- Cadastre-se
- Equipe
- Contato Brasil, 22 de dezembro de 2024 10:20:01
“O capital é importante, o capital é essencial e, como nós não temos capital, temos que nos curvar diante dos países que o têm, quando a experiência de todos os países que enriqueceram nos demonstra que o capital se faz em casa....Era uma norma de todos os países que se desenvolveram. Era o que tinha se observado na Inglaterra, na França, na Dinamarca, na Suécia e na própria Suíça. E nos EUA, também, os capitais estrangeiros não tiveram o relevo que doutrinadores brasileiros alienados gostariam de lhe dar.”
A oportuna observação de Barbosa Lima Sobrinho – figura luminar da vida pública brasileira – foi pronunciada durante mesa redonda, realizada na Fundação Getúlio Vargas, sobre o pensamento de Alberto Torres – outro brasileiro fanal –, no ano de 1978, quando os governos militares sonorizavam o cygnus olor. Alberto Torres, dentre outras contribuições para a reflexão política brasileira, elaborou um conceito muito particular de um governo forte, democrático e nacionalista para o Brasil.
Independente das ideias, polêmicas mas instigantes, de Alberto Torres sublinhamos a observação de Barbosa Lima, dita num momento de grande transição no Brasil, bastante similar, no que se refere às urgências da macroeconomia, aos desafios que vivemos hoje. Naquela época tínhamos inflação, desemprego, pobreza, corrupção, governo autoritário, fragilidade institucional, dívida externa e disfunção do Estado. Hoje, temos desemprego, inflação relativamente baixa, juros ainda estratosféricos, disfunção do Estado, corrupção, desordem institucional, propensão autoritária e uma inaudita tensão ideológica. Nos dois momentos, um ponto constrangedoramente comum e ofensivo: a renda é escandalosamente concentrada e os brasileiros são pobres, rudes, desassistidos e com pouca ou nenhuma perspectiva.
Reduzido a um mero exportador de commodity – nossa precária indústria foi destruída depois do Plano Real e dos juros estratosféricos impostos ao país – o Brasil vive hoje o desmonte da previdência pública, a implosão dos serviços públicos, a demonização do servidor público, precarização do trabalho e a expansão escravocrata da concentração de renda. Enquanto isso, o governo Bolsonaro, seguindo o modelo dos governos anteriores, vai abrir mão de R$ 331,18 bilhões de arrecadação em 2020 em renúncias tributárias. Valor ligeiramente menor do que os R$ 354 bilhões não arrecadados em 2017. Enquanto isso, avançamos na escala das nações mais injustas do mundo: 1/3 da renda do País fica nas mãos de 1% da população.
Como na crise do liberalismo da segunda metade do século XIX, de Alberto Torres, e a crise do final da década de 1970, de Barbosa Lima Sobrinha, o Brasil deste início de século e milênio apresenta-se como um país rico transbordando de miseráveis.