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Jorge Henrique Cartaxo
  • 24/10/2019 17h09

    Ventanias e tulipas

    Certamente, a paz, a perfeição e a justiça como a entendemos e desejamos não estão exatamente ao nosso alcance

    Irises - Van Gogh( foto: arquivo do colunista)

    “Em 2012, aproximadamente 56 milhões de pessoas morreram no mundo inteiro; 620 mil morreram em razão da violência  humana ( guerras mataram 120 mil pessoas, o crime matou outras 500 mil). Em contrapartida, 800 mil cometeram suicídio e 1,5 mil morreram de diabetes. O açúcar é mais perigoso do que a pólvora”.  A observação, com certa dose de ironia, de Yuval Noah Harari  autor dos grandes bet-selles  “Sapiens e Homo Deus”, ilustra bem os contornos de um novo mundo que se nos apresenta a cada dia. A abundância e a paz são crescentes!                                                          

    As palavras de Harari ocorreram-me depois de acompanhar os violentos conflitos no Chile, as diatribes bolsonaristas, as tensões na Bolívia, o caos eminente na Argentina, a degradação sem limites no México, a justa interrogação com as consequências do Brexit na Inglaterra, a decadência de Paris,  a revolta basca em Barcelona, o pânico e o pavor nas feições curdas, o sofrimento que margeia a próspera Hong Kong,  com as ameaças de Pequim, as temeridades eslavas que brotam das mãos más e do olhar turvo de Putin e a deformidade estética e ética de Trump, além de outras malignidades que pululam nos quatro cantos do planeta sob os passos assustadores das anunciadas mudanças climáticas.                                               

    O mundo de Harari, pelo menos no que se refere aos tradicionais males das nossas civilizações – fome, guerras e epidemias–, conquistará a iluminada e iluminista Paz Perpétua de Kant, sob a batuta de um extraordinário, fantástico e quase mágico domínio tecnológico. Curiosamente, este mesmo mundo parece não ir ao encontro dos desconfortos políticos, econômicos e sociais que sublinhamos no início deste texto. Quando lembramos que Frederico II da Prússia, no século XVIII,  gastava 80% do seu orçamento para manter um devastador exército de 250  mil homens  e que hoje as guerras estão praticamente sendo descartadas enquanto as soluções para  conflitos regionais e nacionais se resolvem nas grandes mesas da diplomacia política e comercial, percebemos que há uma crescente compreensão dos chamado gestores do grande mundo de que a violência, qualquer violência, deverá ser sempre o últimos dos últimos recursos na organização política e  social dos homens e das nações.

    Certamente, a paz, a perfeição e a justiça como a entendemos e desejamos não estão exatamente ao nosso alcance. Mas a tradição jacobina e a violência stalinista/leninista, assim como os horrores nazifascistas, acreditamos,  não terão exatamente um  lugar neste mundo novo. É verdade, urge outro pacto entre as nações, há que se restabelecer virtudes e valores,  refazer-se a crença no amanhã. Para tanto, há que se ter mais ideias e palavras do que baionetas e canhões.                                                        


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