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Jorge Henrique Cartaxo
  • 31/10/2019 14h48

    A síndrome de Sophia

    “ A informação não derruba o presidente, mas atrapalha”, disse Mourão

    General Hamilton Mourão( Foto: site Gazeta do Povo)

    “Um dia Muito Especial”- 1977 - é um clássico do cinema gauche italiano do pós guerra, dirigido pelo refinado Ettore Scola. Trata-se do encontro sedutor-amoroso entre Antonietta ( Sophia Loren ) e Gabrielle ( Marcello Mastroianni ). Ela, esposa de um fascista que havia ido com os filhos para o desfile militar, no dia 6 de maio de 1938, celebrar o encontro entre Hitler e Mussolini.

    Ele, um radialista gay, perseguido pelos fascistas e vizinho de Antonietta. Surpreendida por Gabrielle -numa cena poética no denso varal de roupas brancas, tão comum no terraço dos prédios das classes medias de Roma da primeira metade do século XX -,  Antonietta, como quem tenta escapulir do encanto fugidio da sedução de Gabrielle, corre para o seu quarto. Diante de um espelho fosco lava, suavemente, o rosto  onde jazia  exuberância, encanto e beleza. Num átimo de uma vaidade feminina há muito guardada, sorrindo para si, umedece as pontas dos dedos nos lábios generosos e vai dando forma à pequena mecha de cabelos que repousa ao lado da orelha, adornando a alegria que rejuvenescia no frescor da conquista inesperada e melódica de Gabrielle. Enquanto o mal faz rufar seus coturnos nas avenidas de Roma, Gabrielle e Antonietta bailam uma espécie de eterno amor fugaz!

     O filme é um encanto, repleto de imagens tocantes, mas nenhuma tão delicada quanto a de Antonietta, diante do espelho, dando forma, com as pontas dos dedos, à sutil mecha de cabelo. Uma vaidade feminina que só pode e deve ser feminina!  Para meu próprio espanto,  me lembro dessa cena todas as vezes que vejo o general Mourão, diante de microfones e câmeras de televisão, professorando tolices. Mesmo com aquele seu cabelo escovinha, um jeitão de jogador de peteca das areias de Ipanema, com aquele linguajar precário de malando, Mourão esbanja tortuosa vaidade feminina.

     Na terça-feira, quando explodiu a notícia do porteiro do condomínio da residência de Jair Bolsonaro no Rio, numa tentativa jornalística nada honesta de envolver o presidente no assassinato da vereadora Marielle, Mourão, em síndrome torta de Sofhia, nos oferece a seguinte pérola, ao vivo e a cores: “ a informação não derruba o presidente,  mas atrapalha”. Bolsonaro e seus filhos nos brindam, dia sim outro também, com toda sorte de despautério. De todo modo,  é possível que seu governo realize coisas importantes – não necessariamente justas – para a recuperação econômica do País. Mas nada apaga sua postura e linguagem de asno presidencial.  Nem por isso, o Mourão precisa empurra-lo da escada.

                                                              


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