Os 10 anos do Real e o Nordeste.
Tucanos destacam os pontos positivos enquanto críticos lembram os equívocos No Nordeste, a marca foi a contradição e o abandono de uma política de desenvolvimento regional.
( Brasília-DF,1º/07/2004) O brasileiros lembram hoje os 10 anos de lançamento do Plano Real, iniciativa de muitos pais( Itamar Franco, FHC, Ciro Gomes, Pérsio Arida....) responsável por derrotar um dos problemas que mais atormentavam a economia do país: a superinflação. Em junho de 1994, um mês antes do Real, o aumento de preços atingiu 47%. Após o plano, a média mensal de inflação despencou para 0,8%.
O presidente Luís Inácio Lula da Silva, então pré-candidato a sua segunda eleição presidencial, disse em 1º de julho de 1994: "Esse plano me cheira a estelionato eleitoral. Funcionará a curto prazo e, depois, seja o que Deus quiser." Muitos observadores e historiadores reconhecem, passados os anos, que Lula errou e perdeu a eleição ao rebater o plano. Ontem,30, numa entrevista na Globonews o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu que só se elegeu pela força do Plano que foi aceito pela Sociedade como uma solução para suas vidas. Alguns observadores acreditam que o plano acabou e a moeda ficou.
O NORDESTE E O REAL – Ontem, o IBGE divulgou os números do IPCA( o índice oficial de inflação do Governo para medir suas ações fiscais, tanto à nível nacional como internacional) referentes ao períodos entre julho e dezembro de 1.994 aos dias de hoje, 2.004. O acumulado nacional foi de 167,21%, enquanto nas três principais cidades do Nordeste a média foi bem inferior.
Em Fortaleza, o acumulado foi de 153,75% - sendo a cidade mais barata do Real durante esses 10 anos, tanto à nível de Nordeste como à nível de Brasil. Durante os 10 anos do Real, a capital cearense não foi a mais barata só na média mas, também, em alguns anos, como se viu em 1.996 – tido como um ano de ouro para seus defensores. Foi a cidade mais barata da região Nordeste em 96/97/03.
A cidade de Salvador que é a capital do desemprego na região e no Brasil, atualmente, ficou com 165,41% de acumulado do IPCA, abaixo da média nacional.
Em Recife, a outra cidade nordestina observada pelo IBGE no IPCA , foi a mais cara nos anos do Real, chegando a 167,05%, mas mesmo assim abaixo da média nacional. Recife foi a mais cara por três anos – 96/99/00/02.
O Real gerou grandes contradições no Nordeste durante os chamados anos de ouro do Real, como a crise da dívida dos estados que tiveram que se adaptar ao rigor fiscal que fez com que suas dívidas passassem a ser reguladas pelo Tesouro Nacional e ganharam um valor real, gerando os chamados “esqueletos”. O Governo teve que criar uma Fundo Social de Emergência( que mudou de nome a cada ano) e a crise da dívida gerou uma crise política. À nível da vida comum, passou-se a ver automóveis caríssimos circulando em ruas esburacadas onde a lama e a poeira conseguiam deixar os bens com cara de primeiro mundo sem o mesmo brilho. Os cidadão podiam comer mais, equilibrar suas finanças mas o Estado não podia investir em quase nada.
O Governo Federal praticamente destruiu os principais órgãos regionais voltados para o desenvolvimento regional. O Nordeste tinha fama de ser a região mais irresponsável, fiscalmente – virou piada o fato de que o banco das pequenas prefeituras era o bolso do alcaide. O DNOCS chegou a ser extinto e depois, reativado, perdeu funções, como a transposição de águas -, a Sudene caminhou para a extinção, a Codevasf concentrou renda com projetos que não respeitavam a necessária preocupação ambiental e o Banco do Nordeste deixou de emprestar face a uma crise fiscal, de controle, e que logo em seguida foi engessado pelo superavit fiscal do segundo mandato de FHC.
Os nordestinos como todos os brasileiros têm o que comemorar e o que lamentar. O momento é outro.
( por Genésio Araújo Junior, coordenador-editor)