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- Contato Brasil, 25 de novembro de 2024 09:29:49
(Recife-Pe) Vice-presidente da Executiva Nacional do PT, o deputado cearense José Guimarães e o secretário-geral Paulo Teixeira queimaram saliva por mais de dez horas, na última sexta-feira, no Recife, com dirigentes da legenda em Pernambuco e a pré-candidata do partido à sucessão do prefeito Geraldo Júlio, Marília Arraes, mas pegaram o voo de volta sem avançar um palmo sequer no plano da candidatura própria, objeto de resolução do diretório nacional para ser cumprida em todas as capitais.
O pivô da resistência é o senador Humberto Costa, que faz o jogo do PSB, do governador Paulo Câmara e do prefeito Geraldo Júlio, tudo em nome da manutenção dos 400 cargos que seu grupo mantém, de forma hegemônica, em todas as esferas do poder socialista. Ele já chegou nervoso ao encontro e a cada manifestação favorável de Guimarães e Teixeira em nome da resolução a ser cumprida também no Recife dava pitis que mais pareciam estado de grave descontrole emocional.
Os berros, insultos e ameaças de Humberto, entretanto, não impedirão de o PT bancar a candidatura de Marília, porque Recife não é uma ilha para ficar de fora do descumprimento da resolução nacional pela candidatura própria nas capitais e em todos os municípios com eleitorado acima de 200 mil, portanto de perfil para eleição em dois turnos. Não é da tradição e da cultura petista intervir, mas no caso do Recife, que não terá consenso, a direção do PT terá que fugir à regra.
O fato é que, depois das longas reuniões de sexta-feira passada, o PT vai colocar a tese da candidatura própria em votação na executiva municipal do Recife, onde Marília não tem maioria e deve levar uma grande desvantagem, perdendo o jogo no voto. Diante disso, só restará ao comando nacional petista a intervenção, passando por cima da instância municipal para bancar a candidatura da deputada, a segunda mais votada da bancada federal nas eleições passadas. Se não intervier, o que está fora de cogitação, Marília será, mais uma vez, fritada num caldeirão ardente.
Decisão é nacional – Fontes do núcleo duro do PT em São Paulo garantem que Marília será candidata e todo o processo passa por uma estratégia da executiva nacional delegada à presidente Gleisi Hoffman pelo ex-presidente Lula, que já deu declarações mais enfáticas num primeiro momento, mas depois teve que amenizar o tom, para não afrontar Humberto Costa. Historicamente, Lula não tem uma relação de confiança extrema com Humberto. É aquela velha amizade sustentada na versão um olho no padre e outro na missa. O senador já foi mais confiável e Lula quer agora uma renovação no comando estadual do PT apostando em Marília.
O jogo de Humberto – O comando do PT não deseja, no entanto, dar aparência de intervenção no Recife, mas passar a ideia de que a candidatura de Marília é parte de uma estratégia nacional. Macaco velho criado nas hostes petistas, Humberto já percebeu claramente e por isso está endurecendo o jogo para que a candidatura no Recife seja compreendida pela opinião pública como uma imposição de Lula e seus comandados. Humberto já conseguiu, no primeiro momento, o que desejava: tensionar o processo da candidatura de Marília, para tentar, no grito, amortecer o discurso dos aliados da deputada no plano nacional.
O fator tempo – Qual o tempo que o PT vai levar para construção da candidatura de Marília? O blog apurou que a direção nacional quer resolver até o final deste mês, porque se esticar o prazo pode ser pior. Impaciente, porque já está perdendo tempo em relação ao seu principal adversário, o deputado João Campos, pré-candidato do PSB, Marília terá que saber lidar com isso. Para um marqueteiro testado em embates eleitorais bem sucedidos, essa decisão não pode demorar, mas também não deve ser muito rápida. “A demora afasta Marília do PT e de Humberto e dá a ela mais autonomia e independência”, avalia esse mesmo publicitário.
O abacaxi Petrolina – O grito de independência e rebeldia dado pelo pré-candidato do PSB a prefeito de Petrolina, Lucas Ramos, jogou no colo do governador Paulo Câmara mais um problema: além do Recife, Petrolina se apresenta agora como segundo abacaxi a ser descascado. E se o abacaxi azedar, o troco de Lucas ao PSB não será dado em Petrolina, onde esperava contar com o apoio do partido para entrar na disputa pela Prefeitura, mas no Recife. Na prática, o deputado pode romper com o Governo e passar a apoiar um candidato a prefeito de oposição a João Campos.
CURTAS
DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS – Lucas reclama que o PSB pratica o velho discurso dos dois pesos, duas medidas. Enquanto justifica que o momento não é de definição de candidaturas, no Recife já colocou, há muito tempo, a campanha de João Campos nas ruas. “Eu sou o único nome que o PSB tem em Petrolina e não tenho nenhuma sinalização do partido. O governador já poderia ter colocado o meu nome de forma clara e agir do mesmo jeito que age com João no Recife”, reclama o deputado, que é filho do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Ranilson Ramos, cobra criada no quintal de Arraes.
DECISÃO PESSOAL – Presidente estadual do PSD, o deputado André de Paula sabe que vai criar um problema com o PSB e com o Governo com o anúncio formal do apoio seu e do partido, hoje, à reeleição do prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira (PL). Ele diz que não esperou pela definição do candidato aliado ao Governo do Estado em Jaboatão, porque sua decisão tem caráter pessoal, que foge as implicâncias com o poder e o PSB. “Estou fazendo a melhor opção por Jaboatão”, alega. Na eleição passada, o PSD apoiou Neco no segundo turno contra Anderson. A política, realmente, muda como uma nuvem.
RECIFE COM JOÃO – Mesmo sabendo que o Palácio e o PSB querem esmagar os Ferreira, queimando a etapa da reeleição de Anderson em Jaboatão, André de Paula prefere não associar sua decisão no segundo colégio eleitoral do Estado a uma afronta ao Palácio nem também ao caminho semelhante, ao da oposição, que poderá ter no Recife. “Jaboatão está desatrelada da decisão que iremos tomar no Recife”, argumenta. O que até as paredes das Princesas e do Palácio do Capibaribe sabem é que André já fechou com o pré-candidato do PSB no Recife, João Campos.
Perguntar não ofende: Quais os políticos a quem o doleiro pernambucano de 46 apartamentos em Miami, preso na semana passada, está atrelado?