Maranhão.
Disputa maranhense mobiliza tucanos contra Família Sarney; Até deputada Janete Capiberibe aproveitou discurso de Madeira para criticar grupo político do ex-presidente da República e do Senado.
( Brasília-DF, 10/10/2005) Um discurso do fim da semana passada acabou mobilizando tucanos a prestarem solidariedade ao deputado Sebastião Madeira(PSDB-MA), presidente do Instituto Teotônio Vilela(PSDB-MA). Deputado foi ao plenário nesta tarde, em grande expediente, para contraditar o discurso da última sexta-feira,07, do deputado Sarney Filho(PV-MA). Tucanos se solidarizaram a Madeira, revelando que os tucanos continuam com dificuldade de se relacionar com a Família e o grupo político do Senado José Sarney(PMDB-AP).
O deputado Sebastião Madeira foi aparteado por vários tucanos, inclusive o deputado Bismarck Maia(PSDB-CE), secretário geral do partido, ligado a Tasso Jereissati(PSDB-CE).
Confira a íntegra do discurso e os apartes:
“ Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, inicialmente quero dar uma explicação. Nesses meus 11 anos de mandatos seguidos, raramente ocupo esta tribuna para tratar de questão paroquial, de luta política no meu Estado.
Infelizmente, hoje sou obrigado a fazê-lo, porque na última sexta-feira o Deputado Sarney Filho ocupou a tribuna e durante vinte e cinco minutos fez um pronunciamento agredindo-me violentamente.
Para que os nobres companheiros entendam a razão deste pronunciamento, darei algumas explicações.
Lerei alguns trechos do artigo do historiador Marco Antônio Villa, professor da Universidade de São Carlos, sob o título: A crise política e o coronelismo, publi. Na terça-feira, no jornal Folha de S.Paulo, seção Opinião, Tendências e Debates, Vou ler alguns trechos para dar prosseguimento ao pronunciamento:
A República vive a crise política mais grave dos últimos quarenta anos. Se a crise tem múltiplas facetas, uma delas se deve à permanência no Congresso Nacional do lobby coronelístico. O poder dos oligarcas mantém a República sub judice, levou à formação de uma estrutura estatal petrifica, imune às mudanças, imobilizando os governos e fraudando a vontade dos eleitores.
Como comandam politicamente boa parte do Congresso Nacional, entra governo, sai governo, os oligarcas continuam dando as cartas. Se na esfera federal o clãSarney faz o papel de defensor da democracia na província, exerce o poder avassalador.
Um caso exemplar de oligarquia com destacadapresença nacional é o da família Sarney, no Estado do Maranhão. Neste mês, completam-se 40 anos de eleição de José Sarney para o governo estadual. O jovem governador, então com 35 anos de idade, representava a modernidade; contudo acabou criando uma máquina política tão eficaz que permitiu se manter por quatro decênios no poder do se Estado, no sentido mais lato da expressão. Desde então, nenhum governador foi eleito sem que tivesse o nihil obstat de José Ribamar Costa. E se, no exercício do cargo, o governador eleito rompe com o padrinho, na próxima eleição a família Sarney retoma o controle político.
Domínio tão longevo é o caso único na história brasileira. Diversamente de outros oligarcas, os Sarneys são politicamente plurais. O pai é peemedebista, a filha é pefelista e o filho é verde. Se os filhos são eleitos pelo Maranhão, o pai é representante do Amapá, apesar de não ter domicílio naquele Estado. Se na esfera federal, o clã representa o papel de defensor das instituições democráticas, na província exerce o poder total, avassalador, sem ceder o menor espaço à oposição, no estilo dos mandões locais.
O maranhense, desde o nascimento, toma conhecimento da existência deles. Em São Luís, a capital, há a maternidade Marly Sarney. Para residir, pode escolher os bairros Sarney, Roseana Sarney, Dona Kiola (mãe de Sarney) ou Sarnei Filho. Quando for entrar na escola, pode escolher os colégios Roseana Sarney, Marly Sarney, José Sarney, Sarney Neto ou Fernando Sarney. Para realizar um trabalho escolar, irá procurar a biblioteca JoséSarney e, se quiser alguma informação sobre as contas públicas, pode se dirigir à sede do Tribunal de Contas Roseana Sarney Murad.
Nas férias, caso queira conhecer outra cidade do Estado, pode se encaminhar à rodoviária Kiola Sarney, seguindo, é claro, pela avenida José Sarney. Ao tomar um ônibus para sai da bela ilha de São Luís, tem de atravessar a ponte JoséSarney.
Ele pode visitar, no interior do Estado, o Município de Presidente Sarney, de pouco mais de 13 mil habitantes, segundo o IBGE. A cidade é um bom e triste exemplo do domínio oligárquico: 35% dos domicílios têm esgoto sanitário e 0,6%, água encanada: 38% dos habitantes acima de 13 anos são analfabetos( no Brasil são 13%). O rendimento médio da população é de R$ 159. NO ranking do IDH dos Municípios brasileiros, a cidade está em 5.268º lugar.
Nestes 40 anos, o Maranhão, que já era um Estado pobre em 1965, transformou-se na vanguarda do atraso. Dos Estados brasileiros, é o que tem os piores indicadores sociais. Vivem abaixo da linha da pobreza, dois terços da população. Todavia, se os recursos são escassos para a educação, saúde ou o saneamento básico, são fartos quando pagam as obras não realizadas, como a estraga ligando os municípios de Arame e Paulo Ramos. Os 133 quilômetros nunca saíram do papel, mas o pagamento foi efetuado. As construtoras receberam U$$ 33 milhões, apesar dos insistentes protestos da oposição local..
Com certeza a estrada mereceria um romance que poderia ser escrito por algum acadêmico local, seguindo o realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez. Romper o poder coronelístico por dentro, ou seja, na própria província étarefa quase impossível. Os coronéis controlam o Estado e seus braços repressivos. As apurações das eleições são, no mínimo, duvidosas. Apelar para o Poder Judiciário? Parentes dominam a Justiça. Optar pelos meios de comunicação? No Maranhão os Sarneys têm a concessão direta e indireta de mais de duas dúzias de emissoras de rádio e TV além de vários jornais.
Esse foi o artigo. No dia seguinte, a Folha publicou uma carta do Deputado Sarney Filho reclamando como aquele jornal publicou tal artigo num espaço tão nobre. Para desclassificar oarticulista, o historiador Marco Antonio Villa, alega que é ligado ao PSDB, que fez um trabalho no passado para o Instituto Teotônio Vilela, cujo Presidente é o Deputado Sebastião Madeira, seu adversário político no Estado.
Ao ler essa carta, escrevi uma carta ao jornal Folha de S. Paulo, publicada na quinta-feira, dia 6, na qual dizia que o Deputado Sarney Filho, das afirmações que fazia, acertava uma e errava outra. Acertava quando dizia que eu era seu adversário e errava quando dizia eu havia contratado o articulista pelo Instituto Teotônio Vilela. Dizia ainda que quando o instituto contrata o intelectual não compra sua consciência e que o Deputado deveria ter aproveitado a carta para rebater os dados do artigo mostrando que o Maranhão não ficou mais pobre sob o domínio de sua família.
E achei que a polêmica estava encerrada.. Qual não foi minha surpresa quando viajei para o Maranhão na sexta-feira e ao chegar a São Luís tive a notícia de que o Deputado ocupou esta tribuna e no Grande Expediente me atacou violentamente.
Começou requentando um caso do passado, o episódio divulgado pela imprensa de um lobista, Alexandre Paes Santos, onde meu nome estava na agenda do lobista, meu e de mais alguns Deputados. E continuou. Continuou dizendo que eu não conhecia o Maranhão, que nem tinha nascido no Maranhão, já tinha chegado lá adulto e que eu devia era usar minha força política para influenciar o Governador, para ajudar o Estado, e por aí vai. Eu me senti na obrigação de vir dar aqui uma resposta ao povo brasileiro e rebater as acusações do Deputados.
Primeiramente em relação à acusação que ele me faz do rumoroso caso de Alexandre Paes Santos. Na época a Corregedoria abriu um processo a pedido do Deputado Rubens Bueno, do PTB/PR e de Walter Pinheiro, do PT/BA, apresentaram uma representação contra mim e que foi investigada, e aqui está a certidão.
Certifico que na VIII Reunião Ordinária, ocorrida no dia 29 de novembro de 2001, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados decidiu pelo arquivamento da referida denúncia por falta de provas. Arquivado por unanimidade.
O Sr. Bismarck Maia Permite-me V.Exa. um aparte?
O SR. SEBASTIÃO MADEIRA Com prazer, Excelência.
O Sr. Bismarck Maia Gostaria de fazer esse aparte não só como seu companheiro, seu amigo, colega de bancada tucana, mas sobretudo como Secretário do partido, tendo em vista V.Exa. ser o nosso Presidente, com muita honra, do Instituto Teotônio Vilela. Queria deixar registrado, portanto, o conhecimento como companheiro, como colega, da sua história, da sua vida política, e não só nós tucanos que o conhecemos, qualquer Deputado desta Casa, independentemente de partido, sabe de quem se trata esse nobre representante do Maranhão, particularmente da cidade de Imperatriz, médico, estudante bravo, destacado, que foi lutar e tentar se formar no Estado do Ceará e voltou para sua terra. Quem volta para sua terra é porque quer servir ao seu povo. V.Exa. voltou para servir o Maranhão, particularmente seus conterrâneos da região de Imperatriz e serviu muito bem, tanto que vem sendo eleito, a cada eleição, por um número maior de votos. Não foi à toa que na última eleição foi o segundo mais votado. E não se trata V.Exa. de um homem poderoso, de um homem dono de empresas ou de homem de família de berço rico, trata-se do Deputado que o povo gosta de ver na Casa, lutador, prestador de serviço, que vem sendo reeleito justamente porque presta serviço à sua comunidade.
Como secretário, conhecedor da sua atuação no Instituto Teotônio Vilela, tenho a complementar o grande trabalho que V.Exa. tem feito nesses últimos 2 anos. Exatamente ao encontro dos anseios do que o partido precisa, ou seja, levar a nossa visão de País, levar a visão tucana de País para todo o Brasil e, mais do que isso, levar o povo brasileiro, independente da nossa visão, à discussão política, à discussão sobre os temas como V.Exa. tem levado, diversos deles em todo o Brasil. V.Exa. então, tem a nossa solidariedade, a do partido e de todos aqueles que lhe conhecem. E de tantos quanto estivessem e que estão nesta Casa, neste momento, tenho certeza que falariam daquilo que diz respeito a V.Exa., daquilo que é sua história, repito, um homem de bem, trabalhador, lutador, inclusive superando as dificuldades, em sendo político, as dificuldades que se apresentam a sua frente, diante de tudo aquilo que lhe querem colocar como obstáculo. Mas determinado, como V.Exa. é, e ao lado do povo do Maranhão, vem-se destacando na sua luta, e não é à-toa que os resultados de eleição vem-lhe dando cada vez mais o apoio popular do povo maranhense. Tenho certeza que esse apoio é crescente. Se foi o segundo mais votado, com certeza, estará aí, se Deus quiser, sendo o primeiro mais votado, para a honra do PSDB, do povo do Maranhão e, sobretudo, para a honra do Parlamento que quer ver na Casa homens de bem, trabalhadores, determinados e prestadores de serviço ao seu povo e à Nação brasileira. Nobre Deputado Sebastião Madeira, V.Exa. tem o nosso apoio e nossa solidariedade.
O SR. SEBASTIÃO MADEIRA Agradeço o aparte de V.Exa., nobre Deputado Bismarck Maia.
Concedo ao nobre Deputado Wagner Lago o aparte.
O Sr. Wagner Lago Nobre Deputado Sebastião Madeira, também, quero, a exemplo do nobre Deputado Bismarck Maia, solidarizar-me com V.Exa. A leviandade da agressão que sofreu é uma prática do grupo oligárquico dominante no Maranhão.
Como o IBGE afirmou que os piores indicadores sociais do Brasil estavam no Maranhão, a atual Senadora Roseana, que não vem ao Senado, impede que seja aprovado o empréstimo de 30 milhões de dólares para a erradicação da pobreza do Estado e contratouum outro instituto para dizer que o resultado era uma questão de metodologia. Nobre Deputado Sebastião Madeira, não me vou alongar no aparte, mas quem conhece a história de V.Exa., V.Exa., que tem origem no trabalho e tem profissão, diferente daqueles que o acusam, V.Exa. tem toda a nossa solidariedade. Enquanto V.Exa. está querendo libertar o sul do Maranhão dos desmandos dessa oligarquia que nada fez pelo sul do Estado, criando o projeto é de V.Exa. o Estado do Maranhão do Sul, eles estão agredindo não só V.Exa. como também a realidade. Dos cem mais pobres Municípios do Brasil, 83 estão no Maranhão. O Presidente Lula errou porque deveria ter estabelecido o Fome Zero em 83 Municípios que estão em situação de miserabilidade pior que em Guaribas no Piauí. A Frente de Libertação do Maranhão, da qual faz parte V.Exa. e o partido de V.Exa., haveráde destruir, de destronar essa bastilha, que transformou o Estado, rico potencialmente, com terras boas, rios perenes, povo trabalhador, que agasalhou o nordestino quando expulso da seca, no mais miserável dos Estados.
E eles agora dizem que o Maranhão sempre foi pobre para justificar o descaso da oligarquia. Sim, foi pobre, mas com dignidade. Hoje dois terços dos maranhenses vivem em estado de indigência, de miserabilidade. Esse é o troféu que eles conseguiram, é o apanágio que eles colocaram no pódio da miséria nacional, um Estado potencialmente rico. Parabéns, Deputado Sebastião Madeira! V.Exa. merece nosso apreço e respeito.
A Sra. Janete Capiberibe - V.Exa. me concede um aparte, Deputado Sebastião Madeira?
O SR. SEBASTIÃO MADEIRA Pois não, Deputada Janete Capiberibe.
A Sra. Janete Capiberibe Depuado Sebastião Madeira, tive o prazer de encontrar V.Exa. quando do ingresso do Governador José Reinaldo no Partido Socialista Brasileiro e da formação da grande Frente de Libertação do Maranhão, o que muito me encheu de alegria e esperança. Digo a V.Exa., e aos que nos ouvem neste momento, que não é só o Maranhão que está nessa situação. Há 16 anos o Senador José Sarney está no Amapá e quer torná-lo num Maranhão de 40 anos. Vejam a que ponto chegou aquele Estado. Hoje o Governador José Reinaldo luta para pelo menos mudar a cara da educação, importante para o desenvolvimento da população. O Senador quer fazer no Amapáo que fez no Maranhão. O Amapá será então o segundo Estado mais pobre do País, porque o primeiro é o Maranhão.
O Senador utiliza métodos démodé. Exemplo disso foi aquela balela com o Vice-Governador para acabar com o então Governador José Reinaldo. Esses métodos ultrapassados não acontecem mais no País. A política tem de ser transparente. Essa política da enganação só interessa a ele, à sua família, às elites que estão junto com ele, não interessa ao Maranhão nem ao Amapá. No meu Estado, estamos ficando alerta, para não ver o povo em situação miserável. Portanto, continue firme nafrente de libertação do Maranhão, Deputado Sebastião Madeira, e nós cuidaremos do Amapá. Juntos, maranhenses e amapaenses sérios e responsáveis, dobraremos essa página ruim da História do Brasil. Faço este apartepara dizer que, mesmo sem domicílio eleitoral no Amapá, o Senador ali está. Posso dar a mão aos maranhenses. Se ele vai ao Amapá, eu vou ao Maranhão também. Muito obrigada.
O SR. SEBASTIÃO MADEIRA Ouço, com prazer, o Deputado Domiciano Cabral.
O Sr. Domiciano Cabral Quero me solidarizar com V.Exa., bom companheiro do PSDB, e dizer vou ser breve que isso é fruto do seu crescimento político e do seu trabalho. Fique certo de que, quando começamos a incomodar, os adversários tentam nos atingir. Isso acontece com V.Exa. em virtude do grande trabalho que está fazendo na Câmara Federal.
Tenho certeza absoluta de que os tempos da família Sarney no Maranhão está chegando ao fim. É por isso que o desespero chegou à tona. Deputado Sebastião Madeira, fique firme, conte com os companheiros do PSDB, pois terá a solidariedade de sempre. V.Exa. éum bom companheiro, digno e merecedor do voto de confiança dos maranhenses. Parabéns pela sua firmeza.
O SR. SEBASTIÃO MADEIRA - Muito obrigado. Ouço, com prazer, o aparte do nobre Deputado Eduardo Gomes.
O Sr. Eduardo Gomes Deputado Sebastião Madeira, na política brasileira alguns incomodam porque não fazem nada e V.Exa. incomoda porque faz muito. Não vou tecer comentários pessoais da política regional, mas a observação contida em seu discurso, os apartes dos colegas mostram a consolidação de um político de expressão nacional, presidente do Instituto Teotônio Vilela. Tenho certeza de que opovo do Maranhão, especialmente do Maranhão do Sul, sabem que V.Exa. não é um político de casos, como o fato atual, isolado, de motivação política, mas é um político de causas e por isso incomoda muito. Certamente, a perseverança, a força de vontade, a competência, a capacidade de V.Exa. estão à disposição do povo brasileiro, do ITV, do PSDB nacional e dos que querem ver liberto o Maranhão do Sul. Portanto, restrinjo minhas palavras fazendo referência ao que V.Exa. tem de melhor. Neste caso, o nobre Deputado incomoda porque trabalha de mais.
O SR. SEBASTIÃO MADEIRA Muito obrigado, Deputado Eduardo Gomes.
Ouço o Deputado Lobbe Neto.
Lembro S.Exa. de que nosso tempo está encerrando e teremos de contar com a generosidade do Presidente.
O Sr. Lobbe Neto - Deputado Sebastião Madeira, como membro do Instituto Teotônio Vilela e Vice-Líder do PSDB, trago-lhe o meu abraço e a minha solidariedade. Político começa a incomodar adversários pelo trabalho, seriedade, honestidade, comportamento ético e trabalho pelo bem comum. Continue sendo grande liderança simples, humilde, objetivo e mostrando que precisamos fazer política com ética e libertar das grandes oligarquias o País para que possamos construir o Brasil que queremos para nossos filhos e netos. Parabéns, Deputado Sebastião Madeira.
O SR. SEBASTIÃO MADEIRA - Muito obrigado, Deputado Lobbe Neto.
O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Germano) - Deputado Sebastião Madeira, entendemos ser justo conceder a V.Exa. 5 minutos para concluir o belo pronunciamento.
O SR. SEBASTIÃO MADEIRA Agradeço a V.Exa. a generosidade.
No seu discurso, para tentar desqualificar-me como representante do Maranhão, S.Exa. disse que não nasci no Maranhão. O que isso tem a ver? O Maranhão já teve o Senador Assis Chateaubriand, nascido em Pernambuco, e o grande líder Vitorino Freire, também de Pernambuco, e ainda tem o grande líder Epitácio Cafeteira, da Paraíba, que foi Deputado, Prefeito de São Luís, Governador e Senador.
Milhares de brasileiros têm ajudado a fazer o Maranhão. Então, não é desclassificar uma pessoa morar no Maranhão sem ter nascido lá.
Mas eu nasci no Maranhão. O Deputado Sarney Filho, ao preparar seu discurso, seus assessores esqueceram de olhar no site da Câmara minha biografia, e se olhou não sabe que São Domingos, na região dos Cocais, é Maranhão. Eu nasci num pequeno vilarejo chamado Palestina, Município de São Domingos, que hoje é uma cidadezinha chamada Graça Aranha, nome que homenageia um grande escritor maranhense.
Eu nasci no Maranhão, meu pai, meu avô e meu bisavô também, e o pai do meu bisavô, que veio do Ceará em 1850, Delfino Antônio Madeira, é o ancestral mais distante que tenho conhecimento. Eu nasci no Maranhão, luto por ele. Conheço grande parte do Estado, de distrito em distrito. Então, mesmo que eu não tivesse nascido lá, não me desclassificava. Mas eu sou maranhense.
Agora, talvez para o Deputado maranhense seja só quem é filho de pai poderoso, quem nasceu em São Luís. Os milhões que nasceram nos pequenos distritos do Maranhão não podem gozar da naturalidade maranhense.
Mas, meus amigos, no Maranhão essa é a tragédia do meu Estado há um poder esmagador, com praticamente toda a mídia, todo o poder econômico, da Justiça, dos tribunais, massacrando qualquer liderança emergente.
Eu mesmo já fui acusado, no Fantástico, em matéria preparada no Maranhão, de ter contratado um pistoleiro para matar um Prefeito eleito. Foi preciso fazer greve de fome nesteplenário, para poder ter o direito de resposta na Globo, para poder o Ministério da Justiça investigar. E, depois de um ano, mostrou que foi uma farsa contratada para me derrubar politicamente.
É este o Maranhão! É este o crime cometido por aqueles que se mostram para o País como estadistas. Mas, no Maranhão, sufocam. No Maranhão, matam pela fome.
E o Deputado vem aqui e diz que, no Maranhão, não há fome. Pode até não haver, numa certa Casa do Calhau, e a comida ser maravilhosa. Mas, das 100 cidades mais pobres do Brasil, 83 estão no Maranhão. O maranhense passa fome sim. Pode até encher a barriga de farinha com água. Mas isso não é nutrição. No Maranhão, há fome sim. O Maranhão tem os piores índices sociais deste País.
Tudo é resultado de um poder esmagador, que destrói os líderes, que não permite que ninguém levante a cabeça.
Quando o Deputado Sarney Filho requenta aqui o episódio do lobista, eles estão me dando um recado: "Conforme-se em ser um deputadozinho de Imperatriz. Não levante a cabeça, senão nós vamos te arrebentar!"
Eu não tenho a menor dúvida de que, com este pronunciamento, a retaliação será violenta.
O Jornal O Estado do Maranhão, na primeira página, já repercutiu o discurso do Deputado aqui.
A TV Globo afiliada da globo no Maranhão, as dezenas de rádios, a retaliação será violenta. Mas eu não temo, Deputado Lobbe Neto, porque eu só quero o mandato e este só posso dignificá-lo se eu tiver liberdade para dizer o que quero, se eu tiver autonomia,se eu puder defender o povo pobre do Maranhão. O mandato outorgado pelo povo é sagrado e ele só dignifica o povo que nos elegeu se ele for livre. Eu não aceito chantagens nem recados. Há menos de dois meses, o próprio Deputado Sarney Filho, numa dessa cadeiras do fundo do plenário, falando em nome do papai, José Sarney, e da irmã, Roseana Sarney Murad, convidou-me para ser candidato a Vice-Governador. Não aceitei, porque o poder que não serve para melhorar a vida do povo, conspurca. Esse não é o poder que busco. O Deputado me faz um desafio conclamando para lutar pelo povo do Maranhão. É isso que tenho feito nos meus 11 anos de mandato, percorrendo o Maranhão, levando recursos para as pequenas comunidades, defendendo o povo do Estado e lutando para que no Maranhão haja liberdade, lutando para resgatar a esperança que foi seqüestrada do povo, para eliminar poder opressivo que tenta esmagar o Governador José Reinaldo,que rompeu com esse sistema.
Enquanto ele luta para diminuir a pobreza, o que se diz estadista do Amapá, sem querer ofender o Amapá, senta em cima de projeto de combate à pobreza rural, de 30 milhões de dólares, aprovado em todas as instâncias, em um caso nunca visto na história do Congresso Nacional: uma bancada de Senadores sabotaram um projeto de combate à pobreza para o meu Estado. Vejam bem, dos 100 Municípios mais pobres do Brasil, 83 estão no Maranhão. Láno Senado, tem um projeto referente a empréstimo do Banco Mundial para educação, habitação, geração de renda dos 81 Municípios mais pobres do Maranhão. E o estadista do Amapá, sem ofender o Amapá, sentou em cima dele, o engavetou. O Governador tem peregrinado por conta disso, mas ouvi depoimento de Senadores dizendo o seguinte: nunca vi isso aqui no Congresso. Isso é inédito.
Esta, minha gente, é a situação do meu Estado. E seja qual for a retaliação não me submeterei a ela. E não aceito recados, até porque não tenho nada a esconder. Para os que acham que tenho algo de nebuloso tenho aqui certidão da Mesa Diretora da Câmara dando inocência e arquivando o processo.
Sr. Presidente, quero agradeço a generosidade de V.Exa. e dizer que vamos continuar a luta. É a primeira vez que faço um pronunciamento dessa ordem. Fui provocado por um jornalista que fez um artigo, e os supostos donos do Maranhão acham que são imunes. Isso é que dói neles. Lá no Maranhão, todos falam, mas não repercute. Eles têm medo é da repercussão nacional. Eles têm medo é de o povo brasileiro saber que a situação de pobreza, desesperança e miséria do nosso Estado foi criada por eles.
Muito obrigado, Sr. Presidente.”
( da redação com informações da taquigrafia da Câmara dos Deputados)