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  • Contato Brasil, 28 de março de 2024 22:32:17
Nordeste em Manchete
  • 15/11/2019 13h04

    ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: “Infelizmente o atual presidente do Brasil está profundamente desinformado sobre a realidade chinesa”, afirma Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB

    Para a também vice-governadora de Pernambuco, se Bolsonaro lesse a obra do atual presidente chinês, Xí Jìnpíng, saberia que “o socialismo com características chinesas é uma causa de todo o povo chinês e o trabalho do Partido Comunista”
    Foto: Montagem da Política Real de foto de Hélia Sheppa

    Luciana Santos em evento no Palácio das Princesas , em Recife

     

    (Brasília-DF, 15/11/2019) A presidente nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, afirmou com exclusividade para a reportagem da Política Real que “infelizmente o atual presidente do Brasil” Jair Bolsonaro (PSL) “está profundamente desinformado sobre a realidade chinesa”. A afirmação aconteceu entrevista que ela concedeu por escrito por meio de sua assessoria de imprensa.

    Na entrevista em que responde as perguntas da reportagem da Política Real, Luciana Santos destaca que se Bolsonaro lesse a obra do atual presidente chinês, Xí Jìnpíng, saberia que “o socialismo com características chinesas é uma causa de todo o povo chinês e o trabalho do Partido Comunista”.

    Nestes últimos dois dias, 13 e 14 de novembro, aconteceram em Brasília a 11ª cúpula do bloco de países formados por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), onde compareceram para anunciar acordos, firmar parcerias e deliberar resoluções do organismo internacional os chefes de Estado e de governos das maiores nações que apresentam economias em desenvolvimento.

    Na entrevista, a dirigente do Partido Comunista do Brasil fala ainda sobre a importância do aniversário de 70 anos da Revolução Comunista ocorrida na China em 1.949. Para Xí Jìnpíng, as sete décadas que levaram o país asiático da pobreza ao apogeu tecnológico são consequências diretas do pensamento marxista que norteia o desenvolvimento daquele país.

    Diferenças do comunismo chinês para o da URSS

    Luciana Santos aborda, ainda, as diferenças entre o comunismo praticado na China depois dos 70 da Revolução de 1.949 que implantou regime comunista para o comunismo soviético que ao também completar 70, em 1.987, ao contrário dos chineses, viram seu regime implementado a partir da Revolução Russa de 1.917 naufragar com a política denominada “perestroika” que tinha como objetivo modernizar o Estado da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

    A vice-governadora pernambucana comentou também sobre a recente viagem que o presidente brasileiro fez a China como sinal de mostrar aos dirigentes daquele país que a conduta do governo brasileiro no plano internacional não está restrita apenas a um alinhamento automático com os Estados Unidos da América (EUA) do presidente Donald Trump que começou a enfrentar na última semana um processo de impeachment pelo Congresso norte-americano.

     

    Íntegra da entrevista

    Abaixo segue a íntegra da entrevista que Luciana Santos concedeu com exclusividade para a reportagem da Política Real.

     

    Política Real: Qual a importância dos 70 anos da revolução comunista na China?

    Luciana Santos: A história da China é milenar. A civilização chinesa é a de mais longa duração, cerca de 3 mil e 500 anos. A sua continuidade foi assegurada pela existência do idioma e pela preservação da escrita, além da homogeneidade étnica Han, que perfaz 90% da população. Esta história de um grande país – com a maior população do planeta, hoje conta com 1 bilhão e 300 milhões de pessoas – já passou por várias fases e dinastias. Assim, os chineses viveram períodos de florescimento, quando foram capazes de importantes descobertas tecnológicas nas ciências naturais, na engenharia, medicina e na tecnologia militar, como as descobertas da bússola, da pólvora, do papel e da tipografia. Passaram também por épocas de isolamento diante de ameaças externas. A construção da Grande Muralha da China é um exemplo dessa fase. O fato é que durante o período de fechamento, o país ficou vulnerável aos apetites imperialistas de vários grandes países, como a Inglaterra, a França, a Holanda, Portugal e Japão. A China então perdeu sua soberania e teve de travar uma longa luta de libertação nacional. Com a criação do Partido Nacionalista e depois do Partido Comunista, em 1921, teve início a resistência que permitiu a vitória da República em 1911 e depois da República Popular em outubro de 1949. Agora o povo e o governo da China estão comemorando os 70 anos da proclamação da República Popular em um país que já é a primeira economia do mundo em termos de Produto Interno Bruto (PIB), se levarmos em conta a paridade do poder de compra, e uma potência econômica e militar reconhecida e respeitada mundialmente.

     

    Política Real: Qual a diferença entre o comunismo soviético, que naufragou ao completar 70 anos, do comunismo chinês que nesta data demonstra apresentar uma força econômica e o apogeu da tecnologia?

    Luciana Santos: Na prática não existiu o que se denomina de comunismo soviético. O que lá foi construído foi um período de transição do capitalismo e do feudalismo para o socialismo – que foi capaz de derrotar os exércitos de Hitler quando invadiram a Rússia e vários outros países da Europa. As tropas soviéticas foram os principais fatores que permitiram a vitória dos aliados contra a Alemanha nazista na Segunda Grande Guerra em 1945. Depois do final da Guerra Patriótica, assim chamada, os soviéticos passaram a reconstruir a Pátria e desenvolver um projeto de desenvolvimento, mas que por vários fatores externos e internos não conseguiram superar a Guerra Fria, desencadeada pelas potências ocidentais contra o Estado Soviético. Os comunistas chineses souberam aprender com os erros cometidos pelos soviéticos, e a partir de 1978 aplicaram uma política de desenvolvimento denominada ‘Reforma e Abertura’, que foi liderada pelo presidente Deng Xiao Ping. Nestes últimos 40 anos, de lá para os nossos dias, a China passou de um país de fraco desenvolvimento para uma verdadeira potência industrial e tecnológica que atualmente rivaliza com os Estados Unidos da América em todas as principais frentes de desenvolvimento econômico e social. Hoje sob a liderança do presidente Xí Jìnpíng, a China é protagonista de uma iniciativa geopolítica chamada ‘Um Cinturão, uma Rota’ que envolve mais de 100 países, construindo estradas e ferrovias de alta velocidade, redes multidimensionais de infraestrutura sustentada por corredores econômicos, ligados por rotas de transporte terrestre-aéreo-marítimo. Foram investidos mais de R$ 12 trilhões entre 2014 e 2016, gerado milhares de empregos em mais de 20 países. Estivemos recentemente na província de Sichuan com uma delegação de alto nível do governo de Pernambuco e testemunhamos esse progresso proporcionado por estes investimentos que estão baseados em cooperação mútua e não em exploração imperialista como assistimos no passado colonialista.

     

    Política Real: Em visita recente àquele país o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse que a China é um país capitalista. Qual o seu comentário sobre esta declaração?

    Luciana Santos: Infelizmente o atual presidente do Brasil está profundamente desinformado sobre a realidade chinesa. Esta semana foi lançada no Brasil, na cidade de São Paulo, os dois volumes da obra do presidente Xí Jìnpíng sob o título ‘Governança da China’ editada em português pela Editora Contraponto em cooperação com a Editora de Línguas Estrangeiras de Beijing. Neste livro o presidente do Brasil poderá ler o que afirma o presidente Xí Jìnpíng: ‘O socialismo com características chinesas é uma causa de todo o povo chinês e o trabalho do Partido Comunista sobre as organizações de massa representa uma missão neste sentido’. E mais adiante o líder chinês conceitua que ‘o sistema econômico básico em que a propriedade pública ocupa a posição dominante e as múltiplas formas de propriedade paralelas se desenvolvem em conjunto constitui uma política fundamental definida pelo Partido Comunista da China’. Ou seja, os dirigentes chineses trabalham na construção do que denominam uma economia socialista de mercado. O presidente brasileiro deve ter ficado impressionado com o desenvolvimento econômico em sua viagem recente à China e como ele desconhece essa realidade deve ter achado que a China seria um país capitalista. O livro de Xí Jìnpíng em sua página 74 deixa absolutamente claro que ‘o nosso partido é um partido marxista. O marxismo é a essência dos ideais e convicções de nós comunistas. Ao desenvolver o marxismo no século 21 e o marxismo na China atual, devemos basear-nos na realidade do país, ter uma visão global e atualizar nossa teoria para que ela acompanhe o avançar dos tempos’.

     

    Política Real: Matéria publicada na agência russa Sputinik Brasil informa que especialistas chineses entendem que a reunião de Bolsonaro na China serviu para desfazer a impressão inicial negativa de que o presidente brasileiro é adesista da política internacional do presidente dos EUA, Donald Trump. Qual a sua avaliação sobre isso?

    Luciana Santos: O que ocorreu com esta visita de Bolsonaro à China é a reação de poderosos interesses comerciais e industriais brasileiros em relação àquelas primeiras declarações do presidente brasileiro logo que tomou posse no Palácio do Planalto, há onze meses. Foram declarações desastrosas realmente pois ele atacou diretamente um dos maiores parceiros econômicos e comerciais do Brasil na atualidade. Ele, ao invés de saudar as boas relações do Brasil com a China, acusou os chineses de ‘quererem comprar o Brasil’. Os grandes exportadores brasileiros e outros setores econômicos que recebem e receberão importantes investimentos chineses em áreas vitais para o Brasil – como a esfera da infraestrutura, o setor automobilístico, de segurança, de ciência e tecnologia entre outros – se esforçaram para retomar as boas relações com as autoridades e os líderes empresariais da China. Portanto o que se vê na realidade é que não somente os governadores de vários estados brasileiros se empenham na retomada e incremento das relações comerciais diretas com a China – como é o caso concreto do governo de Paulo Câmara de Pernambuco – o próprio governo brasileiro foi obrigado a correr atrás para também assinar significativos acordos de cooperação com a nação chinesa.

    (por Humberto Azevedo, especial para Agência Política Real, com edição de Genésio Jr.)

     


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