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  • Contato Brasil, 22 de novembro de 2024 09:30:04
Jorge Henrique Cartaxo
  • 19/08/2020 23h40

    Sem cidadania

    Como pode tudo isto estar acontecendo? Como nossa “democracia”, arduamente (sic) reconquistada chegou a esse nível?

    Delacroix - A liberdade guiando o povo( Foto: imagem do colunista)

    São diversas as gravidades que se assenhoram do País. A militarização do Estado, o desmonte do nosso frágil e decadente sistema educacional, a desintegração do que ainda resta da saúde pública, a implosão da nossa parca estrutura cultural, as agressões – ainda crescentes – ao meio ambiente e o aparelhamento ideológico do sistema policial e de segurança pública.

    Esses movimentos do governo Bolsonaro se expandem sem freios ou controles. Nossos endinheirados pouco se importam com tudo isso desde que nada atinja os seus interesses imediatos. Pressionados pelas grandes economias europeias e asiáticas, parte dos nossos capitalistas, sobretudo do sistema financeiros, decidiu mobilizar-se em defesa do meio ambiente. Mas, nada ainda,  expressivo. O resto não interessa exatamente!

    É flagrante, ainda que não surpreendente, o silêncio do Congresso, os passos e descompassos do Poder Judiciário e a mudez das antigas representações da sociedade civil: OAB, CNBB, IAB, ABI, sindicatos e os chamados conselhos de classe. A nossa academia, de fato, sobre severo ataque,  mantêm-se calada, como calada ficou durante todo os desmandos da chamada “Era PT’. Alguns temas relevantes são destacados pela mídia, mesmo preservando-se  – não raro com flagrantes distorções – a macroeconomia liberal do ministro Paulo Guedes. A saber: por que o silêncio sobre os 47% do orçamento drenados para  os bancos, sem nenhuma explicação ou justificativa compreensível?  

    Como pode tudo isto estar acontecendo? Como nossa “democracia”, arduamente (sic) reconquistada chegou a esse nível? São perguntas que, direta ou indiretamente, se pronunciam na grande mídia e nos raros diálogos civilizados que teimam em vicejar na República. Assim como não parece claro o chamado “fenômeno Bolsonaro”, suas origens, constituição e apoios,  também não compreendemos, na sua devida magnitude as ações – devidamente respaldadas e financiadas – dos chamados grupos “neofascistas” que se organizam e agem nos quatro cantos da República. A última cena se deu em torno da sequência bárbara na vida da menina de dez anos, gravida e estuprada  pelo tio criminoso. Bolsonaristas mobilizaram-se para tentar impedir o cumprimento de uma ordem judicial que determinava a interrupção daquela gravidez, ameaçando médicos e hospitais.

    O cenário fica mais denso quando constatamos – de acordo com recente pesquisa do Instituto Datafolha – que a maioria da população brasileira, em quase todas as classes e estratos sociais, apoia o governo Bolsonaro e estaria disposta a reelege-lo em 2022. A busca de compreensão e as interpretações foram muitas, mas nenhuma parece ter convencido da forma devida o distinto público. De tudo que li, me chamou a atenção o não reconhecimento, por parte dos nossos analistas mais evidentes, ao fato de que não temos instituições funcionais e que nunca tivemos, e nada sugere que vamos ter, algo que entendemos por cidadania.  

    O chamado mundo moderno, esse que brotou das Revoluções Francesa e Americana, teve dois pilares indissolúveis: as instituições constituidoras do Estado e a cidadania que ordena e pune, mas liberta e oferece identidade a todos os homens diante dos seus pares. 

                                                                


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