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Jorge Henrique Cartaxo
  • 09/04/2020 15h51

    Do cínico e do cinismo

    Na Europa, nos Estados Unidos – apesar do Trump - e na Ásia há a clara compreensão de que a pandemia tem que observar um entendimento internacional no seu combate e ser conduzida como um assunto de estado, e não de governo

    Diogenes em seu barril com seus cães - Jean-Léon Gerôme / 1860( foto: arquivo do colunista)

    “Um homem que sabe o preço de tudo e o valor de nada”. A frase de Oscar Wild ao definir um cínico – in O Leque da Sra. Windermere –  aplica-se bem ao presidente Jair Bolsonaro e seu séquito. Se não temos, no Brasil de hoje, a elegância do mundo vitoriano de Wild, no país transbordam a desfaçatez e a desídia diante dos desafios que acometem a todos nós nessa crise sem precedentes.

    Na noite da última terça-feira, horas depois de vencer o delírio do presidente da República, em uma de suas regulares convulsões de indigência ética e moral, o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, assinou contrato com um fabricante nacional de equipamentos hospitalares. A ideia é produzir 6 500 respiradores até agosto. É insuficiente, mas melhor do que nada. Se lembrarmos que o primeiro caso de coronavírus, entre nós, foi registrado no dia 26 de fevereiro próximo passado, portanto há 40 dias, perdemos um tempo precioso. Ainda na esteira das boas noticias, um grupo de líderes mundiais – um total de 165 personalidades, dentre eles 92 ex-chefes de estado -, atendendo à iniciativa do ex-primeiro ministro britânico Gordon Brown, assinou documento pedindo ações imediatas e conjuntas do G-20.

    Enquanto isso, os eflúvios sombrios do Palácio do Alvorada se alvoroçam em tentar desmoralizar o infectologista David Uip, que coordena o Centro de Contingência do governo de São Paulo no combate ao covid-19 .  Uip contraiu o coronavírus e teria se recuperado, inclusive, com a cloroquina. Bolsonaro, que apresentou esse medicamento ao País, numa das suas  deprimentes manifestações no portão do Palácio do Alvorada, vendeu a cloroquina como a cura para o coronavírus. Mentiu! Usada desde 1930 contra a malária, a cloroquina, de fato, tem sido  medicada para combater o coronavírus com algum sucesso desde as primeiras manifestações do vírus tipo corona em 2002 na China. E vem sendo utilizada no Brasil desde o início da pandemia covid-19. Mas ainda não é seguro e nem pode ser recomendada de forma generalizada. E essa prudência tem sido observada no mundo inteiro. No Brasil, ela virou um problema político-ideológico (sic).  

    Estranho País o Brasil! Na Europa, nos Estados Unidos – apesar do Trump - e na Ásia há  a clara compreensão de que a pandemia tem que observar um entendimento internacional no seu combate e ser conduzida como um assunto de estado, e não de governo, em cada País do mundo. No bananal, o coronavírus é um assunto de Bolsonaro e seus delirantes contra a ciência e a razão. Da medicação à forma de isolamento, tudo é politizado, tudo tem um interesse eleitoral sórdido e inconfessável. O encontro, o desejável encontro, da política, da ciência, do saber, da medicina e da cidadania para nos salvarmos a todos, ainda que na estrada do sofrimento, essa possiblidade inexiste.

     

     


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