31 de julho de 2025

Nordestinos e Contag.

Líderes cearense e baiano destacam passado, pedem paciência e lembram que terra não é tudo

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(Brasília-DF,27/11/2003)  O deputado João Alfredo(PT-CE), também um dos signatários da homenagem, fez um discurso hoje no final da manhã no Plenário em que disse aos trabalhadores rurais da importância do movimento  para sua formação como cidadão e homem público. Ele rememorou sua formação que o levou, posteriormente, a ser um diligente e conhecido advogado de causas dos trabalhadores do setor no seu Estado, o Ceará. Por outro lado, João Alfredo, pediu paciência quanto a efetiva chegada da reforma agrária.

 

 

“Sabemos que esse é um governo de composição, com setores contrários à reforma agrária. Houve até um Ministro que, na época das ocupações, disse que achava justo os fazendeiros se armarem contra os trabalhadores. No Congresso Nacional há uma bancada ruralista muito forte e há constrangimentos internacionais que dificultam a aplicação do Plano de Reforma Agrária, mas confiamos no Presidente Lula e, principalmente, na mobilização da classe trabalhadora que chegou ao final desses 40 anos com muita disposição, conquistando muitas vitórias.” Disse.

 

 

 

 

O deputado Daniel Almeida(PC do B-BA), que aparteou o deputado cearense, lembrou personalidades marcantes do movimento dos trabalhadores que “ tombaram no meio do caminho”, inclusive o líder baiano Eugênio Lira.  Ele destacou que o PC do B continuaria com os trabalhadores rurais, e que a luta agora seria voltada para um novo momento, que vai além de dar terra.  “ Em toda a trajetória da luta dos trabalhadores do campo, o nosso partido esteve presente e agora acredita que teremos melhores perspectivas de efetivamente realizar uma reforma agrária que não só distribua terra, mas dê às pessoas a possibilidade de uma vida digna produzindo alimentos com tecnologia, com crédito, com apoio à comercialização e com uma assistência social que permita a inclusão de milhões de brasileiros.”, disse.

 

 

Veja a íntegra do discurso do parlamentar cearense com o aparte do deputado baiano

 

 

INTEGRA  -    “ Sr. Presidente desta sessão, companheiro de partido, Deputado Fernando Ferro; Presidente da CONTAG, companheiro Manoel de Serra, em nome de quem saúdo todos os trabalhadores rurais; companheira Raimunda Damasceno, conterrânea do Ceará, em nome de quem saúdo todas as companheiras trabalhadoras rurais, Parlamentares presentes, primeiro digo da alegria de podermos homenagear hoje os 40 anos da CONTAG.

 

 

E, ao traçar esse breve relato, particularmente devo muito, em todos os aspectos, ao movimento sindical dos trabalhadores rurais. Fui estudante de Direito, na época da reabertura da luta pela anistia, no final da luta contra a ditadura, e realizei muitos debates, companheiro Manoel de Serra, quando Presidente do Centro Acadêmico Clóvis Bevilácqua, sobre as questões da reforma agrária e do estatuto da terra. Àquela época, não sei se o José Francisco se lembra, realizamos alguns seminários no anfiteatro da velha Faculdade de Direito, que está completando quase 100 anos. Sua presença e a de Dom Fragoso foram fundamentais para que alguns estudantes de lá saíssem para serem advogados, como eu, de sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Estado do Ceará.

 

 

Aproveito para homenagear o companheiro Antonio Bandeira, Presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Ceará, em nome de quem saúdo os sindicalistas rurais do meu Estado presentes a esta sessão. Foi com Bandeira e com João Freire que aprendi, ainda como estudante, um pouco sobre a luta dos trabalhadores e trabalhadoras no Município de Pentecoste, de onde saípara advogar no campo, que foi minha segunda grande escola, a primeira foi a Faculdade de Direito. Mas minha grande escola foi quando passei a advogar para sindicatos na região da Ibiapaba, em Tianguá, Viçosa, Ubajara, Ibiapina, São Benedito, Carnaubal e na região de Crateús, mais especificamente no sindicato de Ipueiras. Foram quatro anos de grande aprendizado junto aos trabalhadores, partilhando meus conhecimentos de Direito Agrário em debates, inclusive decomo funcionavam as audiências e aprendendo muito dos companheiros sindicalistas e dos trabalhadores rurais sobre agricultura, sobre a luta no campo e sobre a questão da reforma agrária numa região em que conseguimos, àquela época, a desapropriação de várias terras tanto naquela região como no sertão do Estado do Ceará.

 

 

Portanto, sou agradecido por ser um dos autores do requerimento que motivou esta sessão solene. Este também é um momento de agradecer por todos esses ensinamentos.

 

 

Nesses anos em que acompanhei como estudante, advogado e agora como Parlamentar, antes com 3 mandatos de Deputado Estadual, sempre nessa relação com o movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, vi esse movimento crescer, Manoel.

 

 

Antes desse movimento ser muito voltado para a questão da reforma agrária ou dos assalariados rurais, que é uma questão atual importante, esse movimento cresceu para questões ligadas ao meio ambiente, para incorporar a questão de gênero. E assistimos aqui em Brasília, neste ano, a uma das mais importantes manifestações populares, a Marcha das Margaridas, sob a coordenação da companheira de luta Raimundinha Damasceno. (Palmas.)

 

 

Sabemos que o movimento sindical assumiu a ponta de lança também na questão da campanha política do ano passado. Foi fundamental, principalmente no interior, nos rincões mais afastados deste País, a participação dos sindicalistas rurais para garantir não só a eleição do companheiro Lula para a Presidência da República, mas de muitos de nós, que estamos aqui e sentamos nessas cadeiras que vocês, com justiça, sentam-se neste momento. Portanto, a participação de vocês para que estivéssemos aqui defendendo esses interesses foi muito importante. (Palmas.)

 

 

Creio que hoje ainda vivemos um importante momento nesta celebração. Não só por esse festejo, mas porque recentemente o Lula, companheiro Presidente da República, anunciou um Plano Nacional de Reforma Agrária, depois de uma grande marcha realizada pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária, que unificou a CONTAG, o MST, a CPT e diversos outros movimentos sociais do campo, mostrando que a luta pela reforma agrária não tem dono neste País. Essa luta é de todo o povo brasileiro. E o movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais teve e terá uma importância crucial.

 

 

Concedo um aparte, com muito prazer, ao nobre Deputado Daniel Almeida, do PcdoB,da Bahia.

 

O Sr. Daniel Almeida Deputado João Alfredo, é um prazer poder aparteá-lo e saudar os autores deste requerimento, a CONTAG, o Manoel dos Santos e todos os que estão aqui participando deste grande acontecimento.

 

 

São 40 anos de luta na organização dos trabalhadores da pequena agricultura familiar.

 

 

Homenagear a CONTAG é homenagear essa luta de tantas batalhas e mártires, como Chico Mendes, João Canuto, Eugênio Lira, da Bahia, e tantos outros que sustentaram a bandeira da reforma agrária. Essa luta se fortalece neste momento em que o Brasil pode debater democraticamente o fortalecimento dos trabalhadores e da agricultura familiar. Sr. Presidente, o PC do B se sente muito satisfeito com tudo isso, pois esteve, desde o primeiro momento, envolvido nessa luta. Em toda a trajetória da luta dos trabalhadores do campo, o nosso partido esteve presente e agora acredita que teremos melhores perspectivas de efetivamente realizar uma reforma agrária que não só distribua terra, mas dê às pessoas a possibilidade de uma vida digna produzindo alimentos com tecnologia, com crédito, com apoio à comercialização e com uma assistência social que permita a inclusão de milhões de brasileiros. Obrigado, Sr. Presidente, Sr. Deputado João Alfredo pela oportunidade. (Palmas.)

 

 

O SR. JOÃO ALFREDO Agradeço a V.Exa. o aparte, que incorporo ao meu pronunciamento.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, companheiras e companheiros, se a CONTAG chegou até aqui com essa disposição de luta, se tivemos recentemente a divulgação do Plano Nacional de Reforma Agrária, isso não significa que a luta acabou.

 

 

Sabemos que esse é um governo de composição, com setores contrários à reforma agrária. Houve até um Ministro que, na época das ocupações, disse que achava justo os fazendeiros se armarem contra os trabalhadores. No Congresso Nacional há uma bancada ruralista muito forte e há constrangimentos internacionais que dificultam a aplicação do Plano de Reforma Agrária, mas confiamos no Presidente Lula e, principalmente, na mobilização da classe trabalhadora que chegou ao final desses 40 anos com muita disposição, conquistando muitas vitórias.

 

 

É verdade que houve muitos mártires, como foi dito pelo nosso companheiro Daniel. Mas, quero também lembrar de Margarida Alves, a quem devemos homenagear neste momento.

Essa capacidade e essa garra de luta haverão de construir uma sociedade mais justa no País. Não teremos democracia sem justica no campo, sem reforma agrária.

 

Portanto, companheiros e companheiras, registro meus parabéns à CONTAG. Viva a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura!

Muito obrigado. (Palmas.) “

 

 

( Redação com taquigrafia da Câmara Federal)