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- Contato Brasil, 22 de dezembro de 2024 15:54:30
“Em 2012, aproximadamente 56 milhões de pessoas morreram no mundo inteiro; 620 mil morreram em razão da violência humana ( guerras mataram 120 mil pessoas, o crime matou outras 500 mil). Em contrapartida, 800 mil cometeram suicídio e 1,5 mil morreram de diabetes. O açúcar é mais perigoso do que a pólvora”. A observação, com certa dose de ironia, de Yuval Noah Harari autor dos grandes bet-selles “Sapiens e Homo Deus”, ilustra bem os contornos de um novo mundo que se nos apresenta a cada dia. A abundância e a paz são crescentes!
As palavras de Harari ocorreram-me depois de acompanhar os violentos conflitos no Chile, as diatribes bolsonaristas, as tensões na Bolívia, o caos eminente na Argentina, a degradação sem limites no México, a justa interrogação com as consequências do Brexit na Inglaterra, a decadência de Paris, a revolta basca em Barcelona, o pânico e o pavor nas feições curdas, o sofrimento que margeia a próspera Hong Kong, com as ameaças de Pequim, as temeridades eslavas que brotam das mãos más e do olhar turvo de Putin e a deformidade estética e ética de Trump, além de outras malignidades que pululam nos quatro cantos do planeta sob os passos assustadores das anunciadas mudanças climáticas.
O mundo de Harari, pelo menos no que se refere aos tradicionais males das nossas civilizações – fome, guerras e epidemias–, conquistará a iluminada e iluminista Paz Perpétua de Kant, sob a batuta de um extraordinário, fantástico e quase mágico domínio tecnológico. Curiosamente, este mesmo mundo parece não ir ao encontro dos desconfortos políticos, econômicos e sociais que sublinhamos no início deste texto. Quando lembramos que Frederico II da Prússia, no século XVIII, gastava 80% do seu orçamento para manter um devastador exército de 250 mil homens e que hoje as guerras estão praticamente sendo descartadas enquanto as soluções para conflitos regionais e nacionais se resolvem nas grandes mesas da diplomacia política e comercial, percebemos que há uma crescente compreensão dos chamado gestores do grande mundo de que a violência, qualquer violência, deverá ser sempre o últimos dos últimos recursos na organização política e social dos homens e das nações.
Certamente, a paz, a perfeição e a justiça como a entendemos e desejamos não estão exatamente ao nosso alcance. Mas a tradição jacobina e a violência stalinista/leninista, assim como os horrores nazifascistas, acreditamos, não terão exatamente um lugar neste mundo novo. É verdade, urge outro pacto entre as nações, há que se restabelecer virtudes e valores, refazer-se a crença no amanhã. Para tanto, há que se ter mais ideias e palavras do que baionetas e canhões.