- Cadastre-se
- Equipe
- Contato Brasil, 22 de dezembro de 2024 20:34:02
A corte de Bolsonaro gosta de nos fazer lembrar a Messinas (Sicília ) de Leonato quando da visita de Dom Pedro de Aragão que retornava de um grande embate vitorioso com seu irmão bastardo, o vulgar Dom João. Com humor e picardia, Shakespeare, em uma de suas comédias mais hilariantes – Muito Barulho por Nada -, relata a trama em torno do casal de namorados Cláudio e Hero - filha de Leonato. Apaixonados e preparando-se para o casamento resolvem, com o apoio de Dom Pedro, pregar uma peça em Beatriz e Benedito. Entre simulações, futricas, inverdades e disfarces promovem um grande alvoroço no Palácio de Leonato, confundindo e tencionando os dois casais apaixonados. Ao final, tudo termina em núpcias, músicas, risos e vinhos.
Certamente o Brasil não é a Messinas do século XVI apresentada, em cenas de humor, pelo bardo inglês. Antes, uma Nação dilacerada moral e fisicamente. Mas não perde a graça e menos ainda a molecagem. Nos últimos seis meses, quase todos os dias, o presidente, seus filhos e parte de seus ministros agem como se estivessem num palco elisabetano, numa grande e tumultuada tragicomédia. Enquanto o maestro neoliberal, Paulo Guedes, preside um conjunto de grandes reformas no estado e na economia, o presidente parece se perder em diatribes fora do lugar. Indomáveis, os filhos, cada um a seu modo, fragilizam o Palácio do Planalto em cenas e atitudes espantosas. O senador se movimenta para esconder-se de uma investigação, o deputado federal quer ser o embaixador do Brasil nos EUA e o inquieto vereador se diverte derrubando ministros.
Como se fosse pouco, essa corte alquebrada ainda nos oferece ministros que se deixam filmar imitando Gene Kelly na cena clássica de Cantando na Chuva, um outro que vive num embate cotidiano contra o meio ambiente e um terceiro que assumiu revelando seu diálogo com Cristo numa goiabeira. E, confirmando que o Brasil não é mesmo para principiantes – como já havia nos advertido o amoroso Tom Jobim – ,os inimigos da moralidade pública conseguiram, pelo menos por enquanto, encantonar o ministro Sérgio Moro que, até ontem, era o paradigma da ética pública. Coroando os últimos atos, Dias Toffoli, presidente do STF, escudado pela face culpada do senador Flavio Bolsonaro, filho do presidente da República, suspende todas as investigações em curso no País que tenham como base informações de atividades financeiras sem a devida autorização judicial.
No próximo carnaval, anotem, tudo vai virar samba, suor e cerveja, numa emulação canhestra de Messinas.