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  • Contato Brasil, 25 de abril de 2024 21:11:10
Jorge Henrique Cartaxo
  • 21/11/2019 20h38

    O fascismo identitário

    O “fascismo identitário” e a “politização do ressentimento” – observações preciosas do antropólogo Antônio Risério – há muito atormentam e tornam insalubre o precário debate político no Brasil

    A gravura é do Rugendas - Navio Negreiro.( Foto: imagem do colunista)

    “É desonroso para esta Casa que um deputado federal não tenha tolerância, não respeite a história dos negros no Brasil, não perceba a gravidade do genocídio praticado nessa sociedade contra a juventude negra e pobre da periferia do Brasil”, a frase, tão pomposa quanto pouco honesta, foi dita pelo deputado Orlando Silva (PCdoB/SP) diante da atitude - extravagante,  boçal e autoritária – do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) que, praticamente, destruiu uma exposição na Câmara dos Deputados em homenagem ao dia da consciência negra. Incomodado com um dos trabalhos expostos na ocasião, do cartunista Carlos Latuff,  que mostrava um policial empunhando uma arma fumegante diante de um rapaz negro, algemado,  estendido no chão, vestido com uma camisa onde se lia: “o genocídio da população negra”, o Coronel perdeu o decoro. A obra de Latuff  vai ao encontro da fala de Silva: pomposa e desonesta!

    A algaravia que se seguiu à cena, agressiva e deselegante, na exposição, chama a atenção para mais uma das deformidades  da pátria mãe gentil. O “fascismo identitário” e a “politização do ressentimento” – observações preciosas do antropólogo Antônio Risério – há muito atormentam e tornam insalubre  o precário debate político no Brasil.  De fato, os “identitários” – antigas minorias -, desprezam a histórica injustiça social, e não exclusivamente racial, brasileira, onde há destaque, sim, para a escravidão, seus males e consequências, e passam a demonizar todos aqueles que negam-se a   reconhecer-lhes o status de vítimas eternas e preferenciais da exclusão e da opressão. Como os autoproclamados “esquerdistas”, os identitários acham-se proprietários da virtude, da verdade e, certamente, do iluminado caminho divino.

    Numa entreviste recente no Blog do Luciano Trigo – Pop & Arte – Antônio Risério traz observações que merecem destaque na oportuna polêmica.  “ Os racialistas neonegros idealizam ao extremo a tal da “Mama África” e fecham os olhos  para um aspecto essencial da vida de Ginga, a rainha Matamba, que não só tinha escravas pretas, como as usava como poltronas...os nagôs e os orixás só foram para a Bahia porque foram derrotados em guerra contra os daomeanos, sendo, então, escravizados e vendidos para o Brasil. Reis do Daomé chegaram, inclusive, a enviar embaixadas à Bahia, na tentativa de assegurar para si o monopólio da venda de escravos para os baianos. As classes dominantes negras não foram vítimas, foram sócias dos brancos no comércio transatlântico de carne humana”.

    A observação de Risério não minimiza e nem relativiza o crime da escravidão. Mas procura colocar, nos devidos termos, o debate e a reflexão que devemos ter quanto ao tema. E não a desonestidade  identitaria.  

                                                     

                                                  


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