31 de julho de 2025

Como o cachorro argentino

A Coluna de Rangel Cavalcante é publicada aqui e nos "Florida Review" e "Diário do N

Publicado em
( Havana - Cuba) Aqui em Cuba não se apostam muitas fichas em Barack Obama, mas há uma acentuada esperança de que o futuro presidente dos Estados Unidos dê novos rumos à política americana em relação ao seu país, afrouxando o rígido bloqueio econômico que submete doze milhões de pessoas às mais duras privações e alimenta cada vez mais o regime duro a que estão submetidas. Mas os cubanos não esperam que Obama apenas os ajude a ter mais comida à mesa, remédios, roupas, pasta de dentes e até sabonete para o banho. Querem fazer parte do mundo, do qual estão afastados há 50 anos. O bloqueio econômico só tem ajudado a fortalecer o regime dos Castros. Os Estados Unidos são o bode expiatório, e três gerações de cubanos, submetidas a um intenso processo de lavagem cerebral, já se convenceram de que todos os seus problemas são causados por Tio Sam. Mas em boa parte da população a esperança é a de que Obama afrouxe a pressão, mas exija contrapartida do governo cubano. A principal delas é a liberdade. Liberdade de dizer e de ouvir. De saber o que se passa no resto do mundo, de ter acesso aos frutos do desenvolvimento. Aqui estamos ilhados em todos os sentidos. Os jornais, poucos, mini-tablóides com oito páginas, todos do governo e editados no mesmo lugar, não trazem noticias. Só doutrinação e loas ao governo. Os noticiários do rádio e tv gastam todo o tempo com cultura e esportes. Tudo entremeado de Fidel e Raul Castro e Hugo Chávez. Grandes espaços priorizam “Reflexões do Compañero Fidel”. Doente e escondido, o compañero se dedica a refletir sobre todos e sobre tudo. E como reflete! Um professor ganha pouco mais de 30 dólares por mês, menos do que os afortunados mendigos que conseguem dos turistas mais do que isso numa semana. A luz, água, gás, comida e tudo mais, é fornecido precariamente a preços vis. Não há emprego.embora quase toda a população adulta tenha curso superior ou profissionalizante. Sobram doutores mas não tem quem plante batata no campo. Médicos, engenheiros, professores, trabalham como garçons, motoristas de bicitaxis, ganhando de gorjeta o triplo do salário pago pelo Estado, o único patrão. Um dia isso vai estourar. Mas os cubanos não sabem quando e por isso alimentam esperanças de que Obama consiga de Raul Castro, em troca de um alivio no bloqueio, que pelo menos permita que eles abram a janela para o mundo. A gente aqui até lembra a história daquele cachorro gordo que fugiu da Argentina, durante a ditadura militar, onde comia à larga, só para ter o direito de latir.
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Chegada
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A eleição de Barack Obama nos Estados Unidos já produz efeitos aqui em Cuba. Russos e chineses tomam chegada e cuidam de aumentar suas influências sobre a ilha, ante a perspectiva de uma melhora das relações de Havana com Washington. Numa semana os presidentes das duas potências visitaram a capital cubana, prometendo intensificar a ajuda econômica ao país.
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Desinformado

Também desinformado sobre nós se mostra um advogado e diplomata aposentado, ao comentar que em Cuba há uma acentuada escasses de mão’de’obra no campo porque praticamente toda a populacão tem curso superior. Sobram médicos, advogados, professores,engenheiros, mas faltam Ele sugere que o Brasil mande para cá um magote de sem terras para trabalhar no campo. Patrioticamnente, escondemos dele que os nossos sem terra não querem trabalho, mas só fazer fofoca e tomar fazendas prontas, com piscina e tudo.
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Saudades
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Brasileiro aqui em Cuba fica com uma saudade danada do Brasil, Falta muita coisa por aqui.E não é só remédio e alimento. Os cubanos, coitados, não sabem o que é sequestro relampago, assalto a mão armada, assalto a banco e a posto de gasolna, crime organizado, nunca ouviram discursos dos senadores Mão Santa e Ideli Salvati. Vendem passarinhos engaiolados nas ruas e até dirigem depois de tomar uns tragos, sem medo do bafômetro. Não podem nem falar mal do presidente. Outra coisa chata: aqui tem uma mania besta de botar ladrão de colarinho branco na cadeia.
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Cobrança
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Tem gente aqui em Havana cobrando do comandante Ariston Pessoa de Araújo o inicio dos voos da sua TAF ligando Fortaleza a Havana, prometida há mais de um ano. Atualmente não existe qualquer ligacão aérea direta entre Cuba e o Brasil A gente só chega aqui de través, por empresas estrangeiras, quase sempre via Panamá e México.
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Sem nada
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Perde tempo quem buscar na embaixada do Brasil em Havana alguma publicacão ou mesmo informacão turistica sobre o nosso país, Nem um folheto, um mapa, um release ou mesmo um jornal velho. Bem que a EMBRATUR podia suprir a deficiencia do Itamarati e mandar para cá alguma coisa, principalmente sobre Brasília e a Amazonia, que despertam maior curiosidade entre os cubanos. .
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De três
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Aqui não vale dizer que alguma coisa é tão falsa quanto uma cédula de três. É que uma das mais procuradas e levadas como souvenir pelos turistas é a cédula de três pesos, que traz a efígie de “Che” Guevara. Tem dois tipos: a conversível, que vale quase quatro dólares, e a chamada “moneda nacional”, mais procurada, pois com um dólar você compra vinte delas.
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Piada
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Piada sussurrada por aqui: dizem que o maior problema de Raul Castro, quando Fidel morrer, será encontrar u’a maneira de convencer o mano de que está morto.
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Único
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O Centro de Imprensa Internacional de Cuba é de um luxo total. Tudo bacana, muita luz. Mas não tem jornal para se ler, Internet nem telefone para ligar para o exterior. O cidadão cubano não tem acesso livre à Internet. Raros são os autorizados a ter acesso a ela. Uma saída é recorrer aos hotéis de turismo, que cobram o equivalente a R$ 18,00 por hora.
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Por Rangel Cavalcante

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