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Magno Martins
  • 17/02/2020 09h29

    Os bastidores da escolha de Câmara

    Na verdade, Eduardo era muito sagaz e sabia que Geraldo atuava na tentativa de “fazer” ele próprio o candidato

    Eduardo Campos e Paulo Câmara( foto: arquivo do colunista)

    (Recife-PE) Ao longo das inúmeras entrevistas que fiz para a série “O míssil chamado Tonca”, levantei também informações, já do meu conhecimento, sobre os bastidores da escolha do candidato a governador escolhido por Eduardo Campos, em 2014. Paulo Câmara, reeleito em 2018, nunca esteve na linha de raciocínio do ex-governador, morto em acidente aéreo em agosto de 2014

    Para Eduardo escolher um nome que parecesse competitivo, capaz de atrapalhar os planos de a oposição chegar ao poder com o então senador Armando Monteiro Neto (PTB), favorito nas pesquisas, ocorreu uma série de desencontros envolvendo dois personagens – a poderosa viúva Renata Campos e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, sob os olhares atentos do ex-governador, já com a campanha presidencial dele nas ruas.

    Notícias colhidas à época e reconfirmadas agora apontam que Renata, juntamente com a filha Maria Eduarda, defendiam com unhas e dentes o nome de Tadeu Alencar para governador. Relevante salientar que Tadeu vem a ser sogro da única filha de Eduardo. Ele chegou, inclusive, a ser escolhido e anunciado internamente na família por Eduardo, em dezembro de 2013, mas conspirações palacianas, tendo Geraldo Júlio como principal articulador, derrubaram Tadeu.

    Na verdade, Eduardo era muito sagaz e sabia que Geraldo atuava na tentativa de “fazer” ele próprio o candidato. Geraldo agiu pelas costas de Eduardo e de Renata, sempre com o cuidado extremo de não provocar a ira deles. Os relatos dão conta que Eduardo ficou abalado com a destruição do nome de Tadeu, junto com outras manobras muito pesadas praticadas por Geraldo. A morte da candidatura de Tadeu foi, exatamente, no dia do nascimento de Miguel, ponta de rama de Eduardo, no Hospital Santa Joana.

    Vendo que Eduardo descobriu a jogada e não aceitava que abandonasse a Prefeitura, então Geraldo partiu com tudo para ter um nome escolhido que fizesse uma aliança carnal tendo ele, Geraldo, como parceiro dominante. Considerando que já estava fora do jogo, ele propôs a Eduardo para ele, Geraldo, ficar coordenando os nomes alternativos com levantamento, através de pesquisas para sondar qual o melhor perfil. Eduardo, sabidamente, concordou, mas ficou cabreiro.

    CARTAS DA MESA - Vendo que havia perdido na primeira rodada, com a morte da candidatura de Tadeu, Renata passou a apostar todas as cartas no nome do seu primo-irmão Maurício Rands, que também recebeu a acolhida de Eduardo. Esse nome era tão ruim para Geraldo quanto Tadeu. Isso porque ambos são da família de Renata, gozavam da profunda admiração de Eduardo, além de serem considerados “ninjas” intelectuais e articuladores políticos. Assim, Geraldo Júlio jogou tudo e muito mais do que podia para destruir o nome de Maurício, internamente, sem aparecer, através do PSB.

    SURGIMENTO DE CÂMARA - Dessa forma, dentre todas as alternativas, a que se mostrou melhor, até por eliminação, foi a de Paulo Câmara, também seu colega de trabalho no Tribunal de Contas e sempre considerado por Geraldo como uma pessoa insegura e fraca, ideal para selarem um pacto de sempre atuarem juntos, sob o controle e o domínio efetivos de Geraldo. Com medo, porque achava que não ia dar conta do recado, Paulo, fiel à sua profunda insegurança e indecisão, chegou a recusar a candidatura, mas, sob forte pressão de Geraldo, terminou sendo praticamente forçado a aceitar, no mais completo contragosto.

    O PARENTESCO - De maneira bem pragmática, Geraldo focou também num parente de Eduardo, pois Paulo é casado com uma prima de Eduardo. Até o último momento, Eduardo ainda queria Maurício, mas não conseguiu conter o levante secretamente montado por Geraldo no próprio partido. Assim, Eduardo terminou por aceitar Paulo Câmara, apesar de não acreditar na sua viabilidade. Ele não via em Paulo nenhuma condição de ser governador, por ter uma personalidade extremamente precária, faltando-lhe o mínimo de fibra para liderar. Ressalte-se que Eduardo gostava muito de Paulo, sim, mas exatamente por ser uma pessoa tímida, arredia, com a máxima qualidade da obediência cega.

    O DESABAFO – Mais adiante, um pouco antes da sua morte, Eduardo desabafou a diversas pessoas que andava angustiado, pois ia perder a eleição com Paulo Câmara. O candidato, segundo ele, não sabia nem olhar para as pessoas, cumprimentava com a mão mole, desligado, não criava conexões humanas nem vibrava com nada. Eduardo lamentava que houvesse feito a escolha errada e disse, mais de uma vez que, em retrospecto, o melhor nome histórico do partido teria sido o de Danilo Cabral, mas o mesmo havia sido completamente detonado por Geraldo Júlio junto a Eduardo, sob a acusação de ser uma pessoa individualista, desleal e inconfiável.

    GERALDO, O DESTRUIDOR - Vem daí, portanto, a aliança carnal entre Paulo e Geraldo, pois foi o prefeito e mais ninguém que realmente “bancou” o nome de Paulo. Além de Tadeu, Maurício e Danilo, outros nomes foram cogitados por Eduardo, como Fernando Bezerra Coelho e João Lyra, mas Geraldo destruiu todos como cinzas atiradas ao ar. Geraldo não queria em nenhuma hipótese um concorrente para tomar o seu espaço de ser o número um de Eduardo.

    PROMESA A LYRA - De fato, Eduardo chegou a dizer a Fernando Lyra, em pleno leito hospitalar no Instituto do Coração da USP, em São Paulo, na frente de testemunhas, que o candidato a governador pelo PSB seria o então vice-governador João Lyra Neto. Isso chegou logo a Geraldo, que entrou no mais completo pânico, partindo para destruir o rival com manobras cirúrgicas, afastando crescentemente Eduardo de João Lyra. Estamos falando ainda do início de 2013, portanto um ano antes da decisão formal.

     

     


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