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- Contato Brasil, 24 de novembro de 2024 08:00:19
(Recife-PE) Joaquim Francisco governou Pernambuco de 91 a 94. Convocado por ele, mas já morando em Brasília, terra da minha felicidade, em que Deus abençoou a chegada ao mundo do meu primogênito Felipe, coordenei a área de comunicação da campanha. Derrotamos Jarbas Vasconcelos na histórica disputa de 1990, um clássico. Empossado, com três meses de Governo, Joaquim viu o Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe), instituição com o carimbo do Leão do Norte, virar um castelo de areia num sopro de um dragão.
O dragão traduzido na irresponsabilidade de setores da economia que pegavam dinheiro no banco e não honravam seus compromissos. Passaram à história como velhacos, sócios da mortandade do banco. Antes de tomar posse, Joaquim já estava plenamente informado do estado terminal do banco. Recorreu ao então presidente Collor, a quem havia apoiado contra Lula em 89. Fazendo clemência, apelou para Collor promover a intervenção no apagar das luzes do mandato tampão de Carlos Wilson, que assumiu quando Arraes saiu para concorrer a um mandato na Câmara dos Deputados.
Amigo de Cali, como era tratado carinhosamente o saudoso Carlos Wilson, Collor enrolou Joaquim e jogou o abacaxi no colo do governador. O Banco Central estava nas mãos do economista carioca Francisco Gros, um dos principais integrantes da equipe econômica que elaborou e conduziu o programa de recuperação e abertura da economia brasileira iniciado em 1991. Conduziu também as negociações que levaram a acordos com o Clube de Paris em fevereiro de 1992 e com o FMI em junho do mesmo ano.
Implacável com instituições financeiras mal das pernas e o Bandepe era uma delas. Encontrou na intervenção a saída para o banco continuar respirando e foi encontrar no múltiplo gestor José Lindoso, que cumpria missão financeira na Paraíba, o perfil que desejava para tomar a decisão de morte mais que ferida do incipiente Governo Joaquim: o fechamento de 98 agências bancárias e a demissão de três mil funcionários. Joaquim recebeu Lindoso no seu gabinete, no Palácio do Campo das Princesas.
No dia anterior, Lindoso esteve com Gros em audiência no Banco Central e o advertiu quanto ao naufrágio do plano de salvação do banco dar com os “burros n’água” por uma filigrana política: o então governador de Pernambuco era aliado de Collor, havia apoiado sua candidatura, e poderia recorrer, politicamente, da decisão choramingando nos ombros do chefe da Nação. Gros entregou um envelope amarelo para Lindoso, não revelou o conteúdo do que estava lacrado, e disse apenas o seguinte: “Se ele (Joaquim) reagir, entregue este envelope a ele”.
Lindoso ficou curioso, mas ao mesmo tempo receoso em perguntar o que estava escrito dentro do envelope. Partiu para o Recife. Joaquim o recebeu com a esperança de que salvaria o banco, mas quase caiu da cadeira quando Lindoso disse que teria que demitir três mil bancários e fechar 98 agências. Politico de elevado espírito público, mesmo sabendo dos danos ao seu Governo e da imensa repercussão social da medida, Joaquim autorizou o duro e amargo remédio para o banco.
E não foi nem foi preciso Lindoso, na condição de um portador que não merece pancada, sem saber do conteúdo do envelope, entregá-lo a Joaquim. No dia seguinte, de volta ao Banco Central, Lindoso devolveu, intacto, o envelope amarelo a Francisco Gros, ainda sem saber do que se tratava. Disse apenas: “Presidente, estou devolvendo esse envelope. Não foi preciso entregar ao portador”.
Que envelope misterioso era esse, então? Na frente de Lindoso, Gros abriu o envelope e mostrou para ele o que continha. De próprio punho, o xerife do BC havia escrito: “Governador, se o senhor não acatar a solução que estamos dando para o Bandepe, não tem problema. Amanhã, o banco estará liquidado”.
Ainda bem que Joaquim agiu com espírito público e não foi para a rinha da política.
CRISE BRABA – A intervenção do Bandepe, herança de Collor, já que poderia ter tomado a decisão ainda no Governo Carlos Wilson, foi, sem dúvida, a maior crise do Governo Joaquim Francisco. Resultou num preço político amargo e dolorido. O impacto social da medida inflamou o ego dos bancários. Por onde Joaquim andava, mesmo em solenidades oficiais, havia sempre servidores demitidos do banco fazendo protestos. Foram dias de tensão e amargura para um Governo que se apresentava com a cara da mudança e prometia devolver aos pernambucanos a autoestima do deserto de investimentos no Governo Arraes, a quem Joaquim sucedeu.
EXPULSÃO DO GABINETE – Diante dos protestos dos prefeitos que ajudaram Joaquim a derrotar Jarbas, deputados passaram a pressionar o governador pelo não fechamento de algumas agências bancárias incluídas no pacote da insurreição do Bandepe. Sem paciência, assisti Joaquim expulsar do seu gabinete, aos gritos, deputados estaduais que foram lá apenas protestar quando nem sequer tinham conta no banco. “Quanto você tem aplicado no banco e quantas contas movimenta, deputado? O senhor não tem vergonha de vir aqui reclamar de uma medida saneadora? Afinal, quem não tem conta no banco também é socio da falência da instituição”, bradou Joaquim, dando o cartão vermelho para um deputado que chegou a suspeitar das suas boas intenções.
PAU NA FOLHA – A ombudsman do jornal Folha de S. Paulo, Flavia Lima, avalia que o apresentador de TV e possível candidato à Presidência, Luciano Huck, “mantém posição confortável na grande imprensa". Ela criticou o tratamento dispensado pela Folha e por outros veículos a Huck. A análise foi publicada na edição de ontem do jornal. Ombudsman é um profissional do próprio jornal escolhido para receber críticas e sugestões do público. Também faz reflexões sobre as ações da empresa. Flavia Lima ocupa esse cargo na Folha desde maio de 2019. Ela é repórter de economia. Formou-se em ciências sociais pela USP e em direito pelo Mackenzie.
INCONFORMISMO – O presidente nacional do DEM, ACM Neto, chamou de “lamentável” a decisão do deputado João Roma (Republicanos-BA), seu aliado e ex-chefe de gabinete quando prefeito em Salvador, de aceitar convite do governo Bolsonaro para assumir o Ministério da Cidadania. ACM mostrou-se surpreso com o anúncio. “A decisão me surpreende porque desconsidera a relação política e a amizade pessoal que construímos ao longo de toda a vida”, afirmou o chefe do DEM.
PERDEU O AMIGO? – O novo ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos-BA), disse ao Poder360, site do jornalista Fernando Rodrigues, ex-Folha de São Paulo, que está tendo desgastes “pessoais e políticos” com sua ida para a pasta. Nomeado na última sexta-feira, Roma era próximo ao presidente do DEM, ACM Neto. “Ele não está nada satisfeito comigo”, declarou o novo ministro. João Roma tornou-se ministro por um arranjo político do Palácio do Planalto depois da eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara. O partido de Roma, o Republicanos, apoiou o então candidato. Lira também era é o preferido do Palácio do Planalto.
CURTAS
MÃE VACINADA – A mãe do presidente Jair Bolsonaro, Olinda Bunturi Bolsonaro, de 93 anos, tomou a primeira dose da vacina contra a covid-19 sexta-feira passada, em sua casa, em Eldorado (SP), justamente no último dia destinado pelo município para sua faixa etária tomar a primeira dose contra a covid-19. O município recebeu doses da CoronaVac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e da farmacêutica AstraZeneca, feita em colaboração com a Universidade de Oxford.
PERNAMBUCANO – Novo ministro da Cidadania, João Roma é pernambucano do Recife, neto do João Ramo, tabelião famoso no Estado. É uma espécie de cria de Marco Maciel, egresso do PFL, partido que chegou a presidir a Frente Jovem ao lado da hoje deputada Priscila Krause. Sua carreira politica se consolidou em território baiano depois de amizade selada com o então prefeito de Salvador, ACM Neto, de quem foi chefe de gabinete e em seguida apoiado para disputar um mandato na Câmara dos Deputados.
Perguntar não ofende: João Roma vai olhar Pernambuco também com a mesma distinção da Bahia?