em tudo. E ninguém fica mais indignado. Lula pode sair como estadista se pelo menos tiver a coragem de enfrentar esse furacão. Tem apoio popular para isso. Só precisa de duas coisas: vontade e coragem.
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Afago
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O ministro Ubiratan Aguiar, presidente do Tribunal de Contas da União, é um dos novos agraciados com a comenda da Ordem do Rio Branco pelo presidente da República, no grau de Grâ- Cruz.
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Proteção
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Em meio ao festival de denúncias que deslustram as imagens dos nossos parlamentares, a Mesa do Senado tomou uma providência bastante oportuna. Mandou um grupo de servidores da sua Policia Legislativa para um curso de treinamento de Proteção de Autoridades. Está mesmo precisando.
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Socorro
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O Ceará e o Maranhão se afogam nas inundações e a população de Altamira, no Pará, publica anúncios nos jornais de todo o país pedindo donativos para as vitimas das inundações que atingiram o município. Aí o governo manda o ministro da Pesca e um magote de assessores, com uma enorme despesa, para o Oriente Médio, levando uma doação de 10 milhões de dólares para os palestinos. Devia pelo menos mandar pela Internet.
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Dossier
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Chegam ao Supremo Tribunal Federal, onde jamais serão julgados, os processos contra o mais novo senador sem voto do país, Roberto Cavalcanti, (PRB), herdeiro da vaga deixada pelo senador José Maranhão, que assumiu o governo da Paraíba. Ele é acusado de corrupção ativa, formação de quadrilha, estelionato e uso de documento falso.
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Milésimo
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Não deu para ler domingo. O senador Mão Santa, do Piauí, comemorou, claro que com mais uma laudatória peroração, o milésimo discurso pronunciado em plenário durante o seu mandato. Não tivesse perdido tanto tempo falando, bem que poderia ter feito alguma coisa pelo seu estado, que só perdeu o titulo de o mais miserável da federação porque o Maranhão encolheu e lhe tomou o lugar.
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Sagrada, pero
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O senador Epitário Cafeteira defende o uso de passagens da Câmara e do senado pelos familiares dos deputados e senadores sob o argumento de que “a família é sagrada”. Não disseram a ele que a Sagrada Família só andava a pé e a única viagem que fez foi de jumento. E só tinha lugar sentado para um.
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Anotem
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Podem tomar nota. O BNDES esta preparando um projeto de reestruturacao da INFAERO para transformá-la em companhia de capital aberto, com venda de acoes a terceiros no mercado de capitais. É o primeiro passo para a privatizacao da empresa que cuida – não tão bem – dos nossos aeroportos, um dos sonhos dos tucanos nos tempos de FHC.
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É velho
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Esse negócio de parlamentar vender passagens aéreas é coisa antiga. O poneiro foi um deputado que, ha mais de 30 anos, vendeu uma passagem e foi desoberto porque o comprador tentou reeembolsar o valor junto à companhia, por causa de atraso no voo. O vendedor depois foi governador e hoje é senador da República. O escândalo esta nos anais da Câmara.
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Diferença
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Sobre o bate-boca entre os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, durante uma sessão plenária do Supremo Tribunal Federal, um famoso advogado com atuação na corte resumiu: trata-se de um caso tipicamente brasileiro de gente famosa que se instruiu mas nao se educou.
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Di menor
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Garoto de 12 anos é preso pela 11ª vez por crime de furto de automóvel em São Paulo e logo devolvido à mãe. Ou seja, já foi solto dez vezes. Tudo sob a proteção e incentivo do Estatuto do Menor e do Adolescente. No Brasil a solução para o delinqüente infantil é o tempo, que os transforma em bandidos maiores aos 18 anos.
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por Rangel Cavalcante
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