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Jorge Henrique Cartaxo
  • 14/05/2020 19h46

    O mito militar

    Jair Bolsonaro não teria capacidade, sequer, para inventar esse mal, mas é um herdeiro ousado desse perfil tenebroso de atores presentes na nossa História

    Miltares( Foto: Arquivo do colunista)

    “Não há ,  não há distúrbio nesta terra, / De que mão militar não seja autora”. O verso da Nona Carta de Critilo- Tomás Antônio Gonzaga - ao seu amigo Doroteu – Claudio Manoel da Costa -, nas famosas Cartas Chilenas, escritas no século XVIII, já traduzia um pouco da vida política nas terras brasileiras. 

    Jair Bolsonaro não teria capacidade, sequer, para inventar esse mal, mas é um herdeiro ousado desse perfil tenebroso de atores presentes na nossa História. Sua inadvertida vitória nas últimas eleições sugeria, no primeiro momento, uma reação majoritária dos brasileiros contra o PT e seus desmandos, revelados pela operação Lava Jato. Sempre atabalhoado e agressivo, Bolsonaro montou seu primeiro ministério, inclusive com a presença do ex-ministro Sérgio Moro, sob a bandeira da ética e de nomes respeitados nas Forças Armadas, com destaque para os generais Santos Cruz e  Augusto Heleno.                                                

    Sob o aplauso a uma nunca explicada “Nova Política”, à sombra da ética trazida por Sérgio Moro e da “modernização do Estado” trombeteada por Paulo Guedes, Jair Bolsonaro viu o primeiro clarão da realidade nas escadarias do seu Palácio quando Queiroz – lembram dele? – foi apanhado como o grande gestor das “rachadinhas” nos gabinetes dos filhos parlamentares de Bolsonaro e do próprio presidente quando deputado federal. Em pouco tempo teve inicio a dança das cadeiras no novo gabinete presidencial e em cargos importantes do segundo escalão do governo. Pelo menos onze generais já foram demitidos e quadros civis relevantes como Gustavo Bebiano – já falecido - e Sérgio Moro, tiveram suas cabeças cortadas.

    Apesar das vociferações presidenciais, cabe observar o que se passa no silente meio militar. Na reforma da Previdência, os militares tiveram privilégios ampliados e os salários aumentados. Quando Paulo Guedes exigiu do Congresso o congelamento dos salários dos servidores públicos, excluiu os militares. No mesmo momento o ministro da Defesa, general Azevedo e Silva, criou uma comissão permanente para analisar e ajustar as remunerações militares. Há poucos dias, o ministério da Defesa obteve, da Advocacia Geral da União, parecer favorável permitindo que militares da ativa ou da reserva que tenham cargo no setor público possam receber salários acima do tento constitucional. E tem mais: centenas de militares receberam, indevidamente, o auxílio emergencial criado para o combate ao coronavírus.

    Como uma espécie de “sanitaristas de gabinete”, Heleno, Braga Netto e Eduardo Ramos – com o apoio de Mourão, Pujol e Azevedo – todos generais, douram a pílula dos desmandos e delírios do presidente Bolsonaro e seus seguidores que bradam contra a democracia e suas instituições. Não vai dar certo!

                                                              


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